Espaço de atividade literária pública e memória cronista

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Lembrete sobre um Felgueirense: O Historiador e Jornalista Manuel Sampaio


Na senda moral que uma terra vale muito pelo seu património e dotação humana, sobretudo no aspeto de seus naturais, Felgueiras tem tido filhos que muito honram essa ligação, embora nem sempre com o devido reconhecimento institucional e mesmo da memória coletiva. Estamos a lembrar-nos de um ilustre estudioso do passado local, o sr. Manuel Sampaio. A propósito dum escrito de um felgueirense que sobre o mesmo personagem teceu algumas linhas memoriais, na rede social do facebook; e aí pelos comentários surgidos, além de algum silêncio da maioria dos leitores, se nota que esse felgueirense de tempos idos não é do conhecimento geral conterrâneo na atualidade.

Ora, escreveu o Dr. Mendes Gomes, felgueirense radicado em Berlim, o seguinte –  sob título SR. SAMPAIO DA MILINHA “HORA”… 

Vivia com a mãe, no lugar da Forca.
Teria mais de sessenta anos.
Aquela figura alta. Serena.
Sempre com um guarda-sol
que era também guarda-chuva.
Via-o ir e voltar da Vila.
A pé.
Diziam que fazia o jornal de Felgueiras.
Das poucas vezes que entrei na casa dele,
Vi que havia muitos livros.
A senhora Emilinha deu-me um, à socapa.
Que pena o ter perdido.
Usava sempre uma gabardine clara.
E também uns óculos.
Rosto arredondado e simpático.
Nunca falou comigo.
Eu era um miúdo de tantos que por ali andavam na brincadeira.
Meus pais gostavam dele
como toda a gente...
== Joaquim Luís Mendes Gomes

A propósito, recordamos uma crónica que em tempos foi escrita e publicada no jornal Semanário de Felgueiras (em seu nº de 23 de Dezembro de 2005), dedicada à memória de tal felgueirense digno de apreço, como autor de alguns estudos monográficos de história local antiga.

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Manuel Sampaio – Herculano da História Felgueirense

… Ao virar do meio da primeira década  do século XXI, não se pode deixar de refletir mais um lembrete, nestas anotações, a propósito de efeméride  que passou oficialmente despercebida – a comemoração  de cinquenta anos (nota do autor: quando foi escrito este artigo, em 2005) sobre o desaparecimento de um grande historiador de génese felgueirense, que foi Manuel Sampaio.

Estando-se em maré de evocações, elege-se desta feita como tema um vulto da historiografia concelhia, que foi Manuel Sampaio. Porque o nome em apreço merece efectivamente não permanecer em olvido, nem cair no esquecimento, devendo-se ao personagem referido pelo menos uma alusão gratificante, algo da mais elementar justiça – à falta de reconhecimento que se verificou na sua terra e concelho, nas sucessivas efemérides em que houve oportunidade de o lembrar, a última das quais na passagem de cinquenta anos da sua morte, em 2005 (conforme escrevemos, à época, no “Semanário de Felgueiras”, recorde-se).

Foi a 19 de Setembro de 1955 que Manuel Sampaio faleceu, em Varziela, Felgueiras, onde nascera 64 anos antes. Passaram assim todos estes anos, já decorridos, desde o seu desaparecimento físico, que não da memória que fez perdurável, atenta a sua obra aos olhos e sentidos capazes de valorizar quem da lei da morte se soube libertar.

Nascido a 14 de Agosto de 1891, em Varziela-Felgueiras, Manuel Leite Coelho de Sampaio tornou-se um estudioso do passado histórico de Felgueiras, ao correr de seu percurso de homem de letras, havendo desempenhado importante papel no jornalismo Felgueirense. Interessado pelo conhecimento das raízes locais e preservação da memória colectiva, este antigo publicista, Manuel Sampaio, faz parte da História que subsidiou. Passou, desde o nascimento à sua vivência, pelos séculos XIX e XX, recordando os ancestrais, até que perdura ainda no preito possível deste século XXI. Pode parecer exagero, mas pela época em que desenvolveu sua lavra historiográfica, Manuel Sampaio foi um pioneiro na fixação cronológica Felgueirense. Houvera anteriormente quem se interessasse pela matéria, como o Dr. Ribeiro de Magalhães que, no primeiro jornal concelhio de que há notícia, “O Felgueirense”, deixou em finais do séc. XIX já alguns apontamentos, numa linha de afinidade cultural seguida com o Dr. Eduardo Freitas, da Lixa (autor de “Felgerias Rubeas”, a primeira monografia escrita de Felgueiras, no entanto só publicada postumamente, muitos anos depois). Contudo foi Sampaio quem desenvolveu o estudo do passado local com relativa amplitude, possível ao tempo, chegando a abarcar uma maior variedade, embora incidindo naturalmente mais no que conhecia melhor. Assim sendo, tal como Alexandre Herculano se pode considerar Impulsionador da História de Portugal, porque não vislumbrar figurativamente, por analogia, M. Sampaio qual Herculano de Felgueiras?!

Manuel Sampaio foi durante muitos anos director d’ O Jornal de Felgueiras e colaborou noutros órgãos da imprensa regional, além de publicações temáticas. Por entre essas funções, dedicou-se com entusiasmo a recolhas documentais sobre História, Heráldica e Etnografia, sob cujos ramos publicou diversos trabalhos, ao longo de séries de artigos com esses temas. Ficaram então impressos, sobretudo no Jornal de Felgueiras, também de saudosa memória, interessantes ensaios jornalísticos de Manuel Sampaio, como «O Românico no concelho de Felgueiras», «O Senhorio de Felgueiras e Vieira», a «Heráldica no concelho de Felgueiras», «Homens Ilustres de Felgueiras», «O Mosteiro de Pombeiro», «O Pelourinho do Concelho de Felgueiras», «Brasão de Armas», «Notas Históricas e Genealógicas», «Solares de Portugal», etc. Embora estes estudos hajam saído por fases, primeiro na imprensa local e só depois tenham alguns desses títulos sido editados em livros, não foram contudo muito divulgados aquando da compilação e ficaram como manuais deveras desconhecidos do público interessado, devido à sua reduzida tiragem e inerente distribuição. Por consequência, resultou disso que tais exemplares são hoje autênticas raridades. Desenvolveu ainda Manuel Sampaio os tratos de sua afeição, sobre assuntos de realce da região do Douro e particularmente de Felgueiras, de entre os diferentes órgãos de informação escrita em que colaborou, também na revista da Junta da Província do Douro-Litoral, de cuja Comissão de História e Etnografia foi membro auxiliar.

Apesar de tal folha de serviço comunitário, parece estar esquecido... Quando escrevemos esta lembrança, aludimos que, já que não houve de quem de direito qualquer iniciativa ou realização de acto alusivo, na ocasião propícia ou à posteriori, dentro do ano da passagem de 50 anos do seu passamento, e deixada passar então tal oportunidade de o evocar publicamente, algo ainda podia e deve ser feito. Olhando ao seu contributo para a elevação da Mística Felgariana, se ainda houver gratidão e apreço pelo que é dignificante, por parte das representações que se deveriam orgulhar da sua naturalidade, Manuel Leite Coelho de Sampaio bem merece ser homenageado na Toponímia local e concelhia donde nasceu e viveu.


Armando Pinto

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quinta-feira, 19 de maio de 2016

Nicolau Coelho: Um personagem associado como felgueirense


Entre assuntos dirigidos a evocar casos relacionados com Felgueiras, como de quando em vez calha a preceito trazer à memória coletiva que possa interessar, vem a talhe desta feita lembrar a figura de Nicolau Coelho, navegador da era dos Descobrimentos - enquanto personagem da história pátria que em Felgueiras é associado como felgueirense, sendo referido como oriundo duma família do concelho de Felgueiras.


Nicolau Coelho está perpetuado através dum monumento e por um mural de pinturas alusivas na cidade de Felgueiras, sede do concelho.


Ora, sem dados concretos sobre tal possibilidade, visto a ideia ter sido originada por um poema antigo de um Bispo de Malaca, D. João Ribeiro Gaio (1578/1601), e contando que os historiadores nacionais mais versados na História de Portugal não lhe atribuem qualquer indicação da sua naturalidade, deixamos de lado o tema, para lembrar apenas o mesmo personagem da grei, o descobridor Nicolau Coelho, como personagem referido por estes lados de Felgueiras.


Assim sendo, anexamos algumas passagens com ele ligadas, desde uma página duma brochura da Câmara Municipal de Felgueiras, passando por sua nota biográfica inserta no Dicionário de Personalidades da História de Portugal, volume XIII, Coordenação de José Hermano Saraiva, edição Quidnovi, de 2004; e, por fim, juntando imagens de excertos da Carta de Pero Vaz de Caminha, do Achamento do Brasil.



Armando Pinto

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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Artigo no SF, sobre pingos, em tempo de pingantes.


Caiem agora pingas de chuva, em plena primavera do calendário deste ano; e, na colaboração normalmente prestada ao Semanário de Felgueiras, pela escrita do autor destas linhas, escorrem também impressos pingos de memória histórica… na edição desta sexta-feira primeira de Maio:


Pingos de Memória

Pode conceber-se o valor duma terra pela fasquia a que se eleva a saliência humana. Numa perspetiva de identidade, em relação enobrecida perante existência de pessoas e factos marcantes.

Nesse sentido causa sentimento contrário quando o panorama enfraquece. Como se nota desde há anos nesta região do interior do Vale do Sousa, perante o facto de alguns concelhos estarem a distanciar-se dos vizinhos que tomaram a dianteira, com Felgueiras a ficar aquém do que devia ser e estar. A pontos que tem corrido nalgumas difusões noticiosas um estudo conclusivo sobre Felgueiras estar a perder importância na região agora chamada de Tâmega e Sousa. Sem ser novidade, tal o que se sabe e sente, com noção que urge alterar a situação e algo deve ser feito. Qual o acaso da reforma administrativa ter sido levada a efeito a régua e esquadro por quem decidiu nos gabinetes e assim ter começado a perca de identidade na maioria do território concelhio, no que vem ao caso. Tal como se vai vendo no tema do tribunal, etc. e tal. Numa corrente que vem fazendo emergir o caso de presentemente mais parecer não haver por cá, dentre os diversos quadrantes políticos, quem consiga ter influência nos meios que fazem mover as respetivas forças motrizes. Como em tempos houve e merece ser sempre lembrado. Conforme ocorreu na existência do Dr. Costa Guimarães, um felgueirense ilustre que, cá longe, desde a sua terra, conseguiu que em Lisboa fosse Felgueiras defendida, em tempo de reorganização judicial do país, coincidindo com parte administrativa dos concelhos, a meio do século XIX. Tendo então o Dr. José Joaquim Teixeira da Costa Guimarães, com intercessão de amigos e conhecidos, como está devidamente historiado, conseguido fazer valer os interesses felgueirenses, contribuindo sobremaneira para a criação da Comarca de Felgueiras, decretada em 1855, quando então Felgueiras ficou como concelho íntegro, ao tempo.

Não será necessário puxar agora borlas biográficas para enaltecer mais a importância que esse Dr. Costa Guimarães teve para Felgueiras, quão deve continuar a merecer na memória coletiva felgueirense. Bastando dizer que não era qualquer um, com direito a ficar para sempre no santuário de carisma concelhio, havendo ele ficado sepultado no interior da igreja de Santa Quitéria, honrado pelo seu valor comunitário quando faleceu em 1866. Tal como foi dos primeiros vultos da história felgueirense com nome dado a uma rua da cabeça do concelho.

Ora, estando Maio a refletir suas tonalidades ambientais, vem a talhe relembrar este célebre personagem da história das terras e gentes de Felgueiras, em pleno mês de seu aniversário natalício, nascido que foi em Margaride aos vinte e três dias do mês de maio de 1807. No auge também do mês da festa de Santa Quitéria, em cujo templo jaz seu corpo, com autorização eclesiástica superior (com licença dada pelo Arcebispo de Braga, arquidiocese a que a região pertencia à época), quando já não era permitido haver enterramentos dentro das igrejas, desde o decreto monárquico de 1835 que levou ao surgimento dos cemitérios paroquiais. Circunstância deveras sintomática de seu valor e sobretudo do apreço com que era reconhecido.

O tempo passou. Santa Quitéria foi degolada nesta região por conceito de fé, onde, monte abaixo, rolou sua cabeça até jorrar uma fonte miraculosa. Ao longe, séculos depois, o patriota Febo Moniz puxou as barbas em desespero diante dum crucifixo, como protesto pela conduta pública que levou à perda da independência nacional. Há sempre uns pingos de história que farão memória. 

ARMANDO PINTO

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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Recordações de acontecimentos especiais – em artigo no SF


Na pertinência da grande manifestação de religiosidade que foi a recente vinda ao concelho de Felgueiras do andor com a “Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima”, vem a propósito recordar anteriores acontecimentos marcantes na memória felgueirense, sendo assim esse o mote do artigo desta semana na colaboração do autor destas linhas no Semanário Felgueiras:


Visita da imagem Peregrina de Fátima

O concelho de Felgueiras acolheu ao início desta semana a presença da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, na sua passagem pelo território felgueirense em visita à Diocese do Porto. Acontecimento incluído no âmbito do programa de preparação para o centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima.

A imagem peregrina de Fátima, idêntica à original (da Capelinha das Aparições) e também talhada pelo mesmo escultor da primeira, José Thedim, foi feita segundo indicações da Irmã Lúcia, vidente das aparições, em 1947. A partir de então percorreu, por diversas vezes, o mundo inteiro, levando consigo a mensagem do que representa Fátima. Depois de mais de meio século de peregrinação, em que a Imagem visitou a maioria dos países dos vários continentes, alguns deles por diversas vezes, a Reitoria do Santuário de Fátima entendeu que ela não deveria sair mais, a não ser por alguma circunstância extraordinária. Em maio de 2000, foi colocada na exposição Fátima Luz e Paz, onde foi venerada por dezenas de milhares de visitantes. Passados três anos, mais precisamente no dia 8 de dezembro de 2003, solenidade da Imaculada Conceição, a Imagem foi entronizada na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, tendo sido colocada numa coluna junto do altar-mor. Entretanto, a fim de dar resposta aos imensos pedidos provenientes de todo o mundo, foram feitas várias réplicas da primeira Imagem Peregrina. Até que a primeira voltou a sair no dia 12 de maio de 2014, primeiramente para uma visita às comunidades religiosas contemplativas existentes em Portugal, que decorreu até ao dia 2 de fevereiro de 2015, e depois a todas as dioceses portuguesas, de 13 de maio de 2015 a 13 de maio de 2016. Em cujo itinerário passou esta semana por Felgueiras, no périplo pela diocese portucalense, tendo como objetivo um maior envolvimento na celebração do Centenário das Aparições de Fátima, a comemorar no próximo ano.

Não foi agora, desta vez durante pouco mais de um dia, a primeira vinda dessa imagem a terras de Felgueiras. Assim como outras ocorrências de cariz religioso se deram entretanto.


= Na estada da imagem de Nossa Senhora de Fátima em Felgueiras por ocasião da grande peregrinação da imagem peregrina em 1969, estando na Guarda de Honra o Chefe Antero, dos Bombeiros de Felgueiras (foto de arquivo pessoal de seu filho, sr. Armando Silva). =

Faz o caso recordar anteriores vezes que Felgueiras teve oportunidade de ter acontecimentos destes. Como aconteceu em 1969 e então com mais tempo e amplitude, quando a mesma imagem andou pelas paróquias todas e em cada uma mereceu honras de celebrações próprias culminadas com procissões paroquiais, em ambientes decorados a preceito, metendo arcos floridos à maneira antiga portuguesa, conjuntamente com visitas pastorais dum bispo da diocese, na mesma ocasião. 

= Arco tradicional florido, de recepção à visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, na paróquia de S. Tiago de Rande - Fevereiro de 1969 =

Sobre aquela visita contemporânea também, há imagem da procissão paroquial correspondente na paróquia de S. João de Sernande, da qual se mostra panorâmica visual, vendo-se o andor em ombros de soldados, jovens ao tempo a prestar serviço militar e que eram da mesma freguesia, mais aspetos figurativos de Nossa Senhora e dos pastorinhos de Fátima.

= Procissão de Sernande, a passar sobre tapete de flores à maneira tradicional - Fevereiro de 1969 =

Assim como antes ainda, corria a primavera de 1961, por ocasião da peregrinação das relíquias do Santo Condestável por terras de Portugal, houve grande impacto na receção às relíquias do então Beato Nuno Alvares Pereira, em campanha de sensibilização nacional, qual jornadas de culto português ao Beato Nuno de Santa Maria.

Essa passagem das relíquias de Nun’ Álvares foi um acontecimento que ficou na memória, tal o aparato que ao tempo gerou. Tanto que a passagem de seus restos, em viatura oficial, teve alas de crianças de escolas e catequese a ladearem as estradas por todo o trajeto dentro do concelho de Felgueiras, bem como representantes de instituições e agrupamentos, a honrar a ilustre figura desse português herói e santo. Tendo sido construídos tapetes de flores, com todo o povo afadigado na sua execução na noite antecedente, e que só deixaram ser depois pisado na passagem das relíquias veneradas, sob entoação dum hino litúrgico próprio, que o Padre Moreira das Neves compôs para a mesma Peregrinação Nacional das Relíquias.

ARMANDO PINTO

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sexta-feira, 15 de abril de 2016

“Coisas” da região nortenha – em artigo no Semanário de Felgueiras


Em mais um artigo do habitual teor regional e nacional que vai saindo da pena do autor destas linhas, também, no decurso da colaboração que se tem mantido nas páginas da imprensa concelhia, tem desta vez lugar no jornal Semanário de Felgueiras o desenvolvimento dum tema dentro de características felgueirenses e mais horizontes. Como se pode ler na edição impressa do SF desta semana. De cujo espaço respigamos imagem da respetiva coluna, para registo neste local de partilha, extensivamente com o original texto correspondente.

Coisas Nossas

Camões, o épico nacional, cantou em verso a língua portuguesa como pátria ditosa. João de Araújo Correia, grande escritor duriense, referiu-se ao sentimento de nação circunscrito à sua “pátria pequena”, quanto a retalhos regionais. Porque não repararmos também em nossa pátria pequenina, a nossa terra, afinal, dentro da região em que mais nos revemos? E assim, então, observarmos à luz da apreciação algo que nos caracteriza e identifica como naturais deste torrão do Douro Litoral, na abrangência de Entre Douro e Minho, como “coisas” nossas?!

A língua pátria é efetivamente um elo de ligação entre as diversas parcelas portuguesas e até países que oficialmente ficaram com o mesmo idioma. Mas dentro da própria linguagem de origem lusíada, derivada do latim entretanto, há diversas variantes na fala, ou pelo menos em formas de expressão. Sabendo-se, como é o caso mais mediático, que o português falado no Brasil tem um sotaque muito acentuado e o de países africanos algo diferente. Bem como no próprio país de origem, em Portugal se conhecem alguns dialetos e dentro da língua normal existem falares regionais, de pronúncias sui generis. Sendo uma característica de cada qual a pronunciação de sua região, sem haver um protótipo melhor ou pior, mas todos com suas propriedades. Inclusive tendo seus expressionismos, como no Brasil (conforme dizem) tem disso. E tem Lisboa seu riu, sem rir, ao mesmo tempo que noutras zonas há um rio. Tanto como, em sentido figurado, Fernando Pessoa quis descrever como há um rio de cada terra, através de seu heterónimo Alberto Caeiro, ao poetar que do rio de sua aldeia se vai para o mundo todo.

Assim sendo, não há que ter qualquer sentimento menor perante as características de uma região, seja qual for. Pelo contrário será de identificação genuína tudo que faz ligação telúrica, relativamente à terra, na corrente de energia que corre nessa junção. Havendo sempre qualquer coisa a explicar ou defender a maneira mais expressiva. Tal a forma nortenha de trocar os vês pelos bês, com afinidade da ligação histórico-ambiental da ampla região do antigo Condado Portucalense até à Galiza, nos vínculos ainda existentes com o falar do “pobo galego”. Desde cá abaixo do Douro até lá arriba do Minho. Tal como outras espécies de corruptelas derivam de aspetos relacionados com permanência de expressões latinas, tal o facto de nesta região sousã, e em mais diversas áreas do norte do país, ser ainda dito, no falar popular, cum em vez de com, por exemplo. O que explica alguns casos. Não sendo assim muito de modo rústico, como se possa pensar, alguns arcaísmos, na fixação de formações antigas.

Ora, sendo que os costumes tradicionais têm alguma relação com características da região de tais usos, e lembrando a quadra pascal recente e sempre viva na sensibilidade regional, pelo menos, vem a propósito lembrar um exemplo relacionado: O Compasso, a Visita Pascal que como representação da comunidade paroquial vai saudar as famílias às próprias casas pela Páscoa, levando a cruz a presidir a esse rito cristão, é precisamente assim denominado, não por andar em ritmo de compasso, embora devendo naturalmente manter a regularidade, mas por se tratar duma andança com destino de visita, da cruz como símbolo (a com-passo de Visita Pascal), sendo isso uma forma abreviada da expressão latina “Crux cum passo Domine” (significando A Cruz em que o Senhor padeceu) – conforme refere o beneditino Frei Geraldo num seu estudo. Aparecendo aí a forma latina "cum passo", remetendo à maneira antiga popular.

Como lembra Carlos Tê num dos poemas que deram canções, falar o dialeto da terra é conhecer o corpo pelos sinais, ou seja, ser íntimamente familiar duma região. E não há como ser duma terra, ter uma região que seja nossa. Sentindo-nos assim felizes, diante de quem não tenha raízes.

ARMANDO PINTO


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sexta-feira, 8 de abril de 2016

Escrituração oficial do património material da Paróquia de S. Tiago de Rande


Está concretizada a escrituração das propriedades paroquiais de Rande, como havia sido previamente anunciado no Boletim Paroquial de S. Tiago de Rande estar então a decorrer o respetivo processo.

Foi pois feita a escritura notarial dos bens físicos, como é o conjunto de propriedades materiais, pertencentes à paróquia de S. Tiago de Rande. Ficando assim oficializada a situação, em virtude de ao longo de séculos nunca ter sido efetuada essa oficialização a nível civil – embora no plano canónico isso tenha sido redigido, passado a escrito na conformidade da época, por escritura eclesiástica datada de 1743 sob nome de Tombo de São Tiago de Rande (“Thombo de Sam Thiago de Rande”), conforme está registado no livro Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras. Na sequência da edificação da igreja em 1730 e desaparecimento de antigos documentos perdidos com a anterior igreja, de forma que a escritura “atombada” em 1743 era “novamente feita”. Havendo posteriormente muitas alterações, com as vendas dos bens das igrejas decretadas em 1834 (no tempo do ministro monárquico Aguiar, o popular mata-frades) e mais tarde continuadas no início da implantação da República, nos anos imediatos a 1910 (a partir da Lei de Seperação da Igreja do Estado, em 1911), até que alguns bens foram recuperados através de doações e aquisições, como também está referenciado no mesmo livro.

Desta atualização agora efetuada, por escritura do passado mês de Março, regista-se a ocorrência, de que há público conhecimento por publicação na edição desta semana do jornal Semanário de Felgueiras.  De cuja publicação aqui se coloca coluna com o texto extraído do respetivo documento.

Armando Pinto


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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Vistas por outros tempos…


Como quem revê tempos de infância próprios ou dos tempos dos pais ou avós, sentindo qualquer coisa como quem repara em como a vida era e não foi em vão, havendo quem recorde – eis aqui algumas imagens, de tantas que estão incluídas no livro Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras (publicado em 1997), bem como no da “Elevação da Longra a Vila”, de 2003, mais algumas publicações da mesma autoria. Através das quais, como meros exemplos salteados, de tempos diversos, quer mais antigos e algo mais recentes (e sem preocupação de seleção ou agrupamentos), se pode ficar com algumas vistas de outros tempos, de eras antigas desta terra e gentes da região da Longra e até da própria paróquiia de Rande.



Armando Pinto

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