sexta-feira, 14 de abril de 2023

Livro de edição particular: "Um tal Covid na história familiar… num sorriso de vida!" - (dedicado ao Vasco, meu 4.º neto) - Publicado em DEZEMBRO de 2022

 

Um tal Covid na história familiar – no sorriso de vida do Vasco

Armando Pinto

= Livro dedicado ao Vasco Pinto Matos, meu quarto neto – menino que vejo crescer e completa a nossa família. Escrito numa mistura de crónica e evocação, a pensar nele, o meu neto Vasco.

Edição do autor, em tiragem restrita de 15 exemplares numerados manualmente e autenticados com rubrica autógrafa do próprio autor.

N.º ......

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Em 2020 chegou o Vasco à nossa vida, ainda naquele mesmo ano em que o mundo foi surpreendido pela pandemia do vírus Covid, algo que assolou também Portugal de modo inesperado e fica de memória do século, por assim dizer.

Contudo, tudo o que o Covid fez à sociedade, restringindo a vida das pessoas e tirando mesmo muitas vidas, foi bem amenizado pela chegada ao mundo do Vasco. De modo que, afinal, a minha felicidade está satisfeita nos olhos da paixão, muitos anos antes. Afirmando à vista da memória ter valido a pena a razão do namoro inicial, em 1973, do qual resultou o casamento em 1977 da origem de toda a família. Tal se pode buscar aos confins do pensamento essa manhã leda e bela em que primeiro nos falamos, nós na formação do casal originário, em busca da madrugada que daria frutos vindouros. Falando baixinho na retina das lembranças, neste acordar feliz pleno de beijos de amor paternal e avoengo, abraçando a vida na descendência que deu vidas sucessoras. Agora numa vida mais completa com o Vasco.

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Como a estrela de Natal incidiu seus raios sobre o presépio do nascimento do Menino Jesus, recaem reluzentes radiações na junção de mais um membro de nosso presépio familiar, a completar o que sentimos e somos. Pois estamos agora mais completos, todos nós na família Pinto, com o Vasco. O meu quarto neto, que se junta ao seu mano Gonçalo e aos primos Tiago e Diogo, todos Pintos como eu, os meus quatro netos, herdeiros do meu apelido familiar e descendentes de meu sangue, como seus pais, os meus filhos.

Diz-se e é verdade: Um neto é um dos maiores tesouros da vida! Frágil como uma porcelana e mais valioso que um diamante

Ao Vasco, meu quarto neto, no conjunto de meus membros sucessivos, como no corpo há duas pernas e dois braços. Na sequência de livros dedicados aos netos, mas não por isso pois cada um tem sua história particular, este é para o Vasco. Ficando também dentro destas páginas um beijo eterno e um daqueles abraços que me fazem agarrar à vida.

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Na transição do verão para o outono de 2020 chegou o Vasco à nossa vida, entrando na vida da nossa família. Nascido a 15 de outubro, ao início do dia, logo aos 7 minutos depois da meia-noite dessa madrugada, no Hospital S. Francisco Xavier, freguesia de Belém (onde nascera o irmão também). Longe fisicamente daqui dos avós da Longra, mas bem perto por ficar dentro de nossos corações, desde cá até Lisboa. Vi-o obviamente logo mas por fotografias, enviadas pelos telemóveis dos pais. Esperando então, logo que fosse possível, depois poder ir a Carnaxide visitá-lo a ele e aos pais e irmão, naturalmente. Mas com a situação pandémica da época, que ficará também para a história, isso teve de ir sendo adiado. E continuou tal adiamento por mais tempo que o esperado.

Ora, mas mesmo assim, sabia que já gostava muito dele, todos gostávamos dele. Do meu neto que antes de o conhecer pessoalmente senti que realmente já gostava muito dele.

Ora o ano 2020 foi tempo de ambiente público caracterizado pela visão geral das pessoas andarem de máscara protetora, normalmente de pano ou material cirúrgico, presa às orelhas e a não deixar ver a cara entre o nariz e a boca, para evitar a propagação. Com todo o mundo metido em casa, evitando-se contacto com outras pessoas no exterior, limitando a vivência e convivência. Tendo esse período de pandemia se estendido por 2021 e em parte a 2022, embora com o aparecimento de vacinas protetoras, tendo a população sido vacinada em massa sucessiva, o ambiente foi melhorando enquanto era aliviado tudo das anteriores restrições.

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Ao longo dos tempos tem havido diversas vagas de pestes, desde remotos séculos, cuja evolução das antigas mezinhas da medicina tradicional e mais tarde da ciência médica, bem como os próprios hábitos de vida social, foram combatendo dentro das possibilidades. Havendo notícias de pestes nos séculos XIV e XV, por exemplo, a que a religiosidade popular levou à invocação de santos, que depois passaram a oragos de algumas terras (como no caso de S. Roque e S. Sebastião, tidos como protetores ante enfermidades infeciosas e pestes, respetivamente). Surgindo entretanto, de tempos a tempos, algumas pandemias históricas pela sua expressão, tais como a lepra, a peste negra, a cólera, a tuberculose, febre tifoide, a cólera-mórbus, a febre-amarela, mais gripes diversificadas – e destas umas passageiras e outras não, além de uma duradoura de cerca de dois anos como foi a Pneumónica, mais conhecida por Gripe Espanhola, que grassou em 1918 e 1919.

 Até que passado sensivelmente um século desde essa epidemia internacional que em Portugal dizimou muita gente, apareceu na China pelo final de 2019 e depressa alastrando ao mundo o Coronavírus, tecnicamente chamado Covid-19 (embora no feminino, mas referido vulgarmente em modo masculino), mais popularmente conhecido por Corona.    

Esse nome foi dado pela Organização Mundial da Saúde, atribuindo tal denominação de COVID-19, por ser o nome da doença que resulta das palavras “Corona”, “Vírus” e “Doença” com indicação 19 do ano em que surgiu (2019).

COVID-19/Coronavírus é uma epidemia originária de uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes. Tendo em dezembro de 2019 havido a transmissão de um novo coronavírus (SARS-CoV-2), o qual foi identificado em Wuhan na China e causou a COVID-19, sendo em seguida disseminada e transmitida pessoa a pessoa. Algo que com a globalidade mundial, pelos transportes de uns lados para outros, facilmente correu mundo. Sendo então a COVID-19 uma doença causada pelo Coronavírus denominado SARS-CoV-2, com um espectro clínico variado de infeções assintomáticas a quadros graves. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, podendo a maioria (cerca de 80%) dos pacientes com COVID-19 terem poucos sintomas (serem assim assintomáticos), e aproximadamente 20% dos casos detetados requererem atendimento hospitalar por provocarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de assistência através de ventiladores (suporte ventilatório).

Esse vírus pode advir de transmissão decorrente de uma pessoa doente para outra ou por contacto próximo por meio de aproximações diretas, tais como toque corporal do aperto de mãos contaminadas, gotículas de saliva; espirro; tosse; catarro; objetos ou superfícies contaminadas, como telemóveis, mesas, talheres, maçanetas de portas, brinquedos, teclados de computador e telemóvel, etc. Resultando depois a possibilidade da doença, principalmente, em pessoas com febre, tosse, dor de garganta, dores musculares, distúrbios de diarreia, náuseas, vômitos, perda ou diminuição do olfato e paladar, sem outras causas atribuíveis. Como foi vulgar então, em 2020 e tempo imediato.

Após testes, para diagnóstico laboratorial, em caso positivo de sintomas, seguiu-se período de confinamento e tratamento, quando necessário.

Por isso houve grande campanha pública a alertar para a necessidade de se lavar com frequência as mãos até a altura dos punhos, com água e sabão, ou então higiene pessoal com álcool em gel 70%. Em frequência ampliada quando em ambiente público, como ainda ao utilizar estruturas de transportes públicos ou tocar superfícies e objetos de uso compartilhado. Assim como ao tossir ou espirrar, cobrindo nariz e boca com lenço ou com a parte interna do cotovelo. Assim como mantendo distância mínima de cerca de 1 (um) metro entre pessoas em lugares públicos e evitar de haver convívio social. Evitando abraços, beijos e apertos de mãos. Adotando comportamento sem contato físico.

Isso e tudo o mais que passou a ser usual, alterando comportamentos e o ambiente, por assim dizer. Tendo em conta a evolução da situação pandémica, primeiro após o aparecimento na primavera dessa calamidade que andou em altas percentagens até ao verão, e depois novamente no outono e inverno em segunda vaga, com crescentes restrições aos movimentos e atividades, o ano tornou-se atípico, fora do normal.

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Isso apanhou toda a gente de surpresa. Ninguém contava com aquilo.

Antes ouvia-se falar e conhecia-se por leituras ter havido uma pandemia há muito, como foi a Broncopneumónica, popularmente conhecida por gripe espanhola, nos inícios do século XX, mais precisamente em 1918, e que durou largo tempo ainda de 1919. De cuja extensão se ouvira dizer a pessoas antigas que fora de caixão à cova, tal a gravidade de ter morrido muita gente. Inclusive, porque as condições desse tempo eram muito diferentes de agora, havendo sobretudo ainda pouco conhecimento medicinal. Naquela época aquilo fez o povo andar tão amedrontado que quando havia enterros, de enfermos infetados, nem eram tocados os sinos das igrejas (a defunto, como era normal nas ocasiões de toque de notícia e depois durante os funerais) para não afligir mais as pessoas.

Mas como uma coisa é ouvir e outra saber mesmo de fonte limpa, nada melhor que ir ver pelos jornais da época, para averiguar e confirmar.

Assim, O Jornal de Felgueiras, em sua edição de 28 de setembro de 1918, registava:

«Gripe bronco-pneumónica

Parece que é assim que chamam a essa epidemia que, tendo andado pelos concelhos vizinhos do lado sul e nascente, veio também visitar-nos.

É na Lixa onde se tem dado mais casos e onde tem havido mais victimas.

Os boletins obituários acuzam mais de 30 cazos nas freguesias de Borba e Vilacova.

Em quasi todas as freguesias teem havidos casos mas óbitos, poucos, relativamente, e sendo a doença um pouco mais atenuada, se bem que alguns falecimentos teem havido para o sul do concelho, onde a moléstia tem sido violenta e a doença demorada.

A higiene é tudo para a afugentar.

É aos sinapismos, fricções de mostarda no corpo e panos de vinagre na testa, que se deve recorrer logo que se pressinta estar-se afectado, e imediatamente se deve chamar o medico.»

Assim, com a grafia da época e ainda na confusão da mudança de escrita, umas vezes redigindo com z e outras s a mesma palavra, ficou contado à posteridade a situação.

Ora, por estudo pessoal, do que se foi descortinando de umas coisas com outras, durante as pesquisas para a elaboração de livros sobre história da região, algo mais é de acrescentar, podendo-se discorrer em narrativa própria um quadro descritivo sobre o tema.

Pneumónica de 1918/1919 na História

Não no sentido dos ciclos em que a história parece repetir-se, mas pelo que casos da atualidade podem fazer lembrar acontecimentos de outrora, o surto do Coronavírus que se abateu pelo mundo, começado na China em 2019 e alastrado a todo o globo por 2020 dentro, traz à ideia alguma associação do COVID-19 com a memória da chamada Pneumónica, então popularmente conhecida por gripe espanhola, que se abateu sobre Portugal em 1918. Uma das grandes epidemias da História, com muitas vidas ceifadas.

Tal autêntica pandemia do século XX «chegou a Portugal em maio de 1918. A primeira zona afetada foi o Alentejo aquando do regresso de trabalhadores sazonais vindos de Espanha. Foi o primeiro surto no país…» Depois em Gaia rebentou um novo surto, rapidamente espalhado pela cidade do Porto e pelo norte do país. Perante a proximidade a estas regiões, a epidemia chegou também aos concelhos do Vale do Sousa e no início do Outono, à volta de setembro, estava a fazer-se sentir já com casos de infeção no concelho de Felgueiras.

Porém nessa primeira fase os casos foram ainda dispersos, mas numa segunda vaga a situação piorou.

Então, de permeio, em finais de 1918 e na transição para 1919, a situação da pandemia agravara-se, passando no concelho de Felgueiras a haver casos por todo o lado, sendo atingidas todas as freguesias também. A ponto de em pouco tempo terem sucumbido dezenas de pessoas. Então n’ O Jornal de Felgueiras (de 26 de outubro de 1918) era referido que havia «casas onde no mesmo leito está um morto e dormem doentes e não doentes. Há cadáveres que não têm sido sepultados imediatamente porque não há quem cuide do serviço e quem faça as despesas do caixão… Há muita miséria e fome…»  

Quanto a números não há certezas, mesmo porque à época a transmissão de dados não era muito usual, sendo ainda por alto que se faziam contas, como se dizia popularmente de contabilidade ditada apenas por cálculos feitos “de cabeça”. Mas que houve gravidade sabe-se porque chegou a ser construído um hospital episódico destinado a epidémicos no alto de Santa Quitéria, para acolher os enfermos da crise pandémica. Dizendo-se até que no final do ano em poucas semanas terão morrido cerca de quatrocentas pessoas.

As condições existentes à época eram diferentes de agora. Tendo uma das medidas levadas a cabo nessa época tido repercussões na paisagem regional, visto as casas, que eram maioritariamente erguidas em pedra rústica, terem sido caiadas de branco. Pois, olhando à contaminação, as autoridades civis da região, seguindo exemplos de uns lados para outros, foram aprovando um conjunto de medidas para conter o avanço da pandemia. Entre cujas decisões foi estabelecido mandar proceder à desinfeção e ao branqueamento dos edifícios municipais, devendo obrigar-se os particulares a procederem de igual modo, assim como foi estabelecido que se desinfetasse amiudadas vezes as cadeias, bem como as retretes públicas. Apesar dessas e outras medidas, a epidemia grassou com bastante intensidade. Tendo tido maior repercussão por exemplo no concelho de Amarante (sobressaído aí o desaparecimento do pintor Amadeu Sousa Cardoso, entre acontecimentos que levaram a famosa enfermeira Ana Guedes a criar na área de Vila Meã um sanatório, como refúgio de assistência em sua casa de família, onde instalou doentes). Pois então tudo isso levou a que o Presidente da República, à época, viesse inteirar-se da situação presencialmente.

(E, como em 2020 com o Covid-19 não se sabia ainda as repercussões que acabará por haver, na ocasião em 1918 houve algumas…)

Ora o Presidente, Sidónio Pais, nomeara o então capitão João Sarmento Pimentel para comandante do esquadrão de Cavalaria da Guarda Republicana do Porto, de modo a ter alguém de confiança na tão importante unidade militar do Carmo, perante a instabilidade político-social que o país passava. Tendo surgido pouco depois a gripe pneumónica. Conta o protagonista, que como é sabido era da família da Casa da Torre, de Rande (como ficou narrado no livro de Norberto Lopes “Sarmento Pimentel ou uma geração traída”):

«Quando alastrou a epidemia, ele (o Presidente) foi a Amarante. Eu estava em Felgueiras, porque ia com frequência à Torre. E o presidente da Câmara Municipal pediu-me que o acompanhasse na recepção que desejavam dispensar ao Presidente da República. O homem andava a visitar os hospitais para tomar conhecimento da extensão do desastre e de algum modo confortar os doentes…Foi lá (em Amarante) que se deram os (maiores) casos da broncopneumonia.» Em virtude desses contactos, o próprio capitão foi vítima da doença, ficando então acamado. Nesse interregno deu-se no Porto o levantamento de Paiva Couceiro que restaurou o anterior regime, instaurando a chamada Monarquia do Norte. Sendo presos os republicanos mais temidos pelo novo sistema, ficou a salvo o comandante do Carmo por estar internado no Hospital Militar. E (resumindo), informado por seu irmão Francisco e mais oficiais do que se passava, logo que pôde o capitão dirigiu-se ao quartel, apoiado pelo mano felgueirense, e de surpresa, a 13 de Fevereiro de 1919, pôs fim a esse reino da Traulitânia. E assim, a pneumónica, além de tudo o mais, também teve influência na vida e na história do país.

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A propósito, como enquadramento, relembre-se algo do que escrevi também aquando da homenagem que a Associação 25 de Abril prestou em Lisboa ao “Capitão-General” João Sarmento Pimentel, quanto ao 13 de Fevereiro de 1919:

A 13 de Fevereiro, a Monarquia acabou como começara: por um golpe militar no Porto. O seu chefe foi o Capitão João Sarmento Pimentel. Apesar de doente com gripe, a pneumónica que nesse tempo grassou pelo país (sendo entretanto informado pelo irmão de toda a situação e idealizado entretanto o que havia a fazer, com seu irmão Francisco Sarmento Pimentel a comandar uma das alas das forças armadas apoiantes), aproveitou a saída da cidade do Porto de Paiva Couceiro e da maioria das tropas, para invadir o Quartel do Carmo e restaurar a República, à frente da Guarda Real, que voltou a ser a Guarda Republicana. Estava então restabelecida a ordem republicana, derrotada que foi a Monarquia do Norte. No Porto correu entretanto em mãos dos ardinas um desenho com imagem do Capitão João Sarmento Pimentel, estampa que foi vendida publicamente a tostão (moeda da época) entre a população, enquanto a cidade portucalense, por iniciativa de cidadãos e ação das entidades representativas, ofereceu a espada de honra da cidade do Porto ao Capitão Sarmento Pimentel.

Esteve assim Felgueiras em mais um momento histórico da grei, sendo o mais novo dos Pimenteis, Francisco Sarmento Pimentel, natural do concelho de Felgueiras. Bem como o mais velho em Felgueiras passou praticamente sua mocidade, oriundo da família da Casa da Torre de Rande, tendo até sido aluno do antigo Colégio de Santa Quitéria. E com eles foi salva e mantida em 1919 a República em Portugal, como havia sido implantada em 1910. Com a Broncopneumónica pelo meio.

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Pois também o Coronavírus se meteu entre a vida de 2020. Não se conhecendo se com alguma influência imediata sobre casos de políticas, mas pelo menos nas vivências pessoais.

Com efeito, a história por vezes repete-se e, volvido um século, sensivelmente, apareceu por cá nova moléstia, a alterar a vida das pessoas.

Foi à chegada da Primavera de 2020. No começo de março, tendo-se ouvido primeiras notícias na proximidade do fim-de-semana primeiro do mês. Chegadas notícias que havia umas duas pessoas infetadas em Barrosas, freguesia de Idães, no concelho de Felgueiras, e na vizinha localidade de Santo Estevão de Barrosas, do concelho de Lousada. Isso porque um industrial de calçado de Barrosas tinha ido a uma feira de produtos de calçado a Itália, onde o Coronavírus estava já alojado. Tendo assim havido essa transmissão entre familiares, na chegada a Portugal. Contudo ainda se não temia muito a sua propagação, pois nem as autoridades de saúde a nível nacional davam muita importância ao assunto. Mas depressa se propagou. Tendo então acontecido que ainda no sábado 7 de março houve na Biblioteca Municipal de Felgueiras a apresentação pública do meu livro “Ciclistas de Felgueiras” (no dia dos anos da Clara, por isso escolhido por mim para ter a minha gente toda comigo na ocasião… em que também o Vasco já estava em gestação, dentro da mãe) e esse foi o último acontecimento público em Felgueiras, no ano, pois logo de seguida tudo fechou.

Com efeito foi então anunciado oficialmente, ao início da semana seguinte, um conjunto de medidas extraordinárias e de caráter urgente, decididas em Conselho de Ministros do Governo de Portugal, para resposta à situação epidemiológica do novo Coronavírus-COVID 19, em modo de acautelar, estrategicamente, a previsão de normas de contingência para a epidemia SARS-CoV-2, e assegurar o tratamento da doença no Serviço Nacional de Saúde (SNS), através de um regime legal adequado à realidade excecional.

E num ápice o país teve de entrar em confinamento, na tentativa de impedir maior propagação que a tão rapidamente atingida. Sucederam-se sintomas e como doença forte adveio a morte para muita gente. Também por cá tudo ficou no silêncio interior de cada qual. Tanto que nem houve cerimónias tradicionais de Páscoa sequer e pelo ano adiante deixou se se poder circular para fora de cada concelho durante muito tempo.

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Foi nesse ambiente que chegou a vez do Vasco vir ao mundo, passados meses, a meio de outubro. Acontecendo que no seu nascimento só o Hugo pôde estar presente, junto à Clara; amparando pai e mãe a chegada do seu segundo filho. Seguindo nós cá longe tudo pelas comunicações via telemóveis e internet, por notícias pessoais e fotos enviadas e cá chegadas. Até que depois com a alta hospital o Vasco foi para casa e então também o Guga ficou a conhecer o irmão e a tê-lo consigo. Enquanto nós, cá longe, o imaginávamos e íamos gostando da sua existência. Tal qual na continuidade do tempo de restrições sociais, incluindo uma doença súbita acontecida com o Vasco, que nos fez ver como sem ainda o conhecermos pessoalmente já gostávamos muito dele… Felizmente à chegada do Natal houve uma espécie de amnistia oficial, que proporcionou que as famílias se juntassem, ainda que em número reduzido. E então, pude estreitar a mim o meu novo neto.

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Enquanto isso o Covid estava e continuava em força. Foi mesmo como um desconhecido invisível que nos apareceu do nada, no início de março de 2020. Em cuja fase inicial fomos bombardeados por muitas informações contraditórias, imensa desinformação, mais por pessoas com responsabilidades, como no caso dos governantes nacionais. Primeiramente houve um deixar passar e ficar à espera, para depois terem conduzido a um confinamento social. Enquanto se não sabia bem o que era, foi tempo para a indústria se reorganizar e produzir máscaras e desinfetantes. Bem como oportunidade de apelos às boas práticas e ensino à população sobre algumas medidas de proteção visando algum controlo da pandemia. Seguiu-se um verão sereno, mas marcado por calor amedrontado, embora não generalizado. Até que, passado o tempo quente, voltou tudo atrás com uma segunda vaga. Para, felizmente, volvidos meses tudo começar a voltar à normalidade com a vacinação efetuada, que atualmente, ao findar o ano de 2022, vai já na quarta dose tomada.

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Pois então, o Covid intrometeu-se na vida das pessoas e foi autenticamente um intruso na nossa vida familiar. Fazendo com que nós, cá os avós, tios e primos da Longra, só vimos o nosso Vasco passado muito tempo, com a chegada do Natal desse ano de 2020, quando finalmente nos reunimos cá em casa. Vendo sua linda cara coberta de seu sorriso atraente, mas no colo dos que ele estava habituado a ter com ele, até aí, naturalmente. Sendo assim esse Natal um natal ainda mais atrativo e reluzente. Pudendo eu passar a senti-lo, também. Como com o decorrer dos meses, e já nestes dois anos entretanto ultrapassados, foi melhorando a convivência possível e o Vasco, após mementos de estranheza à chegada, depois se afeiçoa depressa connosco. E dá gosto ver como a vida se renova e fortalece.

Nesse Natal, na viagem de Lisboa para a Longra, enquanto esperávamos por ficar a conhecer o novo rebento, telefonei à Clara para comprar, numa das áreas de serviço da auto-estrada, um jornal que tinha junto também uma revista… E assim, enquanto isso e depois, a família teve a surpresa de ver que na revista Evasões, especial da quadra natalícia acompanhante do Jornal de Notícias, vinha algo de interesse familiar, ao verem-me lá no interior das páginas, vindo ali uma entrevista comigo sobre as tradições pessoais de Natal.

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Esse foi, pois, um Natal mais aconchegante, como festa de família por excelência, com todos nós juntos.

Estão cá gravados na retina da memória todos os momentos entretanto já passados, quer aqui na Longra, como das vezes que fomos a Carnaxide. Como as imagens fotográficas espalhadas por este livrinho ficam a testemunhar. Porque há imagens que falam por muitas palavras que se possam escrever. E nada consegue narrar quão melhor que tudo diz o coração.

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E cá temos o Vasco. A juntar aos Gonçalo, Tiago e Diogo, formando um quarteto de luxo. Tanto como algo especial é isto do sentimento avoengo, de avós e netos. Como eu via a minha avó. E posso relembrar, no afago da memória, como um dia os meus netos podem lembrar os avós.

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Calha assim bem evocar os meus. Dos quais lembro de modo especial minha avozinha Júlia, com quem passei minha infância, junto à sua cama, sentado junto ao leito em que estava paralisada santificadamente, após ter sofrido um “ataque” quando estava comigo ao colo, tinha eu coisa duns 4 meses, segundo me contava minha mãe. A “Vózinha”, com a qual me habituei a gostar de histórias, ao ouvi-la contar-me enternecedoras peripécias de outros tempos e loas de antigamente… A minha avozinha que tenho sempre comigo, em todos os meus pensamentos, como está registado num dos contos do meu livro “Sorrisos de Pensamento”!

A minha avó materna não conheci, pois faleceu ainda antes de eu nascer, mas tenho dela linda ideia pelo que minha mãe dela contava. Já de meu avô materno lembro-me bem, apesar de ser ainda criança quando faleceu, tendo ainda uns poucos de alguns dos livros que ele gostava de ler e ter, numa característica que sei bem de onde me vem… também.

Assim sendo… Tenho nas memórias mais antigas, das primeiras imagens da vida, a minha avozinha, minha avó paterna. A minha avó Júlia. Deitada na sua cama, onde estava há anos paralisada, mas sempre bem-disposta, com cara sorridente, dum modo santificadamente marcante. Ficara assim desde que sofreu algo que deve ter sido um AVC, que popularmente diziam ter sido um “ataque”, estando comigo ao colo, era eu bebé. Ficando paralisada apenas na parte das pernas, mas lúcida e de bom cérebro. A partir dali fui crescendo a querer estar junto a ela e ela a gostar de me ter à sua beira. Ouvindo-a contar-me histórias de fazer sonhar. Lembrando-me bem de suas mãos branquinhas e enrugadas, de pele muito macia, de palavras ternas como réstia duma vida cheia de histórias. Quão me vem à memória que me embalava, com um cordel preso ao berço, conforme soube mais tarde como depois fazia ao meu irmão mais novo, Fernando. E nós os dois, os rapa-caçoilas da família, ali andávamos junto à sua cama, a querer ouvi-la, entre umas vezes ou outras das vezes em que rezava ou ouvia o terço e as missas no rádio que o meu pai lhe colocara na mesinha de cabeceira. Sempre com muita calma a gerir dentro do possível as brincadeiras dos netos. Era como se no seu regaço eu descansasse desses tempos de infância, dum modo que pela vida adiante sei que me acompanha. Como naquela noite dum conto que conto no meu livro Sorrisos de Pensamento. E tenho bem presente como fazendo parte de minha alma, como sinto num fechar de olhos de pensamentos.

A minha avozinha, nascida em 1884, faleceu em 1969. Em cujos 85 anos seus eu ainda a pude ter comigo alguns anos da minha vida, que então ia em 14 primaveras. Embora na época de seu falecimento eu estivesse deveras longe, por via do percurso estudantil, estando episodicamente ausente em período formativo num estabelecimento interno nos arredores do Porto (no Seminário dos Capuchinhos, em Gondomar). Como também anotei na narrativa do conto daquele livro de descritivas histórias particulares. Lembrando coisas e loisas que me apeteceu contar. Embora pudesse ter contado mais, que não calhou. Como mais tarde calhou, mas aí de viva voz, na confirmação da casa onde nasceu o célebre mestre de música sacra Padre Luís Rodrigues, porque foi na mesma casa onde anos antes ela também nascera, como contava – na Casa da Fonte, do alto da freguesia de Rande, onde sua mãe fora empregada nesses tempos que se perdem na penumbra das memórias (antes de também ela ter depois trabalhado na casa de Rande, como acontecia nesses tempos de fidalgos de casas solarengas). E está registado, quanto à localização, conforme consta na narrativa oficial do seu registo de nascimento, do qual tenho prova na Certidão de Nascimento que guardo, como várias outras recordações físicas de coisas que ela guardava, também.

Assim, como no calor duma vela acesa da lembrança que me vem à ideia, lembro a minha avozinha, ao calhar desta oportunidade. Como que sentindo tê-la à minha beira, a proteger-me, na ternura da infância que quero fazer perdurar no colo de sua recordação. Como eu estarei com os meus netos sempre.


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Bibliografia DO AUTOR

Obras publicadas:

- Livro (volume monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.

- Livro «Associação Casa do Povo da Longra – 60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário, contendo a História da instituição - Abril de 1999).

- Livro (de contos realistas) «Sorrisos de Pensamento» – Colectânea de Lembranças Dispersas; publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.

- Livro (alusivo da) «Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.

- Livro (cronista do) «Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na igreja). Edição do autor.

- Livro «Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.

- Livro «S. Jorge de Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de Várzea.

- Livro «Futebol de Felgueiras – Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras e Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do Clube Académico de Felgueiras) – pub. Setembro de 2007. Edição do autor.

- Livro "Destino de Menino" - dedicado ao 1º neto - Dezembro de 2012, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- Livro "Luís Gonçalves: Amanuense - Engenheiro da Casa das Torres", patrocinado pela fábrica IMO da Longra - biografia de homenagem ao Arquiteto do palacete das Torres, de Felgueiras - Janeiro de 2014.

- Livro "História de Coração" - dedicado ao 2º neto - Novembro de 2015, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- Livro “Torrente Escrita – em Contagem Pessoal”, ao género autobiográfico – Dezembro de 2016 - edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente (apenas para partilha familiar).

- Livro “História dum Brinquedo que não se pode estragar”, dedicado ao 3º neto - em Fevereiro de 2019, em edição restrita do autor, numerada e autenticada pessoalmente.

- Livro “Luís de Sousa Gonçalves O SENHOR SOUSA DA IMO” – Patrocinado pelo IESF-Instituto de Estudos Superiores de Fafe – biografia de homenagem ao fundador da Fábrica IMO da Longra – Novembro de 2019.

- Livro “Ciclistas de Felgueiras” – sobre os homens do ciclismo português naturais de Felgueiras que andaram na Volta a Portugal e provas importantes - publicado pela editora Bubock Publishing S.L. Janeiro de 2020.

- E agora este livro “Um tal Covid na história familiar… num sorriso de vida”, dedicado ao 4.º neto, Vasco.

 (Além de livros oficiais alusivos a realizações de eventos, entretanto também publicados.)

 

Pelo Natal de de 2022


Armando Pinto