sábado, 8 de março de 2014

Tributo a um antigo Ás da bola felgueirense – em mais um artigo evocativo no Semanário de Felgueiras.


A vida sempre tem de continuar, mas tem também momentos de reflexão e consequentemente proporciona ocasiões de tributação valorizável, quanto a homenagear algo ou alguém que de alguma forma fez parte da vida que conhecemos e partilhamos.

Nesse prisma, de valorização da memória coletiva, prestamos desta feita uma homenagem pública através de mais uma das normais crónicas no Semanário de Felgueiras. De cuja mensagem para aqui se transporta o que transmitimos no respetivo artigo, do qual postamos a coluna impressa no jornal, à página 10 da edição desta sexta-feira dia 7 de Março.

(CLICAR sobre o recorte digitalizado, para ampliar)

Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos seguidamente o texto original:

Barnabé: antigo guarda-redes do panteão memorial felgueirense


Na azáfama da vida vão surgindo, por vezes, dias que são noite, no vislumbre de quão curto e passageiro é o trajeto que percorremos neste mundo. Sobretudo em lembrar como toda a nossa vivência é ligeira, no sentido da relativa brevidade, olhando-se para trás e vendo que muitas de nossas referências vão desaparecendo, na voragem dos tempos. Ora, como no inverno os dias pequenos provocam certa nostalgia e acabrunhamento, também o entardecer da vida desencadeia certo abatimento, no diferente modo de ver as coisas. Tal o que sentimos sempre que desaparecem pessoas que estimamos e admiramos, além naturalmente de entes queridos e amigos, também daqueles personagens que em momentos da vida vimos com idealismo e admiração, como figuras públicas afinal.

Pois um destes dias desapareceu do número dos vivos mais um senhor conhecido da comunidade felgueirense, entre mais naturalmente, no caso por quanto representou em determinada época para a chamada mística felgueirista, como elemento importante que foi nos tempos da implantação clubista do futebol em Felgueiras. Sabendo-se como o desporto-rei sempre foi importante veículo de promoção e desenvolvimento local, bem como elo especial de unidade bairrista. Tendo falecido recentemente o Barnabé, famoso guarda-redes de antigos tempos do futebol associativo em Felgueiras, de quando os jogos da bola começaram a despertar maior interesse e paixão e a gerar afluência de multidões. Um nome entre mais referenciais num felgueirismo sem parangonas na comunicação nacional, mas com direito a uma verdadeira recordação, quão mentalmente seja o panteão da memória felgueirense.


Com efeito, Barnabé expirou na quinta-feira dia 20 deste mês de Fevereiro, depressa se espalhando a notícia de sua morte. Não tanto pelo nome afixado nos avisos necrológicos, mas pelo cognome com que ficou conhecido. Ficando a saber-se que falecera António Joaquim da Costa, como era o verdadeiro nome completo desse senhor mais conhecido por Barnabé. Desaparecido do número dos vivos aos 78 anos, num dia pardacento de Fevereiro, em que, como diz um ditote popular, sendo pela época de S. Matias, as noites são iguais aos dias. E a notícia tocou em quem o conheceu, sobretudo por ter sido precisamente figura pública em seus tempos áureos de guardião da camisola nº 1 do F C Felgueiras. A pontos de seu nome ter andado em cantilenas que ficaram no ouvido, como, era o autor desta lembrança ainda menino e moço, por inícios da década de sessenta, e entre atentos e interessados adeptos felgueirenses se cantava, em momentos vitoriosos da equipa do Felgueiras: “O Barnabé defende a bola / Ele não tem medo / De sujar a camisola…”!


Barnabé jogou em tempos da primeira conquista regional do antigo Felgueiras, alinhando então ao lado de nomes que fizeram história entre os simpatizantes do histórico Felgueiras, como Pimenta, Sabú, Mamede, Mendes, Roda, Cardoso, Augusto, etc. Havendo depois passado a representar o Lixa, numa transferência de grande impacto pela rivalidade existente. Passou ele então a ser cobrador na empresa de camionetas da Lixa, numa feição simpática que faz lembrar ainda essa antiga função, da cobrança através de bilhetes que cortava e entregava aos passageiros, a troco de pagamento logo guardado na sacola de couro pendente a tiracolo. Como nos recordamos de o ver no trajeto da carreira para Caíde, parando sempre na Longra para colocar os sacos do correio no tejadilho, com uma vista nesses volumes de serapilheira e outra nos moços que num ápice se agarravam à escada articulada das traseiras de tais ronceiros veículos. Ficando ele, mesmo assim, ligado às recordações felgueiristas por ter jogado pelas cores lixenses na finalíssima que, em 1965, levou à primeira subida de divisão do F C Felgueiras.

Parece que foi ontem, mas já passaram muitos anos. Os catraios desses tempos tinham o Barnabé como alguém fora do comum, enquanto jogador do Felgueiras, por defender bem aquela baliza grande que víamos no campo da Rebela. Mais tarde conhecemo-lo melhor, em interessantes contactos pessoais, quando o sr. Barnabé ia à Casa do Povo da Longra assistir aos ensaios e espetáculos do Rancho criado pelo autor destas linhas, porque um dos seus netos fez parte do plantel folclórico dos primeiros passos desse agrupamento. E, tal qual diante dum quadro ou imagem, qual recordação, só não se compreende o que não se sente, como bem sentimos consideração devida a esse antigo ídolo das assistências entusiastas às tardes de bola em Felgueiras, in illo tempore.

Armando Pinto