sexta-feira, 1 de junho de 2018

Artigo alusivo à memória local da "bola" afetiva, no aniversário do Semanário de Felgueiras


Calhando a edição de 1 de junho do Semanário de Felgueiras no próprio dia do 28º aniversário do mesmo jornal, versa desta feita o artigo do autor sobre tema relativo ao registo memorando que um jornal como o SF guarda, no interesse histórico de valorização à perpetuação da memória coletiva:


Sintaxe esférica da memória

O mundo é uma bola que rebola, como diz um chavão popular. Não admirando que muito do que é mundo gire em torno de si, do próprio esférico. E como encarna o poema da Pedra Filosofal, o mundo pula e avança, qual bola comandando a vida. Tal o fenómeno desportivo, porque anda atrás duma bola, e particularmente do futebol que movimenta um mundo. Como vem a propósito lembrar, na ocasião de mais um aniversário do Semanário de Felgueiras, sendo que, entre momentos altos registados ao longo da existência dos periódicos da memória jornalística concelhia, perduram os grandes êxitos do futebol felgueirense.

Estão ainda nos olhos da recordação as primeiras páginas dos jornais locais aquando da entrada do FC Felgueiras na 1ª Divisão Nacional, como ao tempo era chamado o atual campeonato da Liga principal, e de modo particular as parangonas das primeiras subidas de divisão, uns bons anos antes. Estando assim na retina da lembrança os jornais existentes nessas eras remotas, como eram o Notícias de Felgueiras e o Jornal de Felgueiras, quando o Felgueiras andava pelos Distritais e por cá se passou a aspirar a mais altos voos; como depois à chegada ao patamar mais alto do desporto rei português já dava cartas o Semanário de Felgueiras, jornal que passara a estar por cima no panorama informativo na nossa região.


Vem assim a talhe recordar aqui algo da memória guardada nas páginas jornalísticas, atendendo ao interesse que o futebol sempre mereceu e por quanto movimentou a vida local. Dando extensivamente para valorizar a existência dos jornais, pois através deles se sabe também parte da história relacionada, ajudando isso mesmo a ter lugar na história. Quão é presente o impacto das folhas de jornais que ilustraram os feitos de Sabú, Mamede, Pimenta, Roda, Estebainha, Mário, Mendes, Rocha, Cardoso, Zé Maria, Pacheco, Monteiro e restantes jogadores do tempo da primeira subida de divisão, a meio da década dos anos sessentas; bem como antes ainda também uns Barnabé, Zeca Pinto, Augusto, Zé Carlos, etc.; tal como já depois Caiçara e tantos mais. Sendo que até foi pelo futebol que vieram e ficaram alguns bons valores de entre esses, lembrando por exemplo que Pimenta e Zé Carlos (o popular “Mãos de ferro” destas bandas) se empregaram na Metalúrgica da Longra, empresa que na época dava também desse modo grande apoio ao desenvolvimento concelhio e apoiava o crescimento do futebol local. Cidadãos esses que acabaram por ficar, arreigando-se a Felgueiras, como outros. Por entre a admiração granjeada, lembrando-nos como o referido Pimenta era conhecido popularmente por Pimentinha, em sinal de apreço por esse Ás da bola tornado figura pública no remanso da então pacata vila de Felgueiras. Até que nas andanças da história, posteriormente, em meados dos anos noventas, foi a vez de uns Lewis, Sérgio Conceição, Clint, Kristic, etc, fazerem andar a impressão de imagens e seus feitos no Semanário de Felgueiras. Jornal que mais tarde acompanhou o surgimento do continuador clube da génese ao presente do FC Felgueiras 1932, que fez renascer o entusiasmo pela bola em Felgueiras, como se verificou na recente fase em que o atual Felgueiras esteve na disputa da possível subida de divisão.


Eis então uma das balizas assinaláveis no papel que a imprensa escrita regional teve e vai detendo no universo da história local, pelo sentimento resultante na memória coletiva. Quão edificante transforma os suportes da memória em voos rasantes do conhecimento perene, tornando tudo mais próximo na distância do pensamento evocativo. Na linha sintetizadora de eternidade, à passagem de muito tempo num momento, tal como canto suave dum passarinho lendário, enquanto o pensamento pousa num galho da meditação memoranda.

ARMANDO PINTO
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