quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Uma “folha caída” em memória do poeta A. Garibaldi


A 20 de Agosto de 1992 morreu o poeta A. Garibaldi, um culto literato que um dia aportara a Felgueiras, onde se radicou. 

Conheci-o pessoalmente primeiro em 1984 aquando da entrega de galardões do III Concurso de Jogos Florais de Felgueiras, do qual ele fora um dos elementos do júri que atribuiu uma Menção Honrosa a uma croniqueta que enviei, então, ainda em maneira quase juvenil, em 1983 (tendo por esse tempo recebido dele um dos seus livrinhos, das brochuras que costumava publicar). Mais tarde, uns dois anos sensivelmente, estive em casa dele a acompanhar o sr. Coronel Piloto-Aviador Francisco Sarmento Pimentel, que ia em nome de seu irmão General João Sarmento Pimentel, por via do revolucionário republicano e antigo Capitão de Cavalaria do exército ser amigo do poeta (estavam ambos os irmãos Pimentéis radicados no Brasil, para onde foram no tempo do Estado Novo e ficaram como exilados políticos… Vindo nessa ocasião o mais novo a Portugal, em férias, já depois do 25 de Abril). Como mais tarde ainda, em 1994, estive com esse sr. Artur Garibaldi na homenagem prestada ao aviador Francisco na casa da Torre, da família Sarmento Pimentel e onde nasceu em Rande o heroico aviador da primeira viagem aérea de Portugal à Índia. Não tendo posteriormente podido ter mais oportunidades devido a entre ele e o proprietário/diretor do jornal Notícias de Felgueiras haver ao tempo desaguisados que sem eu querer se alastraram a quem escrevia nesse jornal…



Sendo esse poeta uma referência da literatura existente em Felgueiras nessas eras de antanho, pouco se conhecia dele, em virtude de publicar mais para fora, quanto aos pequenos livros que editava, assim como o seu Jornal Gazeta de Felgueiras era mais voltado à ideologia política e, como tal, assinado maioritariamente por seus correligionários.  

Contudo, com o interesse que tudo merece, fui conhecendo posteriormente algo mais. Assim, de sua saliência promocional tida em vida, há a registar de A. Garibaldi, como foi a assinatura literária do poeta Artur Garibaldi Pereira Braga, nascido a 27 de Novembro de 1913, em Braga, e falecido a 20 de agosto de 1992, em Felgueiras:

- Natural de Braga, onde nascera em 1913, e, poetando cedo, ali publicou em 1931 seu primeiro livro, intitulado “Nada”. Fixou-se desde 1952 em Felgueiras, terra que habitou durante muitos anos, até falecer, em 1992. Foi diretor d’ O Jornal de Felgueiras de 1963 a 1983, ano em que fundou o periódico Gazeta de Felgueiras. Escreveu em muitas publicações nacionais e internacionais, derivado aos contactos com seus correligionários, ele que foi acérrimo idealista político-social. Publicou por sua conta pequenos livros, dos quais se salienta “A Harpa do Prazer e da Renúncia”, numa edição comemorativa (em 1981) dos 50 anos de sua vida literária. De permeio teve alguns livros de poemas dedicados a diversas terras, existências e regiões, como a Guimarães, Pinhel, V Encontro de Imprensa em Famalicão, a Vigo, à Galiza, aos moinhos de Laúndos, às festas Nicolinas de Guimarães, bem como a personagens, de que houve exemplos ao poeta Virgílio Amaral, ao escritor Gaspar Baltar, ao pintor Adelino Ângelo e ao militar-político Vasco Gonçalves; além de obras várias: “Ilusões”, em 1934, “Luar de Paixão”, 1935, “Polónia heróica”, 1941, “Presença”, 1944, “Um operário de escol”, 1954, “Três conceitos de vida”, 1955, “Versos a um filho que parte”, em 1958, “As vésperas da boda”, em 1964, “Lembrança Lírica de Felgueiras”, em 1969 (d’ O Jornal de Felgueiras), “Loa à pia da Sé de Braga”, 1970, “Ramilho de memórias”, 1974, “Tríptico da noite e da esperança”, 1975, “As mulheres da minha vida”, em 1977, “Retábulo lírico de Nigrán”, 1979, “Cítara do conhecimento”, “Vigília” e “Louvor de Abril”, em 1981 e “Cantigas de desenfado para a minha missa dominical cantada”, em 1991.



Entretanto, estranhamente não foi incluído na “Primeira Colectânea de Poetas Felgueirenses”, livro publicado pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Felgueiras em 1989. Sem estar em causa a intenção da iniciativa, essa publicação tem forçosamente de ser considerada como feita muito pela rama, pelos responsáveis da respetiva seleção, sabendo-se que foi formado um grupo de pessoas, ao género de comissão, para o efeito. Pois que, ainda que intencionalmente elaborada, deixou assim muito a desejar, colecionando apenas amostra algo incorreta de interessados na escrita poética dentro de portas (conforme, inclusive, no Jornal da Lixa de 20-10-1989, em peça intitulada “Uma grande injustiça”, um articulista chegou a referir como «escritos pessoais de versinhos de adolescência...»), esquecendo tal edição um número significativo de verdadeiros poetas espalhados pelo concelho ou fora dele com ligação Felgariana. Tendo A. Garibaldi sido injustiçado com o ostracismo dessa publicação. Acabando por falecer, em 1992, sem constar em edições literárias felgueirenses. Embora, em modo de reabilitação, já nos inícios do século XXI tenha sido atribuído seu nome a uma rua da cidade de Felgueiras.  

Em 2002, passados dez anos de sua morte, foi editado a título póstumo um livro chamado “Voz Insubmissa”, reunindo alguns trabalhos de composições publicadas em vida.

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Nota Bene: A foto cimeira, de fisionomia do poeta, é duma publicação do amigo Mário Adão Magalhães. As imagens restantes são do referido livrinho que tenho autografado.

Armando Pinto

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