segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo !


Aos amigos e acompanhantes deste nosso blogue: 

Desejo que o ano de 2013 seja bem preenchido de bons motivos e continuemos a partilhar especiais momentos de lazer em temas inerentes aos assuntos comuns. 

Aproveito para manifestar apreço pela companhia e participação neste espaço, na certeza que é de todos nós.  Tal como formulo votos que continuemos juntos, a compartilhar tudo o que respeite ao interesse histórico-literário e desperte respeito bairrista, irmanados em auto-estima telúrica. 

Bom Ano Novo!

Armando Pinto

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Prenda de Natal – Livro “Destino de Menino”


Neste Natal de 2012 a “Prenda” mais terna oferecida pelo autor destas linhas foi um livro. Um livro específico, com uma dedicatória especial. 

Porque este livro, de 24 páginas (incluindo sequência de fotos constantes na paginação), teve simplesmente uma edição reduzida, sendo de distribuição restrita como “Presente de Natal” oferecido ao meu neto e a familiares próximos, partilhamos do mesmo a mensagem respetiva, através do próprio texto. Só o texto, naturalmente, por motivos óbvios - como edição particular que é. 

Ora, em forma narrativa de estilo romântico-realista, eis esse personalizado conto: 


Destino de Menino 

2012 

= Conto – Dedicado ao Gonçalo Pinto Matos. 
Sobre ele e a pensar nele, o meu neto Gonçalo. 
Edição do autor, em tiragem restrita a 15 exemplares, numerados manualmente e autenticados com rubrica autógrafa do autor. 
Nº ..


A Pátria é a terra em que nascemos, em que nasceram e viveram os nossos pais e avós, mais muitas gerações de portugueses como nós. Assim aprendíamos nos bancos da escola e debruçados nos tampos das carteiras - a sarrabiscar de ponteiro para a lousa, o que ouvíamos desde a secretária da professora, ou de aparo em punho vertendo aos cadernos as lições, por meio das penas molhadas nos tinteiros de louça à nossa frente… Há quantos anos, pelos idos anos da década de sessenta, do século XX, na aprendizagem escolar do autor destas linhas. 

Era… É nossa Pátria todo o território sagrado que D. Afonso Henriques começou a talhar para a Nação Portuguesa, algo que tantos heróis defenderam com seu sangue e dilataram com sacrifício de vidas. A terra onde repousam esses nossos maiores, a par de santos e sábios, de escritores, historiadores e demais artistas de mérito, da gente laboriosa que cultiva o solo e faz florescer o ambiente, de todas as pessoas empreendedoras do desenvolvimento comum. Pátria! Como Mãe de todos, os que foram nossos antepassados, mais os que vivemos e os que hão-de vir. Onde é ou foi a casa em que nascemos e vivemos; o regaço materno que nos embalou e ainda acaricia nos encantos da memória; a povoação, vila ou cidade na qual crescemos ou onde têm raízes as nossas origens familiares; o sítio donde nosso carácter se liga às pessoas que nos rodeiam em amor abençoado por laços de sangue e afeição genuína. 

Onde queremos chegar? Já lá imos, tendo no pensamento uma liança à terra Mátria, nosso torrão natal que nos relacionará com a descendência, continuada para já com o meu primeiro neto, o Gonçalo. Como vamos atingir ao correr da narrativa, a seu tempo.


Pátria, na ideia de nação e enquadramento do país, vai duma ponta à outra do mapa deste extremo da Europa, do Minho e Trás-os-Montes até ao Algarve, no litoral da Península Ibérica e extensão das ilhas dos arquipélagos da Madeira e Açores. Sendo muito importante nós e os nossos termos um torrão pátrio, como local que podemos considerar nossa terra e a que nos sentimos intimamente apegados, onde nos conhecem e nós nos identificamos com as características, além de ser aqui que permanecem as estirpes familiares e princípios do que nos povoa o ser. 

Hoje em dia, na era contemporânea, é sensivelmente rápido chegar de um lado ao outro do país, conforme as vias e meios de transporte. Mas nos primórdios da nacionalidade demorou séculos a chegar do Porto ao Algarve, atendendo a ter sido da corrente ribeirinha portuense que partiram os guerreiros nortenhos à cata de expulsar os mouros para a reconquista cristã. Como? Pois já Pedro Homem de Melo cantou no seu poema Aleluia: «Como não pôr no Porto uma esperança “se daqui houve nome Portugal”?» 

Ora, então foi mesmo de forma lenta, mas precisa, a evolução da fundação e posterior alargamento de Portugal. Recuemos à formação territorial da terra portuguesa, quando Vímara Peres, um dos responsáveis pela repovoação da linha entre o Minho e Douro, foi auxiliado por cavaleiros da região na ação de presúria de Portus Cale (Porto), tornando-se o primeiro conde de Portucale, burgo que foi assim definitivamente conquistado aos muçulmanos no ano de 868. Então, se a presúria do Porto aconteceu ao correr do ano 868 e a conquista de Lisboa em 1147, o Algarve só foi conquistado em 1249. Então não é que para chegar do Porto a Faro foram precisos tantos anos?! 

Durante isso, ao Norte, em pleno Entre Douro e Minho atual, na zona da antiga Felgaria, derivada na Felgerias Rúbeas, presentemente área de Felgueiras, já havia há muito povoamento, entre avanços e recuos de fixação de povos, levando e trazendo usos e costumes, falares e crenças da cultura galaico-portuguesa. Desde recuadas épocas de primitivos sub-condados, como o Conitatus Sousa sob jurisdição senhorial da família dos Sousas, os Sousãos. Enquanto durante a afirmação nacional, no alastrar do território sob domínio dos reis portugueses, já havia paróquias integrantes de Honras, Julgados e Coutos que volvidos tempos se fundiram numa região concelhia, sendo as mais antigas freguesias da parte do posterior concelho de Felgueiras já mencionadas nas Inquirições de 1220 e 1258. Ao passo que, enquanto também se ia moldando a alma portuguesa e as bases da Pátria, Portugal nascera como Estado praticamente no Tratado de Zamora, em 1143, mas a sua independência só foi reconhecida internacionalmente em 1179 (pela Bula do Papa Alexandre III) e as fronteiras, as mais antigas da Europa, apenas foram definidas em Alcanizes já no ano de 1297. Estes alguns dos fundamentos históricos da Pátria, de Portugal como Nação. Na qual, como nossa terra Mátria temos Felgueiras. Com matrizes das raízes de outrora, por entre brumas da memória, de quanto é nossa identidade. 

Pois deveras isto dará uma história, para contar? - Poderá questionar-se. Porquê isso para dar sentido a uma história de jeito e cunho mais pessoal? 

Já lá vamos…!

Efetivamente as distâncias, mesmo que muitas, poderão a todo o tempo encurtar e fazer-se perto. E se há diferenças, também poderão surgir afetividades, na intercomunicação. Qual o carisma entre o Norte e o Sul do país, os pontos que acabaram por se encontrar no tempo através das conquistas, nas pelejas pela difusão da cristandade e construção territorial de nossa Pátria. 

Tomemos um dos devaneios descritivos de Almeida Garrett, numa das suas passeatas literárias através das suas “Viagens na Minha Terra”, obra-prima desse dos mais destacados e importantes escritores portugueses clássicos. Em narrativa que, passada que era no vale de Santarém, situou as gentes do sul na zona do Ribatejo e os nortenhos pelas águas da Beira Litoral, como exemplo das migrações, visto os de cá de cima andarem nas fainas dos mares ao longo da costa, de cima para baixo. Deixando aí o célebre literato escapar, por entre os dedos de conversa enredada, ainda no século XIX, a dado passo duma bela passagem: 

«… Ora os homens do Norte estavam disputando com os homens do Sul: a questão fora interrompida com a nossa chegada à proa do barco. Mas um dos Ílhavos – bela e poética figura de homem – voltando-se para nós, disse naquele seu tom acentuado: «Pois aqui está quem há-de decidir: vejam os senhores. Eles, por agarrar um toiro, cuidam que são mais que ninguém, que não há quem lhes chegue. E os senhores, a serem cá de Lisboa, hão-de dizer que sim. Mas nós...» (…) 
– «Então agora como é de força, quero eu saber, e estes senhores que digam, qual é que tem mais força, se é um toiro ou se é o mar.» 
– «Essa agora!...» 
– «Queríamos saber.» 
– «É o mar.» 
– «Pois nós que brigamos com o mar, oito e dez dias a fio numa tormenta (…) e estes que brigam uma tarde com um toiro, qual é que tem mais força?» 
Os campinos ficaram cabisbaixos; o público imparcial aplaudiu por esta vez a oposição, e o Vouga triunfou do Tejo. (...)» 

Este trecho constava também do livro de leitura da minha 4ª classe da escola e impressionou-me de forma a não mais o esquecer. A ponto de ter gostado de o rever na “Selecta Literária” do ensino liceal e agora lembrar, como exemplo. 

Pois então, entre toda esta dissertação, queremos alongar o quanto estivemos em busca do nosso Norte. Como, em forma popular, se poderia sintetizar numa legenda de “minha terra, minha gente e minha família”, da relação com a Terra, percorrendo caminhos daquilo que é muito nosso. Sendo importante, como queremos estender por aqui adiante, haver um local para trazermos no peito, d’algo que diga respeito ao que nos desperta, quão é termos a nossa terra. Quem viva distante, como numa grande cidade, numa metrópole com povo de muitas proveniências, se não tiver uma relação assim, terá de direcionar objetivos a pensar em terras dos outros. E não há nada como termos a nossa terra. 

Daí que haja sempre um norte, de rumo que norteamos. 

É sempre bom também, no meio disto tudo, ter alguém para nos escutar, havendo alguém interessado em nos perceber, nestas memorizações que tais. Como recordo sempre, com que ternura e saudade, a minha avozinha, retida no leito por mor de longa paralisia. E como eu, sempre que podia, sentado à beira de sua cama, pedia: - Conte-me mais uma história, avozinha! - Bózinha, diga-me um conto! E com paciência de santa, de olhos a brilhar de contente, por ali me ter junto a si, ela lá começava: Era uma vez… 

Ora… É assim mesmo que sinto, agora na pele de avô, pensando sempre no meu neto – filho da minha filha, a minha menina que cresceu e se tornou mãe deste meu menino mais lindo do mundo. Como parte de mim mesmo, agora esse meu bonito netinho, com origens aqui da minha terra, do meu sangue, sempre horizonte do meu Norte. O meu primeiro neto, qual herdeiro primogénito de amor avoengo e no que vier a sair a mim, continuador. 

Foi um neto muito desejado. Penso que há muito o ansiava, parecia que há muito o esperava. Recebido depois num aperto bem aconchegante, enleando-o nos meus braços, enquanto ele mal conseguiu mexer-se já era todo de braços estendidos ao avô. Um rosto de criança puro e lindo, coroado num bonito cabelo, como ouro sobre azul. E em seus traços um destino: quanto quero a este meu menino! 

No primeiro momento que o vi diante dos olhos, logo senti como com o nascimento dos meus filhos, bebés de que gostei logo ao nascer. E este ser assim pequenino, o Gonçalo ainda absorto, de olhos descontraídos e pensamento límpido, foi como um dia risonho e belo que vemos ao amanhecer, de felicidade. 

A vida passara a correr. Que é feito do tempo em que meus filhos cresceram? Cada momento consigo recordar, cada minuto e anos dos que os tive, a seu tempo, por entre os meus dedos de mãos agarradas. E a minha menina, que daria depois o sorriso encantador que faz rejubilar meus olhos por estes tempos… Vejo-a muito tempo atrás, com sorriso típico e conciliador no rosto, ao lado do irmão e ambos de mochila a acenar, ao saírem do carro quando os levava à escola. Sentindo divertida a minha menina, então, tal qual hoje continua a crescer na cumplicidade que temos, em nos revermos e sentirmos bem apertados da cabeça aos pés, daqui do Norte até ao Sul e de Sul vindo para Norte. Em cujos entretantos constituiu família, casada com o meu genro que, desde nosso mútuo conhecimento, é também meu outro filho e amigo. 

Chegou enfim o meu menino, depois, com a vida pela frente. Oh, o meu neto então virou o meu mundo. Tudo voltou a ter novidade e interesse. Falando por mim que escrevo, naturalmente, mas com tudo à mesma e igualzinho a ser sentido e vivido pela sua avó Linda. Enchendo a nossa casa e nos completando, o Gonçalo. 

Na evolução do percurso inerente, a normalidade das ocorrências mostrou este mais que tudo, entre outros bens. Que apreciamos viver, na existência deste tão lindo e querido menino, coberto de beijos sempre que vem até à terra dos avós maternos. Constantemente estreitado contra o peito, como que a atenuar mazelas físicas, do autor destas linhas. Ah, sim… que já puseram o coração num desalmado bombeio da vida… Até que, para já, deu nisto, de ainda por cá andarmos, podermos recordar e deixar o coração falar. 

Sinal da seiva que corre nas veias, na azulada rede onde circula o sangue hereditário, é que, numa bela manhã domingueira, o Gonçalo passou a fazer parte dos registos de batismo da terra da sua família materna, tendo sido batizado na igreja de S. Tiago de Rande, na pia do batistério onde recebera o mesmo sacramento o avô e sua descendência. Num dia de emoções e alegria, devidamente festejado e em elevado nível vivido. 

Dotado de maneiras cativantes, o Gonçalinho, muito inteligente e de grande memória (então não se esquece de nada, mesmo daqui destes ares nortenhos que só sente espaçadamente!), até bem falador (como encanta o pessoal na pastelaria da Longra, logo chamando bem explicado e audível: - Nélaaa! Ólgaaaa!), e então sempre com o avô na boca e demais sentidos, expressando-se com desenvoltura, é tudo o que gostaríamos de ter sido e queremos que ele seja pela vida fora, com sucesso. Revelando desde muito pequeno sua personalidade vincada, sem deixar as coisas pela metade. Quanto lembra o caso de ele, ao meu colo, estar a chamar a atenção ao gato do vizinho dum andar de cima, olhando para a varanda cimeira desde o terraço do nosso apartamento da Longra. Ele que gosta de animais e de fazer festas a cães e gatos, quando pode e eles estão pela conta. Embora a sua maior atenção, nestes tempos de criança até aos dois anos e pico, seja de querer ver as portas articuladas das garagens a subir e descer, pelo fascínio do movimento, puxando o avô pela mão sempre que pode assistir a uma dessas aberturas, “ábrir”, como proclama no seu falar. 

Pois de uma das vezes em que procurava chamar o tal gato, numa das primeiras experiências para deixar a chupeta, a avó tinha experimentado dizer que atirou a chupeta ao gatito e ele ficara com ela. Muito na sua boa disposição, o Gonçalo não acusou logo o toque e foi continuando a tentar conversar, à sua maneira, chamando o gatinho com falas mansas e sons labiais apropriados. Só que, passado algum tempo, vendo que lá de cima não vinha nada e muito menos a chupeta, não esteve com meias medidas e, em vez de sussurrar por gatinho (qual gatinho qual quê, qual carapuça?!), passou a outro tom já, para se fazer ouvir, chamando fortemente, decidido e já sem meias medidas: Ó gátooo…! (Como quem diz, olha a ver se queres…! E o certo é que, entre sorrisos graciosos, pela piada da reação, a chupeta voltou a aparecer.) Olha se não…?! 

Depois disso, volvido pouco tempo acabou mesmo por a deixar, quase sem custo aparente, durante a época de praia passada com os pais. Convencido, afinal, que a sua chupeta fora levada por uma gaivota, para os seus bebés… como foi repetindo ainda durante algum período de conformismo. 

Enquanto, destemido como é, e craque a gostar de andar no parque infantil em Carnaxide e Linda-a-Velha, como vemos nas imagens de telemóvel que nos manda o sr. Joaquim, entre façanhas e passatempos com os avós paternos, o Gonçalo ao chegar aqui à Longra depressa dá vida a tudo: logo vai ver o escritório do avô, quer ouvir o relógio de capela no seu toque antigo, vai andar de triciclo e bombear-se no baloiço do nosso terraço, trazendo em tais e mais andanças outra alvura (pois vê-lo ao vivo é outra coisa!), como que luz solar rompendo névoa e que a sorrir nos vem despertar, de novo. 

Ah, como surpreendeu, por exemplo, daquela vez em que, indo no carro do avô, de imediato e sem ninguém dizer nem perguntar nada, reconheceu e indicou a estrada que dava para a igreja onde, tempos antes, o levamos a ver o sino que ele ouvia encantado desde cá de casa… 

Enquanto, sempre que chega aqui a nossa casa, como sol que entra em ledo abrir dum dia, ainda de dentro do carro mal vê o avô fica eufórico e, depois, passa aos braços da avó e do tio Nuno para um “chiiii apertado”. E abraça a Lígia, de cabeça bem encostada. Como só o Gonçalo sabe fazer, nos bons momentos que proporciona sempre que vem com os pais, ver os avós da Longra. E então como é bom andar ao colo do avô (e o avô andar com ele bem encostado ao peito)…! 

…E como gosta de brincar com o Tomás, plenamente entusiasmado, e com os seus amigos Miguel, Ruben, Lara e Leandro, vizinhos da loja da avó; tal quanto andar ao colo da Mariana; ao passo que cheio de vitalidade, sempre que vai passear com o avô pela Longra, diz logo que quer ir à casa da tia Rosa ver o “scote” e as galinhas, mais o Pin e Lis (Quim e Luís), mas mal lá entra, antes de ir ver o cão todo esbaforido, segue direitinho ao sítio onde estão as bolachas… E depois quer ir ver a cadela Lua a casa da tia Fátima - para ver o tio Tónio a puxar a porta da garagem… 

E… (com tanta gente mais, entre primos, tios e amigos, que se fossemos a narrar tudo era um nunca mais acabar de peripécias joviais.) Assim como deixa as pessoas sentidas e de boca aberta quando, a quem lhe desperta afeto e simpatia, se chega ao ouvido para dizer um segredo e sussurra: - gosto de ti! 

Revendo estas e tantas outras situações, como que a reter sensações, faz-se uma viagem no espaço do tempo, enquanto as memórias, afinal, são uma forma eloquente de exaltar a vida. 

Hoje em dia, bem vistas as coisas, portanto, as tais distâncias já estão outras, encurtadas e diferentes, pois o longe se faz perto no pensamento sempre presente. 

E… eis que a terra cá está, também para o meu neto. Ele vive na área Sul do país, nos arredores de Lisboa. Mas suas raízes também estão bem entranhadas aqui no Norte. Com fortes elos a esta zona onde o imenso azul do céu é bem azul e a verde natureza vibrante, mais parecendo que o Criador salpicou com tinta de cores vivas este cenário idílico. E não é que ele, o meu neto, muito gosta de vir até cá acima, à terra do avô que é sua perdição?! Rejubilando de alegria efusiva, ao aproximar-se da “nossa casa”, dizendo de alto e bom som: 

- Chegamos à Longra! 

E mais… Como ainda com pouco mais de dois anos, por vezes, ao acordar para ir para o infantário, se apressava já a dizer à mãe, ainda no calor dos sonhos mais belos (lá tão longe e distante de próxima visita):

- Hoje não quero ir à escolinha, quero ir para a Longra…! 

 ~~ * ~~ 

Quando o Gonçalo está com pouco mais de dois anos e meio (aos dois anos e oito meses), durante a fase encantadora que é a infância, ofereço-lhe este textinho. Para ele obviamente entender e apreciar mais tarde, no belo caminhar pela evolução da idade. Guardado que fica em livro feito expressamente para o efeito. Com amor de avô, qual norte avoengo, relativo a destino e ponto cardeal do pensamento antepassado. Extensivamente para oferta também, a familiares, amigos e pessoas chegadas. Ao jeito de conto, saído bem de dentro do ser do avô Armando. Porque o Gonçalo é o protagonista principal desta história que começou com a sua vez, quando veio e é uma vez… e sempre o Gonçalo. Com destino terno de nosso menino.

Escrito no Outono e colocado como prenda pelo Natal. 

Longra - Felgueiras, Dezembro de 2012. 

ARMANDO PINTO 



Bibliografia DO AUTOR

Obras publicadas:

- Livro (volume monográfico) «Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras»; publicado em Novembro de 1997. Edição patrocinada pelo Semanário de Felgueiras.
- Livro (de contos realistas) «Sorrisos de Pensamento»
– Colectânea de Lembranças Dispersas; publicado em Outubro de 2001. Edição do autor.
- Livro (alusivo da) «Elevação da Longra a Vila» - Julho de 2003. Edição do autor.
- Livro (cronista do) «Monumento do Nicho Nas Mais-Valias de Rande» – Dezembro de 2003 (oferecido à Comissão Fabriqueira paroquial, destinando receita a reverter para obras na igreja). Edição do autor.
- Livro «Padre Luís Rodrigues: Uma Vida de Prece Melodiosa» – Na passagem de 25 anos de seu falecimento; publicado em Novembro de 2004. Edição do autor.
- Livro «S. Jorge de Várzea-História e Devoção», publicado em Abril de 2006. Edição da Paróquia de Várzea.
- Livro «Futebol de Felgueiras-Nas Fintas do Tempo» (sobre Relance Histórico do F. C. Felgueiras e Panorâmica Memorial do Futebol Concelhio, mais Primeiros Passos e Êxitos do Clube Académico de Felgueiras) – pub. Setembro de 2007. Edição do autor.

Livros oficiais (alusivos a realizações de eventos), entretanto também publicados:

- «1ª Mostra Filatélica e Exposição Museológico-Postal da Casa do Povo da Longra» (relativa a Semana Cultural de abrangência comemorativa do centenário de Francisco Sarmento Pimentel e octogenário do Correio da Longra - Julho de 1995).
- «1º Festival Nacional de Folclore “Longra/97”» (englobando partes historiadoras e galeria diretiva da Associação - Maio de 1997).
- «2º Festival de Folclore do Rancho da Casa do Povo da Longra» (contendo Lendas e Narrações das freguesias da área da instituição - Setembro de 1998).
- «Associação Casa do Povo da Longra-60 Anos ao Serviço do Povo» (alusivo ao respetivo sexagenário, contendo a História da instituição - Abril de 1999).
- «3º Festival de Folclore da Longra-Memória etnográfica do sul Felgueirense e afinidades concelhias» (Julho de 1999).
- «4º Festival de Folclore da Longra-Celebração Folclórica do sul Felgueirense» (Julho de 2000).
- «Evocações da Festa Paroquial de S. Tiago de Rande» (Julho de 2000 - de promoção à festa desse ano, por solicitação da respetiva comissão organizadora, traçando panorâmica das festas antigas.)
- «Rancho da Casa do Povo da Longra-Sete anos depois... em idade de razões» (Maio de 2001 – livro comemorativo do 7º aniversário do mesmo agrupamento e também alusivo ao 5º Festival de Folclore da Longra, de Julho seguinte – incluindo texto de fundo narrativo do “Conto de um Rancho Amoroso”, sobre a história do grupo em questão.)
- «6.º Festival do Rancho da Casa do Povo da Longra – Desfile de Oito Anos de Vida» (Junho de 2002).
- «7.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Danças Mil em Nove Anos de Folclore» (Junho de 2003).
- «Grupo de Teatro da Casa do Povo da Longra – Sete Anos na Arte de Talma Associativa» (Outubro de 2003 – Primeiro livro historiador do respetivo agrupamento, em tempo do seu sétimo aniversário).
- «8.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Alcance duma Década Etno-partilhada» (Junho de 2004).
- «9.º Festival da Associação Casa do Povo da Longra – Comunhão de Tradição Associativa» (Junho de 2005).

Próxima publicação:

- Livro «Luís Gonçalves: O “Engenheiro” da Casa das Torres» (projetada edição).

Obra a publicar, concluída mas à espera de edição (para quando possível):

- Livro (futuro) de «Remembranças Felgueirenses», sobre notas de Recordações e Curiosidades do Concelho de Felgueiras.



Ficha Técnica:
Título: Destino de Menino
Autor: Armando Pinto
Edição do autor, restrita de 15 exemplares.
Dezembro de 2012.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal - Boas Festas Histórico-Literárias!


Aos Amigos leitores, interessados em assuntos locais e companheiros de andanças literárias, pesquisas históricas e afeição bairrista: 

Desejo um Feliz e Santo Natal, extensivo à quadra com votos de Boas Festas. E que durante o próximo ano e sempre se prolongue o espírito natalício!


Armando Pinto

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Apologia ao “Presépio”, no Semanário de Felgueiras


Na sensibilidade da quadra natalícia, escrevemos para o Semanário de Felgueiras, na habitual crónica, desta vez, sobre o tradicional Presépio, das mais eruditas ilustrações comemorativas do Natal. 

Dessa crónica publicada no Semanário de Felgueiras, eis aqui, de seguida, o recorte da respetiva coluna incluída na página 12 da edição impressa do SF desta sexta-feira 21 de Dezembro.

(Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar e ler) 

Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos o texto revertido conforme o original datilografado: 

Presépio de Natal 

Aí está a chegar o Natal, em mais um tempo de interiorização, no regresso à idade de sonhos da nossa meninice, como afinal deixamos nossos pensamentos voar e pousar como pomba sobre ramo, da árvore que nossa alma mantém viçosa. Uma época de apego a símbolos, quando deixamos fluir os mais belos sentimentos, porque a vida deve ser mesmo vivida. 

Há sempre lembranças e saudades de tempos antigos, quando o Natal era mais apreciado em todo o seu esplendor, nas recordações de cada um. Numa época em que, por exemplo, nos sítios das andanças do autor, havia sempre um presépio montado em cada loja comercial da Longra, por exemplo, assim como em muitas habitações, indo nós, nas rodas de amigos de passatempos, em visitas como quem passa por capelinhas, ver e comparar os presépios que se viam então nesses e outros estabelecimentos públicos, bem como nas casas de alguns colegas, cotejando a disposição do musgo, o papel sarapintado a imitar pedras, as imagens se eram mais ou menos bonitas e perfeitas, as pequenas velas presas aos ramos por molas de ferro ou as lâmpadas que começavam a revezar tais luzes tradicionais…. Enfim, num sem número de pormenores que eram maiores a nossos olhos, num encanto que o Natal transmite. 

Na vida dos povos sempre ocasiões houve mais propícias a manifestações do chamado divino, na maneira de sentir e viver, sendo a quadra natalícia um encontro atrativo. A pontos do próprio rifoneiro tradicional ter traçado o Natal como meta em diversos aspetos, a começar no enquadramento e previsão meteorológica. Tal foi sendo valorizado na sabedoria popular, que “dos Santos ao Natal (o crescimento do dia) é um salto de pardal”, enquanto em meteorologia “dos santos ao Natal é inverno natural”, quão “dos santos ao Natal ou bem chover ou bem nevar”, e por aí adiante ficou apontado em ditados populares. Tal como noutros sentidos representa um lugar referencial. 

Na importância que acaba por se atribuir a esta quadra e suas representações, há efetivamente um carisma especial por quanto possui caraterísticas únicas, mercê dos laços da tradição. No calor humano sentido, afinal de contas, em tal festa da família por excelência e tudo o que o se relaciona à envolvência, pese as alterações que vão surgindo nas transformações do tempo, mas contudo com alguma fidelidade a tradições provindas de eras antepassadas. De quanto sobressai ainda na vivência do calendário em terras do interior nortenho. É a ceia da consoada natalícia, momento magnífico da convivência familiar, a missa do galo, nas paróquias onde ainda tem lugar, mais a cerimónia do Beija-Menino nas missas da noite e do dia, e tudo o mais, sem olvidar a sentida evocação dos ausentes, como acaba sempre por aflorar nas conversas de recordação… Ah, e o efeito do repique dos sinos, o reflexo das luzes que cintilam na árvore e mesmo em torno do presépio...


Ora o presépio, hoje já arredio de muitas casas e mais sítios, foi em tempos uma presença tradicional muito significativa. Construído dos mais variados feitios e gostos, levanta-se na figuração da lapa de Belém, como ilustração da natividade daquele Menino nascido no oriente, num humilde estábulo, segundo a tradição antiga. E adorado desde logo por todos os que tiveram conhecimento de tal facto divino, quando aconteceu há cerca de dois milénios nos arredores daquela Belém da Judeia que há muito é falada nas igrejas através das sagradas escrituras. Presépio que extravasa o musgo que exemplifica a natureza ambiental, sobreposto por ornamentações, quais arremedos de morros, caminhos e rudes construções, ao sabor da inspiração e engenho pessoal da feição respetiva, sem descurar gostos etnográficos e ar plebeu, na religiosidade tradicional. Pois o presépio encadeia, afinal, um quadro temático de horizonte emblemático, encerrando algo da sensibilidade natural, de quanto o nascimento de Cristo detém lirismo peculiar, na necessidade humana de amplitude e transfiguração. Sendo o presépio como que o coração poeta do povo a embalar os mais íntimos desejos. 

 Armando Pinto

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Boletim Informativo da Paróquia de S. Tiago de Rande, Nº 9 - Ano nove – Dezembro de 2012.


Está já publicado, pronto para ser distribuído nos próximos dias pelas casas da freguesia, o anual Boletim Informativo da Paróquia de S. Tiago de Rande, do concelho de Felgueiras. 

Tal qual nos anos anteriores, correspondendo a pedido do pároco e comissão respetiva, tivemos autoria da elaboração (sobre dados fornecidos pela entidade proponente) também deste número do Boletim Informativo da Comissão Fabriqueira da Paróquia de S. Tiago de Rande, n.º 9, do correspondente ano 9, de Dezembro de 2012. Assim, havendo participado com a escrita do respetivo texto, colocamos visualização deste mesmo Boletim, como registo do que vai ser distribuído pelas famílias de Rande, agora editado pelo nono ano, numa coleção de registos anuais guardados nas sucessivas edições.







Armando Pinto 

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Artigo sobre “Antecedentes Históricos Felgueirenses”, no jornal Semanário de Felgueiras


De mais uma crónica publicada no Semanário de Felgueiras, eis aqui, de seguida, o recorte da respetiva coluna incluída na página 12 da edição impressa do SF desta sexta-feira 14 de Dezembro.

(Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar e ler) 

Do mesmo, para mais fácil leitura, colocamos o texto revertido conforme o original datilografado: 

Antecedentes Históricos Felgueirenses 

Em época presente de indefinição, estando na baila a agregação de freguesias, vem a propósito uma vista por algumas das peripécias que fizeram memória no percurso histórico de ligação. Quanto a área geográfica em que se situa Felgueiras sentiu através dos tempos as transformações do noroeste minhoto-duriense e viveu também momentos comuns à grei nacional. Como passamos a descrever, em leves traços retrospetivos. 

Para se não recuar em demasia no tempo, mas avançando cronologicamente em resenha histórica uma visão ampla de longa existência, pode adiantar-se que após os diversos estádios de povoamento com estadas de diferenciados povos, de que perdurou com maior ênfase sobretudo a génese lusitana e as marcas da romanização, foram porém os Godos que influência mais marcante tiveram na consolidação da identidade profunda, como se comprova pelas réstias toponímicas deixadas, em denominação geográfica, nos nomes das terras, através das raízes genealógicas dos antepassados destes sítios. 

São paradigma no caso os topónimos de origem germânica derivados dos primeiros colonos definitivos, fidalgos godos romanizados, que legaram seus nomes às quintas originárias dos primitivos povoados, as “villas” rústicas florescentes da exploração do território, de cujas denominações na evolução através do tempo resultaram nomes de lugares e sucessoras freguesias. Entre o que se nota desse rasto, em variedade de referências provindas de antigas villas romano-godas, que deram origem a nomes próprios de atuais freguesias, como Aião, Airães, Friande, Godim, Idães, Margaride, Moure, Rande, Regilde, Revinhade, Santão, Sendim, Sernande, Unhão... Havendo ainda notícias de nomes de primitivas paróquias, de tempos de suevos e visigodos. 

Naturalmente que outros nomes tiveram diferentes origens, em diversas peripécias semânticas. Por exemplo, os topónimos (nomes de lugares e/ou freguesias) derivados de pedra são muito frequentes na Galiza e em Portugal. Conforme estudos vários sobre a toponímia galaico-portuguesa, os mais antigos topónimos reportados a pedra, às pedras ou ao carácter pedregoso de um sítio, tal como Pedreira, foram anteriores ao latim. Ainda pré-latino é o nome de Várzea, provindo do topónimo pré-romano Varcena, com significado a apontar para campina cultivada, em vista do solo fértil que aí campeava. Posteriormente, de afinidade linguisticamente ao latim, houve outros casos pós-latinos (românicos ou medievais, ou já galaico-portugueses e mesmo portugueses), como se nota no nome do lugar de Pedra Maria, que «é um vestígio evidente de um ancestral culto das pedras», alusivo à fé derivada de falado aparecimento de uma imagem num penedo. E em diversas freguesias, nomes de lugares, ainda, indicam uma toponímia antiga a fazer eco de uma atividade, como Vinha, por exemplo. Já Vinhó, diminutivo de Vinha, tem sempre termo de comparação relativamente perto, como acontecia no nome da Fonte da Vinhó que, em tempos passados, existiu em Rande junto a um campo de vinha da Casa da Quinta. E, a calhar a talhe, por se referir o nome Quinta, esse é um nome exemplar de quanto o antigo mundo rural teve peso na toponímia nortenha do país e particularmente nesta região felgueirense, em apreço. Como uma substancial parte dos topónimos se refere a um estilo de vida centrado em atividade agrícola, relacionada a propriedade maioral do sítio respetivo, a antiga quintana, posterior quintaa e depois também quintã, relacionam importante quinta, na evolução semântica de lugar assim denominado, na fragmentação em sub-unidades das pioneiras villas. 

Desses antigos povoamentos dão conta alguns restos encontrados em escavações arqueológicas, sobretudo de antigos povoados de que existem testemunhos por vestígios encontrados, entre outros casos, no monte do Senhor dos Perdidos, em Penacova; no monte de Aparecida, em Pinheiro; no alto de Cimalhas, na fronteira de Sernande, Rande e Varziela, de antigo habitat; e em Sendim, no monte do Crasto e nas ruínas de antiga villa romana. 

© Armando Pinto

domingo, 9 de dezembro de 2012

Um dia em Fátima…


Integrando grupo excursionista destes nossos lados, num conjunto de pessoas da zona sul do concelho de Felgueiras, estivemos em Fátima no dia da Imaculada Conceição, nesse 8 de Dezembro de fresca e marcante memória, que aqueceu corações em horas de frio invernoso. 


Relacionando factos, tal como meu neto me segreda ao ouvindo (sussurrando: “Gosto de ti”!) e numa homenagem sentida, no artigo anterior a este, dedicamos a nossa Mãe… deixamos aqui também algumas fotos de recordação, sem mais palavras que as que proclamam as imagens - qual sussurro mais, desta feita apenas como tal. Fixando instantâneos a deixar fitar momentos passados diante de exposições patentes em áreas do santuário e, especialmente, das cerimónias decorridas no altar exterior do recinto, além de vistas de lugares interiores e outros pontos de interesse, em Fátima.
















Armando Pinto

sábado, 8 de dezembro de 2012

À minha Mãe… em Dia da Imaculada Conceição – Antigo Dia Tradicional da Mãe!


…Líamos e cantávamos nos bancos da escola, apontando sobre as letras do velho manual, que ninguém no mundo nos tem mais amor do que a nossa Mãe… e logo pensava também em meu pai, de quem sempre gostei muito. Mas a imagem da Mãe vinha sempre à frente dos olhos e continua…


Agora, tantos anos passados, li há pouco uma frase, consubstanciando um pensamento, que nos faz recuar no tempo e toca sentimentos profundos: 

«…Dia 8 de Dezembro, histórico Dia da Mãe, é um dia triste para todos aqueles que perderam a sua mãe. Mas a nossa Mãe nunca morre, está sempre connosco… Então este é apenas mais um dia no qual não vejo fisicamente a minha mãe mas sei que ela está em todas as coisas, materiais e imateriais, pois uma mãe nunca morre. Damos um beijo no vento e ele vai ao seu encontro. Como poderia uma mãe partir se ela é incapaz de abandonar os seus filhos? E como pode um filho dizer que a sua mãe morreu? Nunca! O amor de mãe é eterno!» 

Sabemos que hoje em dia a data dedicada às mães é em Maio, naquelas alterações que vão surgindo ao longo dos tempos e suas transformações. Contudo o dia 8 de Dezembro continuará a juntar pensamentos dirigidos à memória de nossa Mãe. Até ao Além!


Em toda esta sintonia afetiva, numa homenagem a minha Mãe, prestamos hoje, neste dia, uma reverência à memória materna, através de algumas páginas contemporâneas de nossa meninice, passando os olhos por folhas do catecismo e do livro de leitura escolar, como a dizer-lhe baixinho, sussurrando ao ouvido: Gosto muito da minha querida Mãezinha!



Armando Pinto 

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Histórias à volta da Casa das Torres – Crónica no Semanário de Felgueiras


Ainda de fresco que está a inauguração da Casa das Torres, em Felgueiras, franqueadas que foram as portas desse pólo de cultura há poucos dias, e no mesmo âmbito da campanha que dedicamos ao reconhecimento do autor da engenharia da mesma edificação, publicamos mais algumas notas descritivas sobre a mesma temática em mais um artigo saído a público no jornal Semanário de Felgueiras, no seu número desta sexta-feira. Com material retirado dum excerto do livro que escrevemos para a ocasião, mas não chegou a ser editado, entretanto...


Dessa passagem, aproveitada para o efeito de reforçar mais o tema, partilhamos agora recorte da respetiva coluna incluída na página 12 da edição impressa do SF de 7 de Dezembro passado presente.

(Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar e ler) 

Do mesmo trecho, para mais fácil leitura, como tem sido norma, colocamos o texto revertido conforme o original datilografado: 

Histórias Estiradas da Casa das Torres 

Abertas oficialmente as portas ao público, após obras de transfiguração operadas, a Casa das Torres de Felgueiras impõe-se no panorama estrutural da identidade Felgueirista. Numa visão algo transcendente, a que não é alheio o passado que transporta em suas linhas, por sinal da autoria dum felgueirense, Luís Gonçalves, cujo perfil já apresentamos aqui em crónicas anteriores. 

Tal lavra, da planta do edifício saída do estirador felgueirense, ajusta mais interesse em torno do personagem em apreço, entre temas de histórias estiradas, no relacionamento à própria edificação - como ficou expresso em painéis expostos durante a inauguração, conforme o que escrevemos para o efeito (do que a imagem anexa dá parcial visão).


Assim, esse felgueirense de nome Luís Gonçalves era oriundo duma cepa artística, visto seu pai ter sido um artista pedreiro na arte da construção civil, como mestre-de-obras, especializado em talhar a pedra. Com efeito o progenitor, natural de Braga, onde andou na escola de cantaria, viera para Felgueiras graças aos seus dotes de lavrar as pedras, artisticamente, num tempo de grande profusão de construções graníticas. Sendo aquela uma época em que se faziam muitas casas imponentes. Com esse surto de progresso e mudanças, ganharia ainda raízes na região José Gonçalves – assim era o nome completo do patriarca da família - acabando ele por se radicar nestas paragens sousãs, por via do trabalho e por se haver deixado prender diante duma moça dos sítios que frequentava, com quem veio a contrair matrimónio. Tendo casado com essa jovem senhora, de nome Maria Joaquina, duma família conhecida por Matos, sobrenome que porém não ficou no respetivo livro dos registos de batizados de Rande, paróquia donde ela era natural. O Sobrenome do chefe de família, ainda em português arcaico, escrito na forma Gonçalvez, passou a Gonçalves no registo de matrimónios de Rande, em cuja igreja paroquial foram recebidos os noivos, ao pé do altar-mor, ainda com uma pintura de S. Tiago, abaixo da banqueta central que já então era encimada pelo presbitério decorado com uma tela representativa da adoração do Santíssimo (com anjos em genuflexão perante a hóstia e o cálice, num lindo e valioso painel que até há pouco - retirado que foi em 2012 - havia a cobrir o trono)… 

Adiante. Juntos os trapos do bragal e as limpezas de dote, ficou o casal a residir na vizinha freguesia de Sernande, onde havia uma casa de herança familiar, no lugar da Piedade. Nessa herdade nasceu o filho Luís, antes de todos se terem mudado, de malas e bagagens, até outra residência posterior, para a casa que ficou a servir de habitação permanente, no lugar de Casal Côvo, da freguesia de Rande – uma acolhedora e rustica quintazinha toda murada (hoje conhecida por Casa das Ferreiras). 

Enquanto isso, em virtude da posição assaz estável da família, derivado ao trabalho bem remunerado e melhor apreciado do progenitor, o jovem Luís, após aprendizagem das letras escolares, foi estudar desenho para Braga, com vista a ganhar bases mais importantes na linha familiar de construção. Ficando aí em casa de uma tia, que o acolheu durante sete anos de duração dessas noções mais adiantadas, que metiam Estudos Sociais. Com tal bagagem, regressou depois, mas, em vez de prosseguir a tradição familiar, enveredou pelo ensino, passando a dar aulas como mestre-escola, na sala de aulas do Unhão. De permeio cumpriu ainda serviço militar, como Lanceiro da Rainha. E seguiu sua vida, casando depois, por sua vez, tornando-se até um homem de respeito. A pontos de, entretanto, haver ocupado o cargo de Presidente da Junta de Rande. Estava então no auge de solicitações para fazer plantas de casas, havendo no panorama grande afluência de obras, por via do filão brasileiro. Foi sensivelmente por essa época que lhe foi encomendado o desenho para ser construída a Casa das Torres, na então vila de Felgueiras. Tornando-se Luís Gonçalves autor da planta da mesma vivenda, cuja edificação decorreu aí a meio da segunda metade da segunda década do século XX. Entre 1915 a 1917/18, visto em 1919 já ter sido captada em imagem que foi publicada no número de 02 de Junho de 1919 da “Ilustração Portuguesa”. 

© Armando Pinto


Natal no Comércio Tradicional da Longra


Aí está o Natal quase à porta, com iluminações cintilantes e montras decoradas a preceito, no caso. 

Seria bom que pudesse haver sempre Natal na vida das pessoas, no estado de alma, mas também na envolvência bonita que esse período de paz anímica provoca, enquanto bem estar interior que sentem as almas bem intencionadas. Contudo, sendo a vida como é, há que valorizar o que mais tem valor, simplesmente, deparando-se assim o Natal e outras ocasiões especiais, aos olhos mundanos, como bens do mundo afinal. Assim, o Natal é como é e deve ser apreciado dentro das melhores possibilidades e boas vontades. 

Como tal, no espírito comemorativo da quadra, em apreço, sempre se associa criança com lembrança, na ideia dos presentes, quer entre miúdos como graúdos, dentro da criança que há dentro do sentimento geral, em todos nós. Desempenhando aí um papel deveras atrativo o ambiente das compras, em cujo âmbito existe o chamado comércio tradicional, pela convivência movimentada dentro e fora de portas, fazendo parte dos momentos associados à simbologia e magia festiva do sortilégio natalício.


Nesse prisma, desta feita ilustramos um aspeto ambiental da dinâmica local, no nosso meio conterrâneo, através de imagens de uma das lojas comerciais da Longra – a “Casa Linda”, no Edifício Nova Longra - tomando o todo pela parte, que nos toca também.




© Armando Pinto 


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