domingo, 16 de julho de 2023

Cortejo Histórico de Felgueiras - um dos números de cartaz dos primeiros anos de comemorações do aniversário da Cidade de Felgueiras

Quando Felgueiras ainda vai estando em festa no período entre a Festa do Concelho e a Comemoração da Cidade de Felgueiras, vem a propósito lembrar a ainda não muito antiga tradição do Cortejo Histórico que fez parte do cartaz desse período festivo felgueirense, no tempo dos primeiros anos da comemoração da elevação da sede concelhia a cidade. Havendo sido levados à rua desfiles sobre temas diversos, como por exemplo em anos sucessivos sobre motes de "Felgueiras e a Descoberta do Brasil", “Felgueiras no Mundo”, “Felgueiras terra com futuro”, “Felgueiras Uma terra de Exemplos”, "2001 Aos de História de Figuras de Felgueiras", "Pequena História das Freguesias - Padroeiros, Coutos e Honras de Felgueiras"etc, etc.  

Deitando olhos da memória a essa retrospetiva que ficou na retina, tomando entre vários uns dois exemplos dessa realidade já antepassada, recorda-se o caso dos cortejos de 2001 e 2004, da viragem do século.

Então, no primeiro caso, versando 2001 anos de História Felgueirense através da lembrança de figuras históricas da memória coletiva, começa-se por esse histórico cortejo felgueirense uma visão de teor memorando. 

Cortejo Histórico de Felgueiras

No ano de 2001, incluído entre algumas iniciativas integradas no âmbito do programa das comemorações do XI Aniversário de Felgueiras Cidade, ou seja da elevação de Felgueiras a cidade, realizou-se pela primeira vez um cortejo histórico dedicado à História de Felgueiras. Intitulado de “2001 anos de História”, em atenção ao ano então decorrente (pois que não é tão antigo o concelho de Felgueiras, nem coisa que se pareça), e com propensão evocativa de “Figuras de Felgueiras”, decorreu esse desfile figurativo perante assinalável moldura humana, assistente à sua passagem pelas artérias da sede do concelho, na noite de 15 de Julho do primeiro ano do século XXI.

Anteriormente houvera em anos precedentes, igualmente na comemoração dessa efeméride, uma outra iniciativa apelidada de cortejo histórico mas apenas dedicado aos Descobrimentos, cuja organização levou a efeito algumas realizações anuais, nuns anos com a viagem de Vasco da Gama à Índia por tema, noutros anos a descoberta do Brasil e ainda noutros juntando as duas viagens descobridoras, em ambos os casos por a essas viagens marítimas estar ligado o nome do “Felgueirense” Nicolau Coelho. Contudo foi o cortejo de 2001 que efectiva e primeiramente desenvolveu facetas da história comum.

Por ter sido a primeira vez que houve um cortejo alargado a motivos abrangentes à totalidade da História Felgueirense, dentro do possível, merece pois o mesmo que sobre ele fique registado, à espécie de guião, um memorando descritivo, aproveitando-se para fazer um trajecto contemplativo pela história local:

A parada pública, provinda pela “avenida nova” acima (ou seja desfilando ao longo da Avenida Dr. Leonardo Coimbra em direcção ao centro da cidade, efectuando percurso por várias das suas ruas, a passar em frente ao edifício da Câmara Municipal, até parar em frente à então ainda denominada Biblioteca Municipal Dr. Miguel Mota, na Avenida Agostinho Ribeiro), começava por prestar homenagem ao passado de Felgueiras, colocados que vinham à frente alguns jovens trajados alegoricamente de arautos (só que, talvez por distracção ou dificuldade organizativa, em vez de trombetas, como deveria ser, vinham a tocar concertinas, instrumentos desajustados da época retractada...). Jovens esses assim prestados em significado ao ambiente mensageiro dos antigos pregões, os quais aclamariam nas propagandas o tradicional vozeirão apelativo de Arraial! Arraial! Por Felgueiras!, acompanhados de grupos de tamborileiros a abrir o desfile, antecedendo primeiro carro. O qual continha pintado na frente o brasão concelhio e comportava alegoria, composta por outros jovens envergando trajes medievais com cores heráldicas do concelho de Felgueiras, empunhando bandeiras do Município de Felgueiras. Seguiam depois alguns carros, poucos em número, e personagens apeados, na grande maioria, estes quase todos agrupados em alas paralelas (cujos nomes se indicam a negro no desfile descritivo, conforme a indicação contida na legenda do dístico acompanhante que ia em mãos de uns espécies de pajens), e tudo em conjunto representando por diferentes quadros alguns de diversos momentos, factos e personalidades marcantes da memória colectiva.

Assim, o I Quadro, dedicado à ocupação romana em Felgueiras, procurava vincar característica de que os verdejantes vales do Sousa e Vizela desde tempos imemoriais convidaram à fixação de distintos povos e civilizações, cuja história se vislumbra parcialmente nalguns vestígios arqueológicos e toponímicos encontrados e existentes, respectivamente, por todo o concelho. Como tal seguiam representantes das enigmáticas e valorosas legiões romanas que atravessaram vias de que existem réstias.

Com efeito desde longas eras que povos e civilizações ocuparam as terras destes vales entrecortados de planaltos, havendo presentemente restos arqueológicos descobertos de antiga Villa Romana de Sendim, onde os fragmentos estudados pelo arqueólogo Marcelo Mendes Pinto comprovam tese de vida quotidiana na actual área do concelho entre os séculos III e IV da Era Cristã. O aglomerado era até importante, pois possuía termas, pavimento em mosaico geométrico, esgotos, canalização de abastecimento de água, etc.

Em parêntese, acrescente-se, a propósito, que o caso em desfile, porém, traz à ideia que outras idênticas ruínas existem e mais possíveis vestígios existirão noutros sítios da região Felgueirense, sabendo-se, pela História, que houve mais villas romanas, antecessoras de fortificações e sucessoras mansões solarengas. Ou seja, onde há casas antigas importantes, solares ancestrais com verdadeiros pergaminhos nobres, haverá por perto, embora não a descoberto, restos das primitivas ou pelo menos antigas construções e civilizações. Algo de que, aliás, se tem ouvido falar por vezes, pois como a descoberta de Sendim, aparecida com obras efectuadas numa propriedade, surgiram já outras com idênticos vestígios aquando de obras ocorridas noutros locais do concelho, apenas que, devido às consequências, na ocasião foi sendo mantido sigilo e prosseguido as decorrentes construções, sem que tais casos tenham chegado ao conhecimento oficial...

Continuando no cortejo revivalista: Em alegoria, a passagem referente à villa romana de Sendim era então, no desfile, representada por carro a recordar algo da Romanização, com reprodução da casa de Sendim ancestral e a ponte velha de Vila Fria (embora tivesse faltado representatividade dos Godos, povo neocolonizador de cuja origem foram os nobres fundadores das antigas Villas embrionárias das sucessoras freguesias da região, de que ficaram como prova os toponímicos de diversas paróquias/freguesias).

O II Quadro aludia ao Conde D. Gomes Aciegas, fazendo relembrar que na época da reconquista Cristã, em que valorosos reis cristãos recuperaram terras aos infiéis em pelejas impiedosas, se destacou um Governador no Entre Douro e Minho, homem de Felgueiras, o Conde D. Gomes Aciegas, frequentador da corte de Fernando Magno, rei de Leão e Castela.

O III ilustrava a fundação do Mosteiro de Pombeiro, mediante imponente carro alegórico representativo desse monumento nacional e de intervenientes da sua construção, recordando em legenda o ano 1059 da sua fundação (data que lhe tem sido atribuída, embora possa ser do séc. IX, pois já se lhe referia um breve papal de Leão IV de 853 – conforme vem em “Tesouros Artísticos de Portugal”, edição de 1976 das Selecções do Reader’s Digest).

O IV retinha referência à atribuição da Carta de Couto do Mosteiro de Pombeiro feita por D. Teresa em 1112, tornando subjacente comprovação da importância que esse cenóbio deteve nas terras Felgarianas e zonas envolventes, facto ilustrado com figuras de notário, nobres e plebeus, sugestivos da instituição da documental Carta de definição de direitos e deveres, da população abrangente do proteccionismo feudalista do mosteiro.

No V vinha enfim ilustração à doação de bens a Pombeiro por D. Afonso Henriques, fazendo menção ao facto de em 1155 o nosso primeiro rei haver doado propriedades em Pombeiro ao Conde D. Gonçalo Mendes de Sousa, conhecido à posteridade por “o Bom” (n.1124-f.1179), o qual, segundo os “Documentos Medievais Portugueses”, foi também conselheiro do fundador da nacionalidade, sendo que aquelas terras doadas por D. Afonso I provinham de herança que o conquistador da Portugalidade recebera do nobre Ordonho Echigues e que foi o mesmo monarca quem primeiro confirmou o Couto de Pombeiro e honrou as Terras de Unhão.

O VI Quadro adiantava o passo em corrida no tempo, referenciando doação de Felgueiras por D. João I a Gonçalo Pires Coelho, em 1385 – pois que o Mestre de Avis depois que assumiu o trono e manteve a soberania portuguesa concedeu, entre outras terras, o senhorio de terras de Felgueiras a D. Gonçalo, tornando-se este donatário e capitão-mor do pequeno concelho existente nesse tempo, título que deteve até à sua morte no ano de 1417.

O VII, alusivo à participação de Nicolau Coelho (séc.XV-XVI) na rota marítima para a Índia e descoberta do Brasil, sobressaía em carro alegórico próprio com formas de caravela, recriando as destemidas viagens de Coelho, o comandante da Bérrio homenageado como descobridor Felgueirense.

O VIII, prosseguindo o desfilar revivalista, dava vez à concessão do Foral de Felgueiras outorgado por D. Manuel I em 1514, apresentando séquito de vassalos e damas da corte a anteceder o casal real, fazendo desfilar o personagem do rei “Venturoso” – o qual nessa mesma distante era também concedera em 1515 idêntica Carta de Foral ao então existente Concelho do Unhão, cujas terras mais tarde passaram a completar o concelho de Felgueiras.

No IX apareceu recriada a fábrica do Pão-de-ló de Margaride, apresentando essa particular tradição local que detém imagem de marca do concelho, iguaria típica e exclusiva de reconhecimentos régios.

No X Quadro, através de alongado desfile de figurantes em passeio, eram apresentados alguns Ilustres Felgueirenses, numa galeria contudo deveras incompleta. Desse jeito, passaram diante dos assistentes diversos personagens representados em significativo número de recreações de tais figuras salientes, qual corolário de um passado distinto em que se destacaram esses notáveis Filhos de Felgueiras de naturalidade ou afeição.

Como assim, essa parte demonstrativa começava por homenagear os escritores através de D. Manuel Faria e Sousa (1590-1649), historiador, poeta, filólogo e moralista crítico promotor de Camões; seguindo-se Francisco dos Guimarães (1767-1839), sacerdote e professor erudito, autor de Memória sobre um documento inédito (referente ao Conde D. Henrique), saído no tomo IV das Memórias da Academia das Ciências; bem como António José da Fonseca Moreira (1841? ou 1848? -1938), autor de peças teatrais e patrono da casa de teatro municipal – pecando a mostra por não indicar o seu primeiro nome, para distinção do seu sobrinho Dr. Luís Gonzaga Fonseca Moreira, figura de proa do desenvolvimento local do começo do século XX (que, afinal, se verificou que faltava, não tendo sido lembrado nesta acção). Falta notória esta, por exemplo, como outras, entre as quais se notou ausência de um Dr. Eduardo Freitas (1866-1926), médico, antigo Presidente da Câmara e Provedor da Misericórdia de Felgueiras, que foi autor da primeira monografia historiadora do concelho. Depois apresentavam-se aristocratas, surgindo Egas Gomes de Sousa (1059-1102), o 1º dos Sousãos; seguido de Assis Teixeira (1850-1914), 1º Conde de Felgueiras; e Fernão Teles de Menezes (1589-1651), 1º Conde do Unhão. Aprestavam-se logo atrás alguns destacáveis vultos da magistratura, como o Conselheiro Dr. Alexandre Barbosa Mendonça (1860-1936), Juiz do Supremo Tribunal de Justiça – faltando também distinção relativa com seu irmão, o Conselheiro Dr. António Barbosa Mendonça (1858-1932), carismático político do antigo Partido Regenerador concelhio, Presidente da Câmara Municipal no último período da Monarquia e jornalista eminente, incompreensivelmente olvidado na galeria apresentada. Sendo lembrado no imediato o Conselheiro Dr. José Joaquim Coimbra (1882-1950), antigo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça; aparecendo depois lembrança do Dr. José de Barros Carneiro (1894-1988), causídico que viveu no concelho retirado das lides judiciais e que foi figura conhecida de tertúlias e acontecimentos afamados na transmissão popular. Em justa representação de religiosos ilustres, aparecia de seguida D. Frei João de Santa Gertrudes Amorim (1818-1894), Abade do Mosteiro de Cucujães e superior da fundação do Mosteiro de Singeverga - notando-se lacunas várias nesse aspecto, tantos os exemplos possíveis, entre os quais o Padre Luís da Cunha Pereira Sampaio, a quem se liga os primeiros passos da devoção local a Santa Quitéria, os antigos reitores mais famosos do Santuário de Santa Quitéria, Padres Álvares de Moura e Henrique Machado, como o Padre Luís Rodrigues (1906-1979), mestre de música gregoriana e célebre compositor de cânticos litúrgicos, reconhecido internacionalmente; mais Frei Lucas Teixeira (1918), mestre de Iluminuras e poeta, ainda vivo ao tempo. Surgia depois representante da política de outros tempos, mediante figura do Dr. Custódio Rebelo de Carvalho (1805-1883), célebre Par do Reino, a quem se ficaram a dever algumas intervenções com influência em melhoramentos públicos e na criação da Comarca de Felgueiras. Nesse prisma logo ressaltava falha grave, devido a esquecimento para com a memória do Dr. Costa Guimarães (1807-1866), principal lutador obreiro da referida promoção de Felgueiras a Comarca, concretizada em 1855. Após isso, na continuação da marcha, a representatividade de heróicos pioneiros era atribuída ao Coronel Piloto-Aviador Francisco Sarmento Pimentel (1895-1988), militar intervencionista no derrube da Monarquia do Norte em 1919, destemido aviador que empreendeu em 1930 a 1ª travessia aérea de Portugal à Índia e opositor do regime de Salazar, exilado político durante longos anos, condecorado com a Ordem da Liberdade após a democratização portuguesa – sendo Francisco Sarmento Pimentel tratado por Comandante na legenda apresentada publicamente, quando esse título honorífico era atribuído a seu irmão João, então Capitão, por este ter comandado as tropas dos movimentos militares do vitorioso 13 Fevereiro de 1919 (no derrube da Monarquia do Norte, junto com o visado Francisco) e do frustrado 3 de Fevereiro de 1927 (contra a situação política da ditadura saída do 28 de Maio de 1926), como liderara depois a colónia portuguesa de exilados políticos no Brasil (também ele, João Sarmento Pimentel, não referenciado, embora neste caso se aceite porque, apesar de ter vivido muito tempo em Felgueiras, onde muito justamente está perpetuado na toponímia citadina como General Sarmento Pimentel, não era natural do concelho como é o irmão). A figura heróica daquele aviador e militar Felgueirense, Francisco Pimentel, não teve porém condigna apresentação, pois em vez de sua figuração seguir em carro alegórico, como outros personagens eventualmente de destaque inferior (podendo ter sido apresentada alegoria que metesse imponência de um avião, coisa que nem tem faltado em carros de desfiles de corsos carnavalescos e marchas luminosas, quando se justificava que devesse mais aparecer numa altura destas)... ia tal representação de Francisco Sarmento Pimentel a pé, apresentado com uma farda que pretendia ser arremedo de uniforme militar de carreira... Passada essa reboada, apareciam simulados personagens representativos de antigos beneméritos, que muito contribuíram para a projecção da antiga vila, como Ribeiro de Magalhães (1847-1919), fundador da Misericórdia de Felgueiras, e Agostinho Ribeiro (1848-1916? ou 1920?), patrono do Hospital concelhio; e ainda o Dr. Magalhães Lemos (1855-1931), brilhante psiquiatra e cientista de renome. Por último, o Dr. Leonardo Coimbra (1883-1936), filósofo, orador e político ligado a reformas do ensino superior durante a 1ª República. Voltou então a notar-se outras faltas, entre as quais para com personagens da diáspora Felgueirense, ou seja naturais do concelho que se salientaram em terras onde se radicaram no país e no estrangeiro, de que são exemplos o Conde-barão Joaquim Pereira Marinho, falecido em 1887 na Baía-Brasil, onde foi destacado cidadão e empresário de comércio naval; assim como Basílio Leite de Vasconcelos (1885-1938), primeiro director do Arquivo Distrital do Porto. Falhas verificadas, no caso, extensíveis a outras áreas sociais, nomeadamente para com os promotores dos primórdios industriais geradores de progresso e outros agentes sociais, sendo de reter que bem merecia lugar entre as Figuras Gradas da terra, por exemplo, um José Xavier (1882-1957), pioneiro da indústria no concelho e personagem activo em realizações culturais, tal como também outros “dinossauros” da revolução industrial concelhia, como uns Antero Cunha (1886-1968), Américo Martins (1893-1967) e Verdial Moura (1915-1969), este, inclusive, além de se ter salientado na ascensão da indústria panificadora, foi até o fundador do Futebol Clube de Felgueiras. Outrotanto, nessa falha emergiu outra falta havida para com a importância do desporto e por extensão uma transposta ideia de idêntico reconhecimento para com Artur Coelho (1934-1983), antigo praticante valoroso do panorama ciclista nacional e internacional, vencedor da Clássica 9 de Julho-Volta a São Paulo, no Brasil e por diversas vezes camisola amarela na Volta a Portugal em bicicleta; bem como José Sampaio Peixoto, atleta que foi recordista nacional em provas de pista e inclusive detentor do máximo Ibérico na distância de 400 metros, em atletismo. Tal qual com instituições de carácter especial, como a centenária Associação Humanitária dos Bombeiros de Felgueiras, sendo aí de notar mais uma falta de lembrança tida para com o “Comandante” Dr. Eduardo Coelho, personagem histórico na criação da corporação dos Bombeiros Voluntários de Felgueiras, tal qual carismáticos continuadores da “Bomba Felgueirense” como foi o patriarca da família Lickfold; e ainda o Mestre Aniceto Ferreira que foi regente da Banda dos Bombeiros e da Banda de Música de Felgueiras; assim como outros grandes Homens em diferentes valências da vida local, sendo de lembrar, entre outros, mais uns Dr. António Pinto Sampaio e Castro, célebre Administrador do Concelho; Eduardo Cabanelas, pioneiro no ramo dos transportes públicos; Professor Joaquim de Barros Leite, fundador do Externato Infante D. Henrique, e D. Dulce Moura, sua continuadora;  Teófilo Leal de Faria, alma-mater de diversas empresas que deixaram progressista cunho vincado; e outros mais, entre cujo leque será de lembrar o autor da música do Hino de Felgueiras, de nome Joaquim Chicória (1876-1951), músico vizelense da antiga Filarmónica Musical conhecida popularmente por “Banda do Aniceto” de Felgueiras.

A propósito, deverá acrescentar-se que essa versão do Hino Municipal foi composta em 1919 e, depois de pela primeira vez tocada em público no ano de 1942, com dedicatória ao então Presidente da Câmara Dr. Miguel Bacelar, foi recuperada muito mais tarde, com uma letra encomendada em 1991 pela C. M. F. ao poeta popular Arlindo Pinto (natural de Penafiel e residente em Felgueiras, conhecido normalmente por “Cabo Pinto” devido a ter vindo para Felgueiras como Cabo da GNR). Esse canto, com nome oficial de Hino de Felgueiras Cidade, teve gravação editada em disco de vinil no ano de 1992. A propósito, convirá focar também que há um outro hino, chamado de Hino do Concelho de Felgueiras, que aliás foi o primeiro a ter arranjo total de composição musical e poética, cuja versão foi feita em 1984 com letra de Fernando Ferreira Machado e música do Padre Carlos Moura (melodia que foi gravada em cassete através de interpretação do Coro Vicentino de Felgueiras e era entoada nos sinais de abertura e fecho das emissões iniciais da Rádio Felgueiras). 

Voltando à descrição do desfile em apreço: Encerrava a artística marcha, por fim, o último carro alegórico, de homenagem ao Poder Local, ostentando gravura a retractar o Dr. Machado de Matos (1915-1989), Presidente da Comissão Administrativa formada em 1974 após o 25 de Abril e 1º Presidente da Câmara eleito, sufragado em 1976 por maioria de votos, apesar de não ter sido natural mas sim residente de Felgueiras, para sempre representante do sentir Felgueirista como figura sintomática de democrata e bairrista Felgueirense.

Esperava-se um final apoteótico, no encerramento do cortejo, o que se não verificou totalmente, quando poderia haver, por exemplo, uma parada final de símbolos do presente, como que em representatividade de todas as associações, agrupamentos, clubes, estabelecimentos oficiais e outras instituições, enfim das colectividades e agremiações espalhadas pelo concelho, bastando as respectivas bandeiras a marcar presença, empunhadas por porta-estandartes em representação do que existe dentro desses valores colectivos – alusivo ao trabalho incessante dos «descendentes briosos do passado que constroem, no presente, o futuro ilustre de Felgueiras». 

*

Em 2002 foi reeditado o mesmo Cortejo Histórico, com poucas alterações e correcções, então denominado “Felgueiras no Mundo”. E, felizmente, no ano seguinte começaram a surgir modificações.

Em 2004 houve mudança de tema, tendo o Cortejo Histórico como lema “Padroeiros, Coutos e Honras de Felgueiras”, procurando demonstrar uma “Pequena História das Freguesias”.

Assim, a abrir, o primeiro carro apareceu dedicado aos 19 santos Padroeiros das 32 freguesias do concelho de Felgueiras. Depois, seguiam-se os quadros alusivos, com ilustrações históricas desde os alvores da expansão, das freguesias com História mais marcante – segundo o que foi apresentado no desfile:

Quadro I – S. João de Aião, com referência ao Couto do lugar de Brulhães, de 1257, como o privilégio de isenção de impostos a moradores de Aião, concedido por D. João I em 1395.

Q. II – Santa Maria de Airães, aludindo o seu Padroado ter sido da Coroa, da Ordem de Avis e da de Cristo.

III – S. Miguel de Borba de Godim, em cuja representação constava a confirmação do 1º rei de Portugal sobre Godim.

IV – S. Martinho de Caramos, ilustrando a fundação do seu mosteiro e a importância dos seus monges Crúzios em tempos remotos.

V – S. Tomé de Friande, com invocação da doação da ermida de Santo André.

VI – Santa Maria de Idães, referindo a antiga paróquia e freguesia de Samarim, depois anexa a Idães, e sobre o mosteiro de Barrosas.

VII – S. Pedro de Jugueiros, maila sua Carta de Couto, outorgada por D. Teresa.

VIII – S. Cristóvão de Lordelo, referindo a erecção da capela do Espírito Santo.

IX – Santa Leocádia de Macieira da Lixa, fazendo alusão a pergaminho de 1240, contendo referência a obrigação de seus moradores pagarem votos a Santiago de Compostela. 

X – Santa Eulália de Margaride, aludindo o testamento de Mumadona de 1059, no qual aparece sua primeira referência; assim como era representada pelo templo de Santa Quitéria e com revivalismo à Feira de Margaride.

XI – S. Salvador de Moure, em cuja representação aparecia idêntica referência à Condessa Mumadona, bem como à Justiça ali praticada antigamente em Simães. 

XII – S. Tiago de Pinheiro, antiga Honra, incluindo os ancestrais Mogudos de Sendim.

XIII – Santa Maria de Pombeiro, aludindo a fundação do correspondente mosteiro e seu Couto.

XIV – S. Tiago de Rande, que incluía alusão aos antigos fidalgos, dos quais as suas antigas quintas de Rande e Sernande, de Randi Villa, foram doadas no decurso do tempo ao Hospital de Malta, por D. Gomes Soares; aludindo, ainda, antigos vínculos de Rande, como freguesia, a posteriores Honra e Concelhos por onde andou na evolução administrativa.

XV – Santa Comba de Regilde, recordando sua Honra e posterior unificação de S. Veríssimo da Ribeira a Santa Comba de Regilde.

XVI – Santa Maria de Revinhade, com sua antiga Honra e Padroado, ao qual andou anexa a Comenda de Torrados.

XVII – S. Jorge de Riba Vizela, aludindo ter sido outra Honra, do nome antigo da freguesia, Cela.

XVIII – S. Tiago de Sendim, como freguesia do solar dos Coelhos e sede dos Capitães-mores do concelho.

XIX – S. Vicente de Sousa, antiga Honra dos Sousas, onde se situava seu palácio patriarcal e de onde houve o nome do rio que nasce no concelho.

XX – S. Pedro de Torrados, mostrando haver documento de testamento de Mem Moniz, irmão de Egas Moniz, aio do rei fundador, como de Torrados ter sido Comenda da Ordem de Cristo, em parceria com Revinhade. 

XXI – S. Salvador de Unhão, que incluía referência à fundação da sua igreja e a ter sido antiga Honra, Comenda e Concelho, como terra dos Condes de seu nome.

XXII – S. Salvador de Vila Cova da Lixa, lembrando os seus primitivos senhores, os Gondufes.

XXIII – S. Mamede de Vila Verde, terra coutada pelo Conde D. Mendo de Sousa, que teve legado aos frades de Pombeiro.

(Obviamente não estão todas as freguesias integrantes do concelho, mas foram estas as referenciadas no desfile em apreço.)

Encerrava o cortejo, em último carro alegórico, a representação do santo das Festas do Concelho, S. Pedro, motivo de romaria e veneração dos Felgueirenses desde longas eras.

 Armando Pinto

(Obs.: - Junção de textos entretanto já colocados em partes noutras publicações e como artigo conjunto para também poder ser publicado noutra eventualidade editorial). 

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