sexta-feira, 24 de novembro de 2017

"Apontamentos memoriais" no Semanário de Felgueiras


“As páginas de um jornal morrem no mesmo dia em que nascem. E, no entanto, renascem no mesmo momento em que morrem. A cada volta que o mundo dá, o jornal cumpre o seu ciclo de vida. E leva a todos os seus leitores todas as informações que eles precisam para entender as voltas do mundo em toda a sua dimensão e grandeza. Esta é a história diária de um jornal. As páginas de um jornal são páginas de história. E não morrem jamais” .

(De Alcino Pedrosa, Homem do Norte que foi jornalista em Lisboa e é escritor-historiador)

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Posto isto, está dito e redito o que sempre que possível é feito, através da colaboração ao jornal Semanário de Felgueiras, pela mão e cabeça do autor deste blogue – como, desta feita, acontece com mais um artigo, sob título:

Apontamentos memoriais

Para quem nasceu e viveu, pelo menos, por volta dos anos médios do século XX, esses foram tempos de modo vincado na vivência comunitária. Sendo temporadas de marcas musicais, alastramento da rádio, expansão da televisão e consciencialização de situações políticas e morais, quase que num abrir de olhos ao mundo que rodeava o meio ambiente. Como também foi surgindo por Felgueiras, no horizonte da pacata região cuja população se juntava mais na anual Feira de Maio, ia monte acima à festividade do São Pedro e na Peregrinação de Agosto, já que a feira semanal apenas em meio dia das segundas-feiras dava melhor para gente madrugadora ou pessoas sem obrigações de trabalho normal.

Ora esses tempos tiveram realmente um timbre deveras marcante na evolução regional, sendo épocas em que se começou a ouvir falar de características locais antes pouco abonadas, de lado a apologias dos antigos pronunciamentos de sovelas e outros apodos, quais apelidos popularizados por certas zonas do concelho. Desaparecida imagem da pérgula central e restando o cruzeiro da independência, na sede do concelho. Até à existência de algumas modas eventualmente passageiras que deixaram memórias, como foi a realidade do Staminé que fez história, na evolução de anteriores épocas em que o Café Jardim e anexo espaço da Pensão Albano, mais o Belém e ainda o Popular, faziam parte quase emblemática do carisma felgueirense, mais tarde juntando outras salas de convívio popularizado, em tempo de mulheres ainda não irem ao café nem ao futebol e entre homens se falar mais de bola, na era de Sabú, Barnabé, Mamede, Pimenta, Zé Carlos, Mário, Rodas, Caiçara e outros que povoaram os encantamentos da criançada nos recreios das escolas, na sequência dos jogos no campo onde se entrava em alta portada coberta por telheiro. Enquanto na feira se podiam comprar panfletos com letras rimadas a cantar os ases da bola do Felgueiras, mais romances heroicos de soldados que andavam na guerra da África (colonial) e até aviadores com rotas assinaladas no ar que ia além dos nossos horizontes.

Foi pois entre partículas do tempo, assim, que se amassou muito pão que ia saciando a curiosidade, também. Dando para ter feito crescer gente que fez evoluir esta terra, entre factos que não deverão cair no esquecimento. Ao jeito como antigamente havia trocas de cromos que despertavam conhecimentos, podendo e devendo hoje isso servir como manual de memórias, qual consciencialização histórica de que houve todo um percurso passado antes da chegada ao presente. Sobremaneira como tem de se entender quão era interessante conhecer tudo e qualquer coisa respeitante ao universo felgueirense e hoje quase tudo se dilui no que é universal.

Faz agora, em finais deste mês de novembro, a significativa conta de 20 anos da publicação dum livro do autor com conteúdo historiográfico do concelho, na parte inicial abarcando o todo concelhio e no desenvolvimento algo direcionado a parcelas mais conhecidas do próprio, embora sempre com todo o concelho subjacente, incluindo alguns casos daqueles idos anos românticos – o “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, patrocinado pelo Semanário de Felgueiras. Volume que muito esperou por publicação, tendo estado na gaveta anos a fio, após longos anos de elaboração, à falta de apoios oficiais, metendo pelo meio certas peripécias da cultura municipal dessa época. Até que finalmente viu a luz do dia graças à visão felgueirista do Dr. Manuel Faria. Tomo cronista, esse, resultante de trabalho voluntário então tornado possível, entre gravações computorizadas com escritos a mostrar como eram e foram tempos fixes das máquinas de escrever, através de cujas fitas se escreveu e imprimiu ao mesmo tempo… Tal as letras batiam no papel, em encontro teclado com história a ressurgir.

ARMANDO PINTO
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