sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Artigo no Semanário de Felgueiras - sobre o autor da Casa das Torres, Luís Gonçalves de Matos...


Do nosso espaço jornalístico, dentro da colaboração que prestamos ao jornal semanal felgueirense, damos nota do mais recente artigo, da atualidade, no Semanário de Felgueiras. Partilhando aqui a respetiva coluna, para conhecimento de eventuais pessoas interessadas na crónica impressa na edição desta sexta-feira, dia 3 de Agosto.

(Clicar sobre os recortes digitalizados, para ampliar) 

Do mesmo trabalho, para facilitar a leitura, juntamos o texto original: 

Luís Gonçalves: Engenheiro Felgueirense da Casa das Torres 

Há curiosidades que ilustram bem uma certa forma de ser e estar, quanto ao panorama da identidade felgueirense. Quão se nota no que possa valorizar Felgueiras, diante do labor felgueirense, a partir do que sobrevive no espírito do tempo. 

Estando próxima a conclusão das obras de recuperação da Casa das Torres, aquele palacete que aparece altaneiro na parte histórica restante do centro de Felgueiras, depara-se outra questão no emaranhado que toda aquela estrutura antiga provoca. 

Ora, invocando o espírito memorial, a mansão em apreço já aparecia com destaque nas páginas de revista Ilustração Portuguesa em 1919, então referida como o mais lindo palacete existente na vila-sede do concelho de Felgueiras, pelo menos desde a primeira década do século XX, quando foi mandada construir pelo inicial proprietário sr. Oliveira da Fonseca. Como paradigma da arquitetura brasileira, à época dos chamados brasileiros de torna viagem (porque depois de enriquecerem, retornavam ao país com outro estatuto). Surgindo na atualidade como emblemática construção daquela era antepassada, agora propriedade municipal, com significativa importância no ambiente citadino. O que relembra, afinal, conter uma história para contar. 

Em tal amplitude merece que se faça luz e especialmente justiça, também, num outro fator. Chegando-se ao busílis da questão, por a apalaçada casa estar apenas a ser publicamente referida pela característica arquitetura brasileira; mas, talvez por desconhecimento, não ter sido ainda afirmado que, embora realmente desse estilo, a mesma mansão é de autoria felgueirense. Assim mesmo, com efeito, pois quem desenhou e projetou tal edifício foi um natural do concelho de Felgueiras, o sr. Luíz Gonçalvez (de Matos) – conforme era referido na época. O qual, aliás, foi também autor de diversos mais edifícios ao tempo da pacata vila contemporânea da transformação coeva à 1ª República, quando o ambiente de remanso local começava a esbracejar em progresso arquitetónico; além, naturalmente, de outros locais, sobremaneira na área de residência, sendo ele da Longra, onde deixou sua lavra no risco da Casa do Montebelo e da Casa Africana, aquela de estilo brasileiro e esta última colonial, mas idealizadas pelo próprio Luís Gonçalves, tal como ainda o edifício da antiga Associação Pró-Longra, que mais tarde acolheu a instalação da Casa do Povo. 

Ele era na região um cidadão muito bem relacionado, como comprova o facto de, não sendo de classe alta, ter grandes amizades nas famílias brasonadas, sendo mesmo amigo pessoal do Conselheiro Dr. António Mendonça. Tendo Luís Gonçalves ainda ocupado o cargo de Presidente da Junta de Rande, na qual ficou até assinalada sua passagem por ser em seu mandato que, em 1915, começou a existir livro de actas. Permanecendo pelos tempos fora, através de transmissão oral ouvida em tempos às pessoas que ainda o conheceram, como senhor de personalidade vincada e, dotado na arte desenhista, ser considerado popularmente artista, arquiteto e engenheiro. De permeio exerceu o mister de professor, estando a desempenhar lugar de mestre-escola na freguesia vizinha do Unhão quando, como já era ele que fazia os croquis para as obras públicas, também (segundo informação de pessoas da família) foi integrado na Câmara de Felgueiras como oficial funcionário municipal. 

Será então tempo do Município de Felgueiras se lembrar orgulhosamente de ter tido em seus quadros um Felgueirense destes. Sendo propícia a ocasião, para, na sensibilidade que o momento de exaltação da obra confere, através de necessária investigação a papeladas documentais porventura ainda existentes desse tempo, possa ser feita inventariação de sua vida e obra, tendente a uma homenagem devida.

Armando Pinto 

Post Scriptum: 

Além do que escrevemos no jornal, de forma algo resumida para não alongar o espaço reservado, o tema apraz acrescentar ainda algumas anotações.

Entre explicações, antes de mais, repare-se que o texto do jornal não pôde ser ilustrado por a única fotografia que poderíamos anexar não ter qualidade gráfica, de molde a tornar-se minimamente visível numa folha de jornal. Mas, por neste suporte do blogue já haver outras possibilidades visuais, colocamos essa imagem a encimar este artigo, do referido homenageado neste texto, para uma ilustração possível. 

Com efeito acontecera entretanto então essa limitação, perante o escasso material possuído entre mãos. Sendo esta foto uma ampliação retirada duma foto antiga, dum conjunto de pessoas, que juntamos de seguida.


Ora esta fotografia, que publicamos no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” (no capítulo Memória Paroquial), respeita a um convívio de pessoas importantes da região, estando presente o pároco da época, em inícios do século XX, mais alguns personagens históricos, como o Conselheiro Dr. António Mendonça, da Casa de Rande, o sr. Leopoldo Sarmento Pimentel, da Casa da Torre, o sr. Luís de Sousa Teixeira, da Casa da Quinta, da freguesia de Rande, entre outros. Estando o sr. Luís Gonçalves lá (é o 4º em pé, a partir da esquerda), tendo junto a si o seu filho, o petiz que se vê na imagem seguinte, de ampliação retirada da original.


O filho do sr. Luís Gonçalves era, como fácil se torna verificar, o sr. Antoninho Gonçalves, que bem conhecemos ainda (sr. António de Sousa Gonçalves, electricista da Câmara Municipal de Felgueiras, além de fotógrafo pioneiro e personagem ligado a grupos de teatro da Longra, por exemplo). O qual era afilhado do filho do Conselheiro de Rande, ou seja do sr. Henrique Mendonça, mais conhecido como colecionador de selos postais. 

O que comprova o que no artigo foi referido, sobre a amizade do sr. Luís Gonçalves com o Conselheiro Dr. António de Barbosa Mendonça, bem como amizades com pessoas da alta sociedade, da região. 

Este sr. Luís Gonçalves foi nomeado para ter seu nome numa rua da Longra, quando o autor destas linhas fez parte duma comissão inicial para estudo da Toponímia de Rande, cuja elaboração, com este e muitos outros nomes de pessoas de valor, teve desenvolvimento em 2002. Porém esse estudo foi reprovado, alterado que foi por uma comissão nomeada pela Câmara, mais tarde, sendo então quase tudo mudado, com a aprovação da Junta de Rande em 2009; saindo assim diversos nomes que haviam sido propostos e incluídos outros, alguns dos quais sem nada de relevante em serviço da causa pública local. Resultando disso a atribuição das placas toponímicas que foram colocadas recentemente, em 2011… 

Em suma, como outros nomes de relevo haverá, o Sr. Luís Gonçalves de Matos foi um personagem ilustre, merecendo figurar entre as memórias mais dignas de perdurar. Perante tudo isto, fica-se à espera que a Câmara de Felgueiras reponha a justiça no caso, e a Junta de Rande, entretanto, ainda faça algo em sua memória. 

Assim sendo, aguarda-se, para já, que a Câmara possa fazer um levantamento sobre o assunto, investigando a documentação que poderá existir no arquivo e na própria biblioteca municipal, em vista a possibilitar um melhor conhecimento sobre a figura em apreço, atinente a uma mais que justa homenagem, pelo menos, aquando da inauguração da Casa das Torres, em Felgueiras.


A. P. 

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