sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Hino de Felgueiras - em artigo no Semanário de Felgueiras

Crónica pessoal desta semana no jornal Semanário de Felgueiras, edição de sexta-feira 29 de janeiro. (Recortes do artigo impresso e imagem da ilustração referida, mas que não aparece no texto publicado):

Hino de Felgueiras – Entre Simbologia Felgueirense

Antigamente, no início do ensino escolar, aprendia-se que a Pátria é a terra em que nascemos, em que viveram os nossos pais e muitas gerações que nos precederam no chão que pisamos. A mesma Pátria una do território que D. Afonso Henriques começou a talhar à força da espada, a ínclita geração aprofundou e tantos heróis defenderam com sangue e coragem, onde repousam nossos maiores, se distinguiram governantes a par de santos e de sábios, escritores, artistas e operários... Com hino heroico e bandeira própria. E «à sombra da mesma bandeira se diz na formosa língua portuguesa a doce palavra Mãe!». Quão existe a palavra saudade...

Pois assim também a nível concelhio a nossa terra deverá ser configurada pelo felgueirismo que ressalta no sentimento felgueirense, quão Felgueiras teve de seu peito Gente que esteve na epopeia dos Descobrimentos portugueses e inclusive pioneirismo na transatlântica 1ª Travessia Aérea de Portugal à Índia. Podendo orgulhar-se de ser terra de antigos condes da nobre primazia da nacionalidade e missionários que levaram a fé aos quatro cantos do mundo. Bem como os homens e mulheres de hoje e amanhã devem honrar seus avoengos patrícios, na salvaguarda de tudo o que une o concelho, a começar na identidade de cada uma das suas históricas freguesias de sempre.

Ao Portugal alevantado da sina de Camões, corresponderá a nível local a identificação dos pormenores simbólicos, quais valores materiais, culturais e espirituais dos padrões da alma concelhia. Assim, além da natural carta geográfica do concelho, mais o brasão e a bandeira, com cores e símbolos aprovados a nível superior desde 1929 e reformulados após a elevação da sede a cidade, existe também o hino. Do qual há até um disco gravado, assim como houve uma outra canção heroica de louvor Felgueiríada desde os primeiros tempos do Coro Vicentino.

Pois existe mesmo um oficial Hino de Felgueiras, com música antiga já, da autoria de Joaquim Chicória (1876/1951), músico Vizelense outrora da Filarmónica musical conhecida popularmente por “Banda do Aniceto”.

Ora essa versão do Hino Municipal foi composta em 1919 e, depois de pela primeira vez tocada em público no ano de 1942, com dedicatória ao então Presidente da Câmara, Dr. Miguel Bacelar, foi recuperada muito mais tarde, no tempo da Presidência Municipal de Júlio Faria, com uma letra encomendada em 1991 pela Câmara Municipal de Felgueiras ao poeta Arlindo Pinto (1918/2009), Penafidelense residente em Felgueiras a maior parte de sua vida, conhecido normalmente por sr. “Cabo Pinto” da GNR. Canto esse, com nome oficial de Hino de Felgueiras Cidade, que depois teve gravação editada em disco de vinil no ano de 1992, com arranjos, direção musical e voz de Vicente do Nascimento, mais colaboração musical do Coro Musical Vicentino.

Além de tal Hino oficial, também há (ou houve) um outro hino, chamado de Hino do Concelho de Felgueiras, que aliás foi o primeiro a ter arranjo total de composição musical e poética, cuja versão foi feita em 1984 com letra de Fernando Ferreira Machado e música do Padre Carlos Moura (melodia que foi gravada em cassete através de interpretação do Coro Vicentino de Felgueiras e era entoada nos sinais de abertura e fecho das emissões iniciais da Rádio Felgueiras).

Sendo que do Hino oficializado houve alguma distribuição de discos daqueles tais de vinil, dos quais também aqui o autor destas linhas tem um exemplar, é obviamente desse que se pode dar à estampa algo do mesmo. Como se ilustra esta lembrança com imagem da respetiva capa.

ARMANDO PINTO

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Documentação literária felgueirense

Como se sabe que nem só de pão vive o homem e porque para se saber e conhecer algo é preciso haver e ter meios para isso, também de Felgueiras há livros, revistas e jornais, por exemplo, que guardam tudo que é memória coletiva.

Obviamente entre o acervo de material impresso em formato in libris nem tudo foi e é de lavra genuinamente felgariana, pois muito há também de ligações familiarizadas ao assunto. Quão até “Os Lusíadas” de Camões, além das afinidades do sentimento nacional, contêm estrofes sobre Nicolau Coelho, relacionado com Felgueiras… Tal qual um Livro dum tal PadZé conta histórias alegres sobre o Conde de Felgueiras (n’ “O Livro do Dr. Assis”); quão nas "Memórias do Capitão" João Sarmento Pimentel há bons nacos de prosa grandiosa sobre tempos idos desta região... e por aí adiante.

Como algo disso consta da biblioteca particular e afetiva do autor deste blogue. Mas gostava de ter muito mais…


Armando Pinto

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sábado, 23 de janeiro de 2021

Falecimento do Dr. Fernando Preto

 

Como quem não quer a coisa, quando menos se espera, damos conta que aos poucos, indo nos sessenta e tal anos de vida, vamos ficando já um dos sobreviventes de diversas áreas aqui da região natal. Se já de tempos de escola e da mesma época não há muitos por aqui, embora a maioria por via de terem saído da terra pelas cambiantes da vida, entretanto vão desaparecendo outros que foram acompanhantes de outros períodos do percurso da vida pública. Como aconteceu agora com o Dr. Fernando Preto.

A morte do Dr. Fernando Afonso Preto, ocorrida neste sábado 23 de janeiro, aos 66 anos, foi e é uma das notícias que não se esperam... e deixam sensação de tristeza.  O Dr. Fernando Preto que faz parte das nossas memórias de convivência no mundo do Posto Médico da Casa do Povo / Centro de Saúde da Longra.

Devido a ambos estarmos aposentados, ultimamente apenas o via quando passava no seu jipe por aqui à beira de minha casa e nos cumprimentávamos acenando. Pois, com as restrições sociais devido à pandemia Covid-19, há algum tempo que não foi possível continuar os convívios…

Curiosamente ainda por estes dias me tinha lembrado dele a propósito de conversa com alguém sobre o grande escritor Camilo. Porque o Dr. Preto, sendo natural de Caçarelhos, povoação de terras de Vimioso, era também admirador de Camilo Castelo Branco, como eu sabia por conversas com ele sobre o tema. Na extensão do caso de um dos romances mais conhecidos do famoso escritor clássico, "A Queda de um Anjo", ter por personagem um típico fidalgo transmontano de Caçarelhos, depois transformado deputado em Lisboa, totalmente transtornado com a sedução política…   

Ah, e como ele gostava de ouvir contarmos histórias de experiências de serviço, como no caso duma ocorrência com o antigo fiscal dos Serviços Médico-Sociais sr. Fontinha, o poeta Eugénio de Andrade, conforme era o seu pseudónimo literário com que ficou famoso…

Descanse em paz amigo!

Armando Pinto

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Recordando: Prémio da Associação Industrial Portuense a Joaquim Pinto, da Metalúrgica da Longra

= Quadro com o Diploma do Prémio da Associação Industrial Portuense de 1959, outorgado a Joaquim Pinto, da Longra (n. 1916 - f. 2006). Em reconhecimento de seu mérito com obra feita como funcionário empreendedor. Com realce pela criação da Sirene da Metalúrgica da Longra (e da Ferfor da Serrinha, depois). 

Prémio que lhe foi entregue em 1960, sendo uma honra para a empresa tal distinção única - como na época foi distinguido publicamente.  


*****
Na pertinência desta lembrança, juntam-se algumas imagens de ilustração, com fotografias relacionadas, desde gravuras documentais, incluindo cabeçalhos de ofícios das firmas antigas por que passou a "Metalúrgica", quer nos anos trinta como na década de quarenta, enquanto a fábrica esteve no Largo da Longra, como depois que em 1950 passou para a reta da Arrancada da Longra, também. Mais o que por aqui se mostra e recorda, como publicação celebrativa relacionada ao tema.

 
Diploma de reconhecimento pelo seu valor em vida, tanto que é o único felgueirense que foi agraciado com o Prémio da Associação Industrial Portuense (instituição mais tarde agremiada como Associação Empresarial de Portugal), ele que foi o criador da famosa sirene da Metalúrgica da Longra (que era referência de sinal meteorológico em sítios distantes, quando ouvida longe), assim como da idêntica da Ferfor da Serrinha, por exemplo. 


...E foto alusiva ao ato, junto com outros agraciados do distito do Porto.


Armando Pinto 

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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Curiosidades Felgueirenses – Um folhetim intitulado Vida Rural…

Não sendo muito abundante a existência de livros antigos com motes de Felgueiras de tempos idos, há ainda alguns casos dignos de nota. Alguns dos quais praticamente desconhecidos ou pelo menos esquecidos. Como no caso da História de Felgueiras escrita por um sacerdote, Padre Carlos Alves Vieira (“Achegas Para Uma Monografia de Felgueiras”), que durante anos foi referida como estando guardada em cofre na Câmara Municipal de Felgueiras, à espera de publicação, e acabou por ficar inédita. Mas também outros acasos, entre os que chegaram a ficar em livro. Tal como bem aconteceu com um pequeno volume intitulado “Vida Rural”, da autoria do historiador e jornalista local Manuel Sampaio.

Ora esse trabalho teve primeira aparição pública em folhetim principiado em dezembro de 1935 n’ O Jornal de Felgueiras, de que era diretor e redator o mesmo senhor Manuel Sampaio. Tendo depois em edição de autor sido reunido num livro impresso em 1936, no qual, ao longo de 55 páginas e em tom romanceado, foram publicadas histórias de genealogia, contando algumas curiosidades de antanho. Como por exemplo nesse pequeno livro ficou descrito o original Brasão de Maderne. Como outros motivos ali discorridos, noutros exemplos possíveis.

Sobre esse pioneiro historiador felgueirense já escrevi em tempos um artigo biográfico no jornal Semanário de Felgueiras (mais tarde transposto também para este blogue), em cuja narrativa registei alguns dos livros que ele editou. Ora, sabendo-se que as poucas mas importantes obras literárias de Manuel Sampaio são hoje já raridades, sabe-se também que alguns desses livros (com o nome do autor constando em grafia antiga como Manoel Sampaio) fazem parte do acervo da Biblioteca Municipal de Felgueiras. Como também particularmente esse referido livro felizmente, em seu Fundo Local.

OBS.: - Sobre Manuel Sampaio, conferir (clicando) aqui

Armando Pinto

sábado, 16 de janeiro de 2021

Hino de Felgueiras

Tal como no caso da Nação, em que a nossa Pátria tem brasão das quinas circundado pela esfera armilar, mais bandeira e o hino, também o concelho de Felgueiras tem brasão, bandeira e ainda hino.

Sendo isso mesmo pouco ou quase nada conhecido, há até mais que uma versão.

Sobre esse tema brevemente será publicado um artigo do autor destas linhas, aludindo alguns pormenores relativos, mas entretanto fica aqui neste blogue uma imagem de um disco em que está gravado o hino oficial de Felgueiras. Cujo exemplar de vinil compõe melhor ainda os arquivos do autor deste blogue.

Armando Pinto

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

In Memoriam de Matilde da Costa – Em Memória de minha Mãe – 33 anos de saudade e constante presença espiritual !

Matilde da Costa

(27/06/1915 – 15/01/1988)

Já foi há 33 anos, na sexta-feira de meio do primeiro mês de 1988, o falecimento de minha Mãe, mas ela continua bem presente em espírito no nosso coração e em nossos pensamentos e momentos.

Faz agora 33 anos, nesta sexta-feira 15 de abril de 2021.

Falecida a 15 de janeiro de 1988, às 2 horas da noite do início desse dia, no Hospital de Felgueiras e pouco depois trazida para casa, onde ficou pela última vez seu corpo até ao dia seguinte.

Nascida a 27 de junho de 1915, em Janarde-Rande, em cuja freguesia casou na igreja paroquial em maio de 1940, residindo depois sempre na então povoação da Longra, faleceu pelas 2 horas da noite de 15 de janeiro e na igreja paroquial de S. Tiago de Rande em que foi batizada e casou veio a ter as cerimónias de despedida, com missa de corpo presente e encomendação, no dia 16. Ficando por fim sepultada no Cemitério Paroquial de Rande, mas continuando bem presente no íntimo de quantos a amamos.

Armando Pinto

sábado, 9 de janeiro de 2021

Artigo de outrem na revista "Evasões", com afinidades comuns…

Quando tive a conversa em jeito de entrevista para a revista Evasões do Natal de 2020, por entre deambulações de assuntos que já seriam mais ou menos familiares por via do meu blogue sobre assuntos da minha terra, a entrevistadora perguntou-me quando comecei a escrever publicamente, ou seja quando tive o meu primeiro texto publicado. Tendo de certa forma ficado admirada, pois escrevi pela primeira vez uma redação para leitura e fixação pública numa revista do estabelecimento de ensino que então frequentava, teria então entre doze a treze anos, na revista Jardim Seráfico dos Capuchinhos de Gondomar, onde vivi pouco mais algum tempo. Tendo aí escrito sobre o meu regresso à terra, nas viagens de vindas em tempos de férias, como acontecia quando vinha a casa pelo Natal, por exemplo, quão era entusiasmante esse retorno às origens, à minha terra. Acrescentando obviamente ter mais tarde conseguido verter em livro a História da minha terra e da região envolvente, além de outros livros relacionados, incluindo um de contos versando antigas ocorrências locais. 

Ora, depois de algumas horas de boa conversa com a simpática jornalista, Ana Luísa Santos, esse tema foi um dos diversos que não foram naturalmente depois referidos no artigo da revista, que teve de cingir-se a uma página apenas sobre o mote das recordações de Natal. Tendo na ocasião sido referido que entre as jornalistas da revista, incluindo a diretora, havia afinidades desse bem-querer telúrico.

Agora, neste fim-de-semana ao ler a revista Evasões com o JN, deparo-me com um artigo da diretora-editora, Dora Mota, sobre algo do género. E como já na ocasião da entrevista me ficara na dedução, vejo que realmente há pontos comuns entre pessoas que apreciam as loas do que nos identifica e nos faz sentir bem connosco e com o que nos rodeia. De modo que esse artigo merece que seja para aqui transposto, por quanto tem de comum. Bastando mudar nomes de lugares e afetos.


Armando Pinto

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Cantares tradicionais dos Reis, em período das Janeiras

Passada a quadra de Natal, ao chegar-se aos Reis, pelo dia seis de janeiro, é tempo de alagar o presépio, como se diz popularmente. Com o desfazer daquela construção caseira a servir de final da época do encanto natalício.  Mas o início de ano, no calendário festivo anual, alonga-se pelo primeiro mês adiante, com os tradicionais cantares das Janeiras, canto que a partir do dia seis passa a ser chamado dos Reis. Sendo que depois até sensivelmente ao dia 20 de Janeiro é tempo de Janeiras e Reisadas.


Estamos em tempo do tradicional canto popular das Janeiras, na entoação visitante às casas de gente conhecida e entre amigos, através de grupos formados de diversas maneiras e feitios. Incluindo desde há anos as andanças de agrupamentos organizados, como Ranchos e formações tendentes à angariação de verbas. Com acrescento de recriação folclórica, embora nem sempre condizente à realidade, visto antigamente ser gente do povo que costumava andar a cantar nesse fito das visitas de casa e casa, não se entendendo por isso como aparecem trajes domingueiros  e de pessoas ricas em tal coreografia revivalista, atualmente.

Olhando a toda a envolvência relacionada, na pertinência da época, recordamos aqui um dos textos em tempos já publicados num artigo pessoal no Semanário de Felgueiras e de permeio também vindo a público noutra publicação:


Cantares de Janeiras e Reis

Começando pelo princípio do ano, debruçamo-nos de início, ainda que levemente, sobre os tão antigos cantares de Janeiras e Reis.

Passados os festejos natalícios, comido o bacalhau e as batatas da consoada, com a árvore decorativa a representar como que uma réstia do antigo cepo que ardia nos adros das igrejas em noite de missa do galo, e com a passagem de ano, tempo de beijar comunitariamente ainda os pés do Menino no fim das missas, chega a vez das Janeiras e complementares cantares dos Reis. Costume de influência importante noutras eras, teve formas variadas conforme as terras, por esse país fora, e também no nosso ambiente concelhio. Maneira essa de convívio que mais não é que um velho uso, deveras misturado num apego religioso revestido com sabor popular, vulgo pagão.

Segundo estudiosos eminentes da matéria, do que fomos lendo algures e anotando há longo tempo, essas reuniões de grupos de amigos, familiares e vizinhos, que iam às portas uns dos outros entoar as “boas entradas”, é uma usança derivada das “Saturnais”, festas clássicas celebradas pelo povo romano e romanizado em honra de Saturno, festividade relacionada com os segredos da crença popular comum à agricultura. Folganças aquelas realizadas por alturas das calendas de Janeiro e com a particularidade de que durante tal período desapareciam as distinções sociais.

Na antiguidade, conforme ainda algo que chegou transmitido através de alguns estudos historiadores, reuniam-se ranchos de gente, formando grupos de cada lugar ou famílias, os quais a partir da noite de ano novo percorriam as casas das pessoas mais gradas a desejar-lhes as boas festas, juntando-se por fim todos os da mesma freguesia num local tradicional, normalmente no adro ou proximidade da igreja paroquial, acabando ao calor do que restara do tronco da fogueira de natal a cantarem, ora ao desafio ou todos juntos.

A respetiva campanha, conforme a definição mais conhecida, é efetivamente uma tradicional manifestação de cultura popular de origem pagã, consistindo em reunião de grupos de pessoas que, no início de Janeiro, percorrem uma região, à noite, cantando pelas casas, ao som de instrumentos tradicionais de música, e desejando às pessoas conhecidas e amigas um feliz novo ano, por via de quadras de sabor popular. Tal como as Janeiras são “cantigas de boas-festas por ocasião do Ano Novo”. A propósito de Janeiro ser o primeiro mês do ano, sendo assim chamado em honra do deus Jano (de janua = porta, entrada). Uma outra ideia relacionada, pois Jano era como que um porteiro celestial, e, consequentemente, qual deus das portas, que as abria e fechava, esperando-se a sua proteção na partida e no regresso. Tido assim por um deus dos começos, Jano era invocado para afastar das casas os espíritos funestos. Fundamentando-se, por isso, que esta manifestação tem origem em cultos pagãos, que o cristianismo não conseguiu apagar e se foram transmitindo de geração em geração. Por extensão, a versão religiosa cristianizada das Janeiras é o cantar dos Reis, desde 6 de Janeiro.

Com o decurso dos tempos surgiram transformações desse hábito, das Janeiras e Reis, por via de que resultaram particularidades diversas. Passou a associar-se cambiante de convívio mais restrito, com esse canto noturno de porta em porta, dando vivas às pessoas das casas visitadas, a ser recompensado por meio de qualquer espécie alimentar, sendo depois essa angariação repartida por todos os participantes em folguedo final conjunto.

A partir da noite de Reis, depois da ceia tradicional, que nalgumas freguesias do concelho de Felgueiras, pelo menos, metia arroz de feijão branco acompanhado de rodelas de paio, começavam então as "Reizadas", seguindo o mesmo ritual, apenas com adaptação da letra entoada ao som dos instrumentos musicais mais acotiados.

Sendo estes cantos efetuados por grupos de mulheres e homens adultos, acompanhados por rapazes e raparigas jovens e por vezes também por crianças, em anos não muito distantes passaram a ser levados a efeito mais por jovens e crianças, com o fito de receberem donativos, conhecidos por “esmola”.

Tal tradição tem sido preservada nos tempos mais recentes, sobretudo, pelos Ranchos Folclóricos e outros grupos institucionais, com o propósito de angariação de receitas para a sua sobrevivência, em vista à manutenção anual associativa, ou por comissões e agrupamentos organizados como recolha de fundos para qualquer iniciativa de interesse público.

ARMANDO PINTO

(Texto entretanto publicado parcialmente no jornal Semanário de Felgueiras em anos anteriores e entretanto guardado para publicação em livro que tem estado há anos a aguardar viabilidade de patrocínios para publicação.)

~~ * ~~
Ora, à chegada do final da quadra natalícia, qual expirar da época festiva do Natal já passado e entrada no Ano Novo entretanto iniciado, depara-se no calendário anual a terminação dos Reis, na atualidade do dia dedicado ao tema dos Reis Magos – que, como visitantes últimos ao Menino Jesus, no seguimento da estrela de Belém, dão azo à ocasião tradicional do desfazer do presépio.

Assim, em plena época do canto das Janeiras, ancestral costume que a partir deste período dos Reis dão lugar às "Reisadas", estando-se já no fim de semana de guardar as decorações natalícias, passamos à normal vivência anual. Vislumbrando-se no horizonte uma linha de anseios natural. Como tal desejamos que se realizem os mais lindos e justos desejos comuns, entre nós, os que nos revemos nos mesmos anelos íntegros!

A. P.

sábado, 2 de janeiro de 2021

Transcrição do artigo da revista "Evasões" do Natal de 2020 («Armando Pinto: Manter a tradição de construir o presépio»)

 

(Passada a semana correspondente  de 25 a 31 de dezembro  da respetiva edição do número de Natal da revista "Evasões", transcreve-se o que foi publicado nesse número da revista acompanhante às sextas-feiras do Jornal de Notícias. Com a correção de alguns pormenores do que saiu na publicação)

« Armando Pinto: Manter a tradição de construir o presépio

 (Fotografia de Miguel Pereira/GI))

Por Ana Luísa Santos

25/12/2020


Era um Natal simples, mas feliz, aquele que Armando Pinto vivia quando era criança, na Longra. Hoje, aos 66 anos, admite que há mais de tudo e nada lhe traz tanta felicidade como estar rodeado pelos netos.

Fazer o presépio é um ritual importante na família de Armando Pinto, reformado, após 40 anos a trabalhar no atendimento dos Serviços de Saúde. De tal maneira, que entrando-se em dezembro, a filha liga-lhe para que não se esqueça de o fazer. O processo inicia-se com a apanha do musgo, numa mata perto de onde vive, na vila da Longra, em Felgueiras, com a ajuda preciosa dos netos, com três, sete e dez anos. Desta vez, teve que ir sozinho (devido à pandemia), mas espera retomar o passeio para o ano, altura em que o seu quarto neto terá já perto de ano e meio de idade.

Recolhido o musgo, Armando coloca-o a secar junto ao jardim de casa, “debaixo do caramanchão para ficar liso”. Depois arranja-o sobre um estrado de madeira, apoiado em roletos partidos, e acrescenta papel para fazer as vezes das rochas. No estábulo, de cortiça e madeiras, coberta com um telhado em colmo, também obra de Armando, repousam as figuras “de estilo italiano, em massa”, que o acompanham desde que casou, há cerca de 43 anos.

A representação do nascimento de Jesus ocupa perto de dois metros quadrados da sala comum, onde tem lugar a ceia de Natal, à volta de vinte pessoas, com bacalhau cozido, e batatas com molho de azeite. O cabrito assado marca presença no almoço de 25, rematado com os doces caseiros da noite anterior – rabanadas, aletria, formigos, barriga de freira e tronco de Natal. E o bolo regional, comprado na Casa do Pão de Ló de Margaride.

Se hoje há fartura em cima da mesa, antigamente só se colocavam alguns doces tradicionais. “Havia um Natal de rico e um Natal de pobre”, constata. Também os presentes que se ofereciam aos mais novos eram bem diferentes. “Costumávamos receber figuras do presépio em barro, e escrevíamos logo o nome por baixo a lápis”. No ano seguinte, cada um dos seis irmãos ajudava a montar o presépio com as figuras que ainda hoje existem, cuidadosamente juntas e guardadas. Era um Natal modesto, mas feliz, para o qual Armando ansiava chegar, mal começavam as férias do seminário, onde andou até aos 14 anos. Essa alegria sente-a agora nos netos, e partilha-a com eles. Para Armando, “as crianças é o que dá mais sentido ao Natal”.

UMA HISTÓRIA DE NATAL

Um sobressalto à espera dos presentes

Armando teria uns 7 anos quando, depois da ceia, aguardava junto dos irmãos na cozinha a chegada dos presentes trazidos pelo Menino Jesus, dado que “ainda não havia o Pai Natal”. Foi durante esses minutos de ansiedade que se ouviu um barulho de algo a mexer, e um seu irmão mais velho “pôs tudo em alvoroço”, achando que poderia ser o Menino Jesus. Foi-se a ver, e não era mais… do que um gato a entrar pelo buraco do portelo.»