sábado, 2 de janeiro de 2021

Transcrição do artigo da revista "Evasões" do Natal de 2020 («Armando Pinto: Manter a tradição de construir o presépio»)

 

(Passada a semana correspondente  de 25 a 31 de dezembro  da respetiva edição do número de Natal da revista "Evasões", transcreve-se o que foi publicado nesse número da revista acompanhante às sextas-feiras do Jornal de Notícias. Com a correção de alguns pormenores do que saiu na publicação)

« Armando Pinto: Manter a tradição de construir o presépio

 (Fotografia de Miguel Pereira/GI))

Por Ana Luísa Santos

25/12/2020


Era um Natal simples, mas feliz, aquele que Armando Pinto vivia quando era criança, na Longra. Hoje, aos 66 anos, admite que há mais de tudo e nada lhe traz tanta felicidade como estar rodeado pelos netos.

Fazer o presépio é um ritual importante na família de Armando Pinto, reformado, após 40 anos a trabalhar no atendimento dos Serviços de Saúde. De tal maneira, que entrando-se em dezembro, a filha liga-lhe para que não se esqueça de o fazer. O processo inicia-se com a apanha do musgo, numa mata perto de onde vive, na vila da Longra, em Felgueiras, com a ajuda preciosa dos netos, com três, sete e dez anos. Desta vez, teve que ir sozinho (devido à pandemia), mas espera retomar o passeio para o ano, altura em que o seu quarto neto terá já perto de ano e meio de idade.

Recolhido o musgo, Armando coloca-o a secar junto ao jardim de casa, “debaixo do caramanchão para ficar liso”. Depois arranja-o sobre um estrado de madeira, apoiado em roletos partidos, e acrescenta papel para fazer as vezes das rochas. No estábulo, de cortiça e madeiras, coberta com um telhado em colmo, também obra de Armando, repousam as figuras “de estilo italiano, em massa”, que o acompanham desde que casou, há cerca de 43 anos.

A representação do nascimento de Jesus ocupa perto de dois metros quadrados da sala comum, onde tem lugar a ceia de Natal, à volta de vinte pessoas, com bacalhau cozido, e batatas com molho de azeite. O cabrito assado marca presença no almoço de 25, rematado com os doces caseiros da noite anterior – rabanadas, aletria, formigos, barriga de freira e tronco de Natal. E o bolo regional, comprado na Casa do Pão de Ló de Margaride.

Se hoje há fartura em cima da mesa, antigamente só se colocavam alguns doces tradicionais. “Havia um Natal de rico e um Natal de pobre”, constata. Também os presentes que se ofereciam aos mais novos eram bem diferentes. “Costumávamos receber figuras do presépio em barro, e escrevíamos logo o nome por baixo a lápis”. No ano seguinte, cada um dos seis irmãos ajudava a montar o presépio com as figuras que ainda hoje existem, cuidadosamente juntas e guardadas. Era um Natal modesto, mas feliz, para o qual Armando ansiava chegar, mal começavam as férias do seminário, onde andou até aos 14 anos. Essa alegria sente-a agora nos netos, e partilha-a com eles. Para Armando, “as crianças é o que dá mais sentido ao Natal”.

UMA HISTÓRIA DE NATAL

Um sobressalto à espera dos presentes

Armando teria uns 7 anos quando, depois da ceia, aguardava junto dos irmãos na cozinha a chegada dos presentes trazidos pelo Menino Jesus, dado que “ainda não havia o Pai Natal”. Foi durante esses minutos de ansiedade que se ouviu um barulho de algo a mexer, e um seu irmão mais velho “pôs tudo em alvoroço”, achando que poderia ser o Menino Jesus. Foi-se a ver, e não era mais… do que um gato a entrar pelo buraco do portelo.»