Espaço de atividade literária pública e memória cronista

sábado, 18 de junho de 2016

Feira e Feiras Felgueirenses: Felgueiras vai ter feira maior uma vez por mês



Lê-se nalguns órgãos de comunicação por estes dias, a meio de Junho, que «Felgueiras vai ter, a partir de 2017, uma vez por mês, a título experimental, uma feira ao sábado, para além dos mercados semanais, à segunda-feira, que se mantêm.

Segundo o vereador Francisco Cunha, a experiência vai prolongar-se por um ano para se perceber "a apetência da população". Se os resultados forem bons, prometeu, a realização de uma feira ao sábado, passará a ter caráter definitivo.
O mercado de Felgueiras, realizado sempre à segunda-feira, registou noutras épocas uma maior procura. Nas últimas décadas, a presença de clientes tem decaído, algo que o vereador atribui ao facto da maioria da população estar ocupada nos seus empregos. Por isso, acrescentou, talvez ao fim de semana haja maior disponibilidade para as pessoas acorrerem ao mercado.
Acresce que, prosseguiu, as recentes obras de remodelação realizadas no mercado municipal, proporcionam melhores condições para quem vende e para quem compra, justificando-se por isso tentar potenciar o espaço. Francisco Cunha diz que os feirantes já foram contactados e fizeram chegar as suas expectativas, mostrando-se agradados com a realização de uma feira, uma vez por mês, ao fim de semana. Se a experiência correr de acordo com as expetativas da Câmara, assinalou, os feirantes que habitualmente vendem os seus produtos em Felgueiras poderão ter possibilidade de aumentar os seus rendimentos, o que dinamizará o setor agrícola no concelho…»

= Foto da feira no mercado de Felgueiras, conforme consta no desdobrável turístico de Felgueiras publicado pela CMF em 1983. 

Pensando na perspetiva de munícipe, uma razão forte da feira de Felgueiras não ter grande importância pode ser pelo facto de só se realizar de manhã (sabendo-se que as manhãs são mais ocupadas e depois do almoço há mais disponibilidade) e nunca se ter estendido pela tarde adiante, como as da Lixa, Lousada, Paredes, Amarante, etc. - as mais conhecidas da região e deveras frequentadas por muita gente. Basta ver como a feira da Longra, que na versão nova é algo recente e apenas acontece sensivelmente de 2 em 2 meses, como decorre todo o dia costuma ter apreciável frequência. Assim sendo, para melhor dinamizar a feira de Felgueiras, além dessa feira mensal aos sábados (que deve resultar), porque não experimentar estendê-la pela tarde das segundas-feiras, também?!

Este tema das feiras em Felgueiras, na ótica memorial, já foi historiado em crónicas do autor destas notas, nomeadamente nalguns artigos no Semanário de Felgueiras. Conforme se junta de seguida:

Feiras no Concelho de Felgueiras

Outrora, quando a subsistência de muita gente dependia do escoamento ao que era fabricado nos campos, representava primazia no modo de vida das gentes destas terras Felgueirenses, também, a venda dos produtos cultivados, através das feiras que ia havendo por estes sítios.

Decorreram séculos enquanto esse processo de mercado desempenhou lugar primordial na economia da região, tendo significado remedeio e progresso nesses tempos, minorando problemas de uma existência algo estacionária em zona de agricultura intensiva e propriedade dividida. Em tempo enquadrado num ambiente de paisagem influenciada às suas causas e marcas, como de um quotidiano rural afeiçoado ao regime de arrendamento de quintas, por meio de pagamento aos senhorios de uma parte dos géneros do próprio amanho da terra, através de carros de pão, envasilhas de vinho, alqueires de feijões, cabos de cebolas, arrobas de batatas, peças de linho. Dependendo muito da terra, que era esfarelada entre dedos no apuro, da disposição e quantidade das carreiras de uveiras e sucedâneos bardos de vinho. E acordos de honra por palavra dada, sem papel assinado. Então em ronceiras carroças com galinhas, coelhos e outros animais de criação doméstica e “carreadas” de cereais, frutos, sementeiras e hortaliças em carros de bois cujo carrego detinha efeito nas grandes rodas a chiar o peso das cibanas sobre ressequidos eixos, lá eram transportados os produtos para as feiras, às carradas, em vista à substituição dos princípios da autossubsistência de trocas e procuras às próprias casas nas comunidades algo isoladas, pela economia de mercado da venda pública propícia a oferta antes da entrega, regateando-se preço acertado. Bem como com bois e vitelos a medrar, levados até esses largos da confluência mercantil puxados por sogas, açougues presos a jugos ou cangas, conforme os casos de juntas ou unidades, sob ação de aguilhões.

= Antigo Largo da Corredoura, da vila de Felgueiras, que servia de praça central e era onde funcionava o original campo da feira…

Conforme a origem da palavra, feira (do latim “feria”) tinha a ver com um dia livre, relacionando-se na evolução linguística também com a palavra féria, de descanso. Entre os Romanos era um «dia em que se prescrevia a cessação do trabalho, para que as pessoas estivessem livres para feirar…»

Criadas as feiras ao tempo de D. Afonso III, em Portugal, desde os longínquos reinados que tal estabelecimento resultou com a instituição desses postos de transações, concentrando num local o fruto do trabalho do povo e colocando à disposição a distribuição de bens necessários, ao mesmo tempo que tornava lucrativa a tarefa agrária. Ao passo que conjuntamente havia possibilidade de negócios de gado, arrematado pelos lavradores para ajuda nos trabalhos agrícolas. Enquanto à mão apareciam panos e outras necessidades ao trajar e “cacos”, “limpezas” e demais precisos do lar, enfim havendo de tudo um pouco à frente do nariz, a tentar os olhos.

= Trajes antigos de feira – Coreografia etnográfica – conf. Publicação do Rancho Folclórico de Varziela. =

Nesta área sobreviveram velhas tradições em primitivas feições nalgumas feiras onde o povo folgava. Do que há notícia, entre outras possíveis, sabe-se que ao tempo da Honra do Unhão, existiu primacialmente uma feira denominada de Santo Eusébio, instalada sensivelmente em campo situado no monte desse nome, sobranceiro ao lugar da Sargaça, naquela freguesia condal. Sucedendo com a anexação, mais tarde, ao então Julgado de Felgueiras, que para compensar a perda da independência foi mantido no Unhão privilégio de feira franca, de três em três semanas, «não admitindo realização de outras nos arredores da Comarca de Guimarães...». Feira que no tempo do posterior concelho do Unhão se realizava já uma vez por semana. Entretanto, em Pombeiro, na era administrativa de seu Couto, outra ali decorria à sombra do desenvolvimento monástico. Mais vagas notícias dão conta, na tradição popular, de ter havido ainda uma feira temporária em Jugueiros, no tempo em que esta freguesia Felgueirense pertenceu a Fafe. Terá tido lugar desde longínqua época a Feira de Margaride, que, segundo parece haver referência, aludida algures, tal «mercado já existia no ano de 1590, então realizado no Souto da Corredoura, às portas da vila». De distantes tempos vem igualmente a da Lixa, que pelo menos se fazia (segundo o Dr. Eduardo Freitas na sua monografia) «já em começo do século passado» (XIX); havendo quem refira até uma data, de 1726, em que já existiria (segundo referência surgida no Cortejo Histórico de Felgueiras de 2004); a qual, conforme Carlos Coelho escreveu, «realizava-se num largo, da Povoação da Lixa, pertencente à casa do Terreiro, com autorização dos seus proprietários». Também em Várzea havia uma, «na fertilíssima planície atravessada pela (antiga) estrada e onde se faz(ia) uma boa feira mensal», quando (conforme descrição do “Minho Pitoresco”), por desaparecimento da antiga, na transição concelhia a vila-sede «não tinha feira nem mercados»... tendo essa de Várzea sido criada a meio do século XVIII, realizando-se sempre em dia próprio de cada mês, ao tempo conhecida por Feira dos Despiques e que se manteve com o século XIX bem adiantado (sendo ainda referida no “Minho Pitoresco”, em 1886), até que a Câmara a mudou para a sede do concelho. De permeio houve criação simultânea de duas, em Barrosas e na Longra, no tempo do concelho de Barrosas, tendo esses feirões do Largo do Bom Jesus e do Sambeito da Longra também tido supressão já no decurso da integração total do concelho de Felgueiras. Tendo sido até a da Longra parceira importante de outras periódicas que se realizavam pela região, e que por norma eram anunciadas com antecedência na imprensa, como há notícia do jornal “Vida Nova” (do Padre Albino Magalhães), ainda em 1912, fazendo então cotejo da feira da Longra à da Aparecida (do concelho de Lousada), por exemplo…


Assentado o pó de tais transformações, passaram os homens a irem com os tradicionais varapaus e as mulheres de taleigos à cabeça em demanda da vila de Felgueiras, para onde fora transferida a de Várzea, enquanto junto à capela de São Jorge se passou a efetuar apenas uma anual, pelos 23 de Abril – transformada em novas características que lhe granjearam fama até meio do século XX por inserir no seu programa a Feira da Linhaça, que englobava mercado ao ar livre de todos os utensílios da lavoura, além da grande feira de gado bovino que costumava ter grande afluência e de que restou até à atualidade a tradicional feira de trocas de gado.

Então, desde os tempos do largo da Corredoura, em Margaride, «onde se realiza(va)m as feiras (entretanto surgidas com o novo concelho) mensais de 14 e 29 (hoje em dia semanais e de apenas meio dia), onde (se via) o lavrador, que desmonta(va) à porta da tenda, prendendo a égua em uma argola cravada na parede ou num tronco da carrada de lenha que espera(va) ao sol o machado do rachador...(e) pousa(va)m os saltimbancos...» - conforme era descrito em 1886 no “Minho Pitoresco”, entrecortado por parênteses de atualização - foram alguns os poisos da feira de gado e mercado de Felgueiras, até ao que conhecemos agora do Mercado Municipal e zona adjacente.

Da mesma Feira de Margaride, a crónica social “Ilustracção Portugueza”, em página dedicada à Vila de Felgueiras, no seu número de 2 de Junho de 1919, fixou algumas fotografias, da «feira de gado cavalar», em frente ao então “Hotel Belém” (a qual «perto d’ele se realisa e que costuma ser muito concorrida») como, extensivamente, das «barracas de fatos feitos e roupa branca no largo próximo à igreja de Margaride».

= Panorâmicas de 1919...

A evolução do tempo alterou toda aquela antiga importância, aqui registada assim superficialmente.

Entretanto, em meados das entradas da década de cinquenta, houve também anual festa com Feiras Francas no lugar do Assento, na freguesia de Jugueiros. Incluía essa festividade, criada pela Câmara, feiras de gado abrangentes a três dias consecutivos no último fim-de-semana de Agosto, a abarcar concursos de gado bovino, suíno, lanígero, cavalar, muar e caprino, rematando no último dia com a Feira dos Caçadores, a qual englobava ainda concurso de criadores de furões. Nos tempos mais recentes a mesma ficou como Feira de Gado da Festa de Santa Marta e Senhora da Paz, inserida em tal festa anual do Largo do Assento, em Jugueiros.

= Postal Ilustrado da coleção editada pelo Rancho Folclórico de Varziela =

Manteve-se contudo, segundo tradição de longas décadas, na sede concelhia, a centenária e anual Feira de Maio, em Felgueiras – desde 1901 com lugar no primeiro domingo e seguinte segunda-feira desse mês. «Importante feira» que, no referido exemplar da “Ilustração Portugueza” de 1919, se realizava «no largo fronteiro» (ao antigo edifício da Câmara Municipal, depois casa do Tribunal). Certame esse de enraizado cunho expositor de gado, através de concursos pecuários de criadores agrícolas e competição alargada a corridas de cavalos, além de outros números de lazer, que antigamente contavam com um desfile etnográfico chamado Cortejo das Lavradeiras; tal como, em diversos anos, incluíram mesmo provas populares de ciclismo. Realizavam-se essas festas de ano então ainda no centro da vila, ocupando área do campo da feira e depois outros espaços laterais das ruas, no mesmo centro. Presentemente o seu cunho tradicional tem-se diluído nas constantes mudanças de locais das realizações, indo para espaços vagos ou em obras e depois de estes ocupados para outros, sucessivamente durante anos, até que começou a ser colocada a Feira de Maio dentro da área aberta atrás da Cooperativa Agrícola, e ultimamente na urbanização das Portas da Cidade, enquanto o espaço entre os seus arruamentos tem estado vago – restando mais como parque de divertimentos, por ora... esperando-se que ainda lhe seja destinado espaço próprio, um dia, para o efeito.

Entretanto, a partir da década dos anos noventas começou em Felgueiras a ser realizada uma feira anual de reconstituição histórica, umas vezes no alto do Monte de Santa Quitéria e outras no centro da cidade de Felgueiras, a que foi dado nome de Feira das Tradições, contando com a colaboração e presença de representações dos ranchos folclóricos do concelho e alguns grupos convidados de outras zonas, com fins de recriação cultural, sendo os produtos angariados e vendidos pelos próprios agrupamentos.

= Feira da Longra na primeira reedição, em 2004!

Já em pleno começo do século XXI foi retomada a tradição da Feira da Longra, inicialmente em versão anual, como aconteceu em 2004 e 2005. Depois, dentro das suas características próprias, a nova Feira da Longra, na Vila da Longra (inicialmente com lugar no espaço de lazer junto à sede da Junta e terreiro de recreio da escola, mais arruamento lateral à Casa do Povo), seguidamente foi realizada em quatro edições anuais a partir de 2006 e em 2007 teve definição oficial através de aprovação municipal. Havendo mais tarde passado a realizar-se na Zona Industrial da Longra (no parque da antiga Metalúrgica da Longra), sensivelmente de dois em dois meses, conforme marcação da parte organizativa. 

= Sequência de imagens da feira da Longra: A antiga, no baldio da mata do Sambeito, perto ao Largo da Longra; e a nova, na genuína versão inicial, junto à sede da Junta e escola. =

Enquanto isso, em Jugueiros de há anos a esta parte recomeçou a anteriormente referida feira de gado anual, embora mais como festividade de divertimento. E a partir de 2012, por despacho municipal, passou a haver no centro da cidade de Felgueiras uma Feira das Antiguidades e Velharias, com lugar na primeiro domingo de cada mês, no jardim da Praça da República.

No presente, em suma, mantêm-se apenas no concelho, como feiras regulares, a semanal Feira de Felgueiras, às segundas-feiras de manhã, mais a congénere da Lixa às terças. E, em nova versão, de cerca de seis realizações durante o ano, a referida Feira Tradicional da Longra, como anualmente a Feira dos 23 de Abril em Várzea, e na Lixa a Feira das Oitavas nas segundas-feiras de Páscoa; tal qual nos primeiros Domingo e Segunda-feira de Setembro a Festa das Vitórias da Lixa, mais sua tradicional Feira das Uvas e das Cebolas. Às quais se acrescenta, nas circunstâncias conhecidas, a referida anual de Jugueiros, de cunho festivo; como também uma vez por ano a Feira das Tradições na sede do concelho, de revivalismo histórico, mais a mensal das Antiguidades e Velharias, aos domingos primeiros de cada mês. E então, a partir de 2017, a mensal maior de Felgueiras num sábado de cada mês.

Armando Pinto

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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Dia da Pátria


Tremula a bandeira portuguesa à vista das imagens do Dia de Portugal, no 10 de Junho, assinalando data destinada a vincar o sentimento da nação, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, como é oficialmente chamado. Sendo dia celebrado a 10 de junho a marcar a memória de Luís Vaz de Camões, na parte mais popularizada, além de ser também dedicado ao Santo Anjo da Guarda de Portugal, protetor do país, comemorado com feriado nacional e celebrado como Dia da Raça: a raça portuguesa ou os portugueses. Exaltando assim o Peito Ilustre Lusitano, como cantou em verso o épico Camões n’Os Lusíadas e por inerência exultando com tudo o que respeita e representa a Pátria, a grei nacional.

Nesse sentido, havendo portugueses espalhados pelos quatro cantos do planisfério mundial, o dia de Portugal tem a ver com as comunidades lusas alastradas pelo mundo fora e por quanto representa essa diáspora, normalmente revista no simbolismo imaginário de Camões e D. Afonso Henriques, Castelo de Guimarães, Torre dos Clérigos, Universidade de Coimbra, Padrão dos Descobrimentos e sobretudo do Galo de Barcelos.

No Decreto de atualização à instituição da efeméride, lê-se: "O dia 10 de Junho, Dia de Camões e das Comunidades, melhor do que nenhum outro, reúne o simbolismo necessário à representação do Dia de Portugal. Nele se aglutinam em harmoniosa síntese a Nação Portuguesa, as comunidades lusitanas espalhadas pelo Mundo e a emblemática figura do épico genial."

Ora, associando ao significado da comemoração deste dia algo personalizado de fundo patriótico, porque cada um tem também sua ligação à terra mátria e temos nossos heróis, olhamos para um objeto que nos faz lembrar algo de especial afeição – sendo uma máquina de costura antiga que em pequeno (o autor destas linhas) via minha mãe a usar em consertos domésticos, enquanto em família convivíamos sorrindo nesses e outros instantes da vida, em nossa casa e na terra nossa.

Algo que temos connosco, nosso.

Armando Pinto

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Artigo no SF - Na passagem do 26º aniversário do Semanário de Felgueiras


Está de parabéns o Semanário de Felgueiras, na passagem de 26 anos de vida de suas páginas impressas; e extensivamente o concelho de Felgueiras por ter este semanário regularmente diante dos olhos e sentidos felgueirenses.

Como colaborador antigo (mesmo o mais antigo, presentemente) do jornal Semanário de Felgueiras, periódico felgueirense que completa 26 anos de edições e continua sua anuidade de publicação regular, foi de apologia a essa durabilidade, do mesmo órgão informativo, o artigo que saiu escrito pelo autor, em torno e a propósito da efeméride, em cunho pessoal –  do qual para aqui transpomos imagem da respetiva coluna e colocamos o texto por extenso:


Semanário adulto de incremento felgueirense

Um destes dias, estando a apaparicar um dos meus netos, veio-me à ideia uma lembrança passada precisamente nos meus primeiros tempos, dando comigo a voar no pensamento até então, quando, segundo me veio à retina da memória, também eu fui assim afagado nos braços de minha mãe e agarrado a meu pai. Não sendo em vão que temos réstias da infância em nós. Como todos gostamos dessa fase e há momentos da vida em que nos sentimos assim, revivendo tempos em que estivesse sol ou chuva tudo era límpido e nos parecia ao alcance do olhar.

Está agora a passar a época do chamado dia da criança, pondo mais ênfase de atenções nos pequeninos, ao prestar-se à realização de ações motivadoras para momentos alegres aos bandos infantis, das crianças que dão asas à sua satisfação pura. Saltitando, como água corredia a irradiar claridade, na simplicidade reluzente.

Foi exatamente numa dessas ocasiões, há já uns anos bons, que um dia surgiu um jornal que veio dar mais realce ao noticiário escrito sobre assuntos de Felgueiras. Tal o caso do aparecimento do Semanário de Felgueiras há 26 anos, sendo periódico que trouxe uma nova abordagem de temas felgueirenses, desde que apareceu ao público a 1 de junho de 1990. Então como criança esbelta e com sonhos no sorriso das imagens, como em tudo o que é pequenino tem graça. Para depois ir crescendo, e, como andorinha, em bando chilreante, vir anunciar a primavera com empenho social e cultural. 

Está agora o Semanário de Felgueiras já adulto, crescidote que se foi tornando e entrado em idade de desenvolvimento. Continuando a ter nas páginas impressas aspirações de desenvolvimento para Felgueiras.

Tem pois Felgueiras um Semanário adulto, à vista de crescimento para a comunidade interessada em quanto a Felgueiras diz respeito. Enquanto no concelho o interesse geral clama por progresso mais célere e que não haja recuos. Felgueiras tem marcado passos atrás em certos aspetos, desde as incompreensíveis uniões que desvirtuaram as freguesias históricas e desapertaram laços tradicionais, até algum escurecimento do ambiente, desde que por poupança, em tempo de crise monetária e social, foram desligados postes de iluminação em locais necessitados de visibilidade, mau grado continuarem outros acesos em sítios quase ermos. Como mero exemplo, entre marcas que podem ficar. Sendo assim já tempo de ser repostas essas e outras situações, de modo que haja melhor desenvolvimento concelhio. 

Está aí a primavera em seu luzimento. Fazendo reviver com alegria possível melhores dias, na transição do inverno tristonho para um espírito mais risonho, transformado em sopro de vitalidade. Estado que bem pode ter a ver também com o que se vai escrevendo e lendo, na vontade de que Felgueiras cresça e sempre compareça, cumprindo ideal comunitário. Qual desejo de que o concelho de Felgueiras deve realizar-se e engrandecer-se no que sempre uniu a alma felgariana e fortaleceu o ânimo felgueirense.

ARMANDO PINTO

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sábado, 28 de maio de 2016

Recordações Paroquiais


Em fase de comunhões, como é o período atual da realização das anuais cerimónias das comunhões primeira e solene, além de outras de agora, vem a talhe recordar algumas antigas atividades que ocorriam em Rande em tempos idos, nas participações paroquiais em que o autor destas linhas esteve incluído nos idílicos tempos da infância.


Assim, recuando coisa de cerca de meio século, a passar, como se diz, relembre-se algumas funções através de pagelas, os chamados “santinhos”, da 1ª Comunhão e Comunhão Solene, de 1960 e 1964, respetivamente, mais registos de inscrição, folhas de cânticos e hinos, e uma braçadeira, de inclusão na antiga Liga Eucarística dos Homens de Rande.


Curiosidades e preciosidades pessoais, de respeito à identificação comunitária.

Armando Pinto

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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Lembrete sobre um Felgueirense: O Historiador e Jornalista Manuel Sampaio


Na senda moral que uma terra vale muito pelo seu património e dotação humana, sobretudo no aspeto de seus naturais, Felgueiras tem tido filhos que muito honram essa ligação, embora nem sempre com o devido reconhecimento institucional e mesmo da memória coletiva. Estamos a lembrar-nos de um ilustre estudioso do passado local, o sr. Manuel Sampaio. A propósito dum escrito de um felgueirense que sobre o mesmo personagem teceu algumas linhas memoriais, na rede social do facebook; e aí pelos comentários surgidos, além de algum silêncio da maioria dos leitores, se nota que esse felgueirense de tempos idos não é do conhecimento geral conterrâneo na atualidade.

Ora, escreveu o Dr. Mendes Gomes, felgueirense radicado em Berlim, o seguinte –  sob título SR. SAMPAIO DA MILINHA “HORA”… 

Vivia com a mãe, no lugar da Forca.
Teria mais de sessenta anos.
Aquela figura alta. Serena.
Sempre com um guarda-sol
que era também guarda-chuva.
Via-o ir e voltar da Vila.
A pé.
Diziam que fazia o jornal de Felgueiras.
Das poucas vezes que entrei na casa dele,
Vi que havia muitos livros.
A senhora Emilinha deu-me um, à socapa.
Que pena o ter perdido.
Usava sempre uma gabardine clara.
E também uns óculos.
Rosto arredondado e simpático.
Nunca falou comigo.
Eu era um miúdo de tantos que por ali andavam na brincadeira.
Meus pais gostavam dele
como toda a gente...
== Joaquim Luís Mendes Gomes

A propósito, recordamos uma crónica que em tempos foi escrita e publicada no jornal Semanário de Felgueiras (em seu nº de 23 de Dezembro de 2005), dedicada à memória de tal felgueirense digno de apreço, como autor de alguns estudos monográficos de história local antiga.

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Manuel Sampaio – Herculano da História Felgueirense

… Ao virar do meio da primeira década  do século XXI, não se pode deixar de refletir mais um lembrete, nestas anotações, a propósito de efeméride  que passou oficialmente despercebida – a comemoração  de cinquenta anos (nota do autor: quando foi escrito este artigo, em 2005) sobre o desaparecimento de um grande historiador de génese felgueirense, que foi Manuel Sampaio.

Estando-se em maré de evocações, elege-se desta feita como tema um vulto da historiografia concelhia, que foi Manuel Sampaio. Porque o nome em apreço merece efectivamente não permanecer em olvido, nem cair no esquecimento, devendo-se ao personagem referido pelo menos uma alusão gratificante, algo da mais elementar justiça – à falta de reconhecimento que se verificou na sua terra e concelho, nas sucessivas efemérides em que houve oportunidade de o lembrar, a última das quais na passagem de cinquenta anos da sua morte, em 2005 (conforme escrevemos, à época, no “Semanário de Felgueiras”, recorde-se).

Foi a 19 de Setembro de 1955 que Manuel Sampaio faleceu, em Varziela, Felgueiras, onde nascera 64 anos antes. Passaram assim todos estes anos, já decorridos, desde o seu desaparecimento físico, que não da memória que fez perdurável, atenta a sua obra aos olhos e sentidos capazes de valorizar quem da lei da morte se soube libertar.

Nascido a 14 de Agosto de 1891, em Varziela-Felgueiras, Manuel Leite Coelho de Sampaio tornou-se um estudioso do passado histórico de Felgueiras, ao correr de seu percurso de homem de letras, havendo desempenhado importante papel no jornalismo Felgueirense. Interessado pelo conhecimento das raízes locais e preservação da memória colectiva, este antigo publicista, Manuel Sampaio, faz parte da História que subsidiou. Passou, desde o nascimento à sua vivência, pelos séculos XIX e XX, recordando os ancestrais, até que perdura ainda no preito possível deste século XXI. Pode parecer exagero, mas pela época em que desenvolveu sua lavra historiográfica, Manuel Sampaio foi um pioneiro na fixação cronológica Felgueirense. Houvera anteriormente quem se interessasse pela matéria, como o Dr. Ribeiro de Magalhães que, no primeiro jornal concelhio de que há notícia, “O Felgueirense”, deixou em finais do séc. XIX já alguns apontamentos, numa linha de afinidade cultural seguida com o Dr. Eduardo Freitas, da Lixa (autor de “Felgerias Rubeas”, a primeira monografia escrita de Felgueiras, no entanto só publicada postumamente, muitos anos depois). Contudo foi Sampaio quem desenvolveu o estudo do passado local com relativa amplitude, possível ao tempo, chegando a abarcar uma maior variedade, embora incidindo naturalmente mais no que conhecia melhor. Assim sendo, tal como Alexandre Herculano se pode considerar Impulsionador da História de Portugal, porque não vislumbrar figurativamente, por analogia, M. Sampaio qual Herculano de Felgueiras?!

Manuel Sampaio foi durante muitos anos director d’ O Jornal de Felgueiras e colaborou noutros órgãos da imprensa regional, além de publicações temáticas. Por entre essas funções, dedicou-se com entusiasmo a recolhas documentais sobre História, Heráldica e Etnografia, sob cujos ramos publicou diversos trabalhos, ao longo de séries de artigos com esses temas. Ficaram então impressos, sobretudo no Jornal de Felgueiras, também de saudosa memória, interessantes ensaios jornalísticos de Manuel Sampaio, como «O Românico no concelho de Felgueiras», «O Senhorio de Felgueiras e Vieira», a «Heráldica no concelho de Felgueiras», «Homens Ilustres de Felgueiras», «O Mosteiro de Pombeiro», «O Pelourinho do Concelho de Felgueiras», «Brasão de Armas», «Notas Históricas e Genealógicas», «Solares de Portugal», etc. Embora estes estudos hajam saído por fases, primeiro na imprensa local e só depois tenham alguns desses títulos sido editados em livros, não foram contudo muito divulgados aquando da compilação e ficaram como manuais deveras desconhecidos do público interessado, devido à sua reduzida tiragem e inerente distribuição. Por consequência, resultou disso que tais exemplares são hoje autênticas raridades. Desenvolveu ainda Manuel Sampaio os tratos de sua afeição, sobre assuntos de realce da região do Douro e particularmente de Felgueiras, de entre os diferentes órgãos de informação escrita em que colaborou, também na revista da Junta da Província do Douro-Litoral, de cuja Comissão de História e Etnografia foi membro auxiliar.

Apesar de tal folha de serviço comunitário, parece estar esquecido... Quando escrevemos esta lembrança, aludimos que, já que não houve de quem de direito qualquer iniciativa ou realização de acto alusivo, na ocasião propícia ou à posteriori, dentro do ano da passagem de 50 anos do seu passamento, e deixada passar então tal oportunidade de o evocar publicamente, algo ainda podia e deve ser feito. Olhando ao seu contributo para a elevação da Mística Felgariana, se ainda houver gratidão e apreço pelo que é dignificante, por parte das representações que se deveriam orgulhar da sua naturalidade, Manuel Leite Coelho de Sampaio bem merece ser homenageado na Toponímia local e concelhia donde nasceu e viveu.


Armando Pinto

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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Nicolau Coelho: Um personagem associado como felgueirense


Entre assuntos dirigidos a evocar casos relacionados com Felgueiras, como de quando em vez calha a preceito trazer à memória coletiva que possa interessar, vem a talhe desta feita lembrar a figura de Nicolau Coelho, navegador da era dos Descobrimentos - enquanto personagem da história pátria que em Felgueiras é associado como felgueirense, sendo referido como oriundo duma família do concelho de Felgueiras.


Nicolau Coelho está perpetuado através dum monumento e por um mural de pinturas alusivas na cidade de Felgueiras, sede do concelho.


Ora, sem dados concretos sobre tal possibilidade, visto a ideia ter sido originada por um poema antigo de um Bispo de Malaca, D. João Ribeiro Gaio (1578/1601), e contando que os historiadores nacionais mais versados na História de Portugal não lhe atribuem qualquer indicação da sua naturalidade, deixamos de lado o tema, para lembrar apenas o mesmo personagem da grei, o descobridor Nicolau Coelho, como personagem referido por estes lados de Felgueiras.


Assim sendo, anexamos algumas passagens com ele ligadas, desde uma página duma brochura da Câmara Municipal de Felgueiras, passando por sua nota biográfica inserta no Dicionário de Personalidades da História de Portugal, volume XIII, Coordenação de José Hermano Saraiva, edição Quidnovi, de 2004; e, por fim, juntando imagens de excertos da Carta de Pero Vaz de Caminha, do Achamento do Brasil.



Armando Pinto

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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Artigo no SF, sobre pingos, em tempo de pingantes.


Caiem agora pingas de chuva, em plena primavera do calendário deste ano; e, na colaboração normalmente prestada ao Semanário de Felgueiras, pela escrita do autor destas linhas, escorrem também impressos pingos de memória histórica… na edição desta sexta-feira primeira de Maio:


Pingos de Memória

Pode conceber-se o valor duma terra pela fasquia a que se eleva a saliência humana. Numa perspetiva de identidade, em relação enobrecida perante existência de pessoas e factos marcantes.

Nesse sentido causa sentimento contrário quando o panorama enfraquece. Como se nota desde há anos nesta região do interior do Vale do Sousa, perante o facto de alguns concelhos estarem a distanciar-se dos vizinhos que tomaram a dianteira, com Felgueiras a ficar aquém do que devia ser e estar. A pontos que tem corrido nalgumas difusões noticiosas um estudo conclusivo sobre Felgueiras estar a perder importância na região agora chamada de Tâmega e Sousa. Sem ser novidade, tal o que se sabe e sente, com noção que urge alterar a situação e algo deve ser feito. Qual o acaso da reforma administrativa ter sido levada a efeito a régua e esquadro por quem decidiu nos gabinetes e assim ter começado a perca de identidade na maioria do território concelhio, no que vem ao caso. Tal como se vai vendo no tema do tribunal, etc. e tal. Numa corrente que vem fazendo emergir o caso de presentemente mais parecer não haver por cá, dentre os diversos quadrantes políticos, quem consiga ter influência nos meios que fazem mover as respetivas forças motrizes. Como em tempos houve e merece ser sempre lembrado. Conforme ocorreu na existência do Dr. Costa Guimarães, um felgueirense ilustre que, cá longe, desde a sua terra, conseguiu que em Lisboa fosse Felgueiras defendida, em tempo de reorganização judicial do país, coincidindo com parte administrativa dos concelhos, a meio do século XIX. Tendo então o Dr. José Joaquim Teixeira da Costa Guimarães, com intercessão de amigos e conhecidos, como está devidamente historiado, conseguido fazer valer os interesses felgueirenses, contribuindo sobremaneira para a criação da Comarca de Felgueiras, decretada em 1855, quando então Felgueiras ficou como concelho íntegro, ao tempo.

Não será necessário puxar agora borlas biográficas para enaltecer mais a importância que esse Dr. Costa Guimarães teve para Felgueiras, quão deve continuar a merecer na memória coletiva felgueirense. Bastando dizer que não era qualquer um, com direito a ficar para sempre no santuário de carisma concelhio, havendo ele ficado sepultado no interior da igreja de Santa Quitéria, honrado pelo seu valor comunitário quando faleceu em 1866. Tal como foi dos primeiros vultos da história felgueirense com nome dado a uma rua da cabeça do concelho.

Ora, estando Maio a refletir suas tonalidades ambientais, vem a talhe relembrar este célebre personagem da história das terras e gentes de Felgueiras, em pleno mês de seu aniversário natalício, nascido que foi em Margaride aos vinte e três dias do mês de maio de 1807. No auge também do mês da festa de Santa Quitéria, em cujo templo jaz seu corpo, com autorização eclesiástica superior (com licença dada pelo Arcebispo de Braga, arquidiocese a que a região pertencia à época), quando já não era permitido haver enterramentos dentro das igrejas, desde o decreto monárquico de 1835 que levou ao surgimento dos cemitérios paroquiais. Circunstância deveras sintomática de seu valor e sobretudo do apreço com que era reconhecido.

O tempo passou. Santa Quitéria foi degolada nesta região por conceito de fé, onde, monte abaixo, rolou sua cabeça até jorrar uma fonte miraculosa. Ao longe, séculos depois, o patriota Febo Moniz puxou as barbas em desespero diante dum crucifixo, como protesto pela conduta pública que levou à perda da independência nacional. Há sempre uns pingos de história que farão memória. 

ARMANDO PINTO

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