sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Conto dum Destino – Deixando falar palavras escritas, em artigo no SF…


Seja permitido, desta feita, que deixemos falar algo íntimo, pela escrita, expressando celebração personalizada. Na extensão da vida, como dizia Bob Dylan numa célebre canção, cuja resposta flutua no vento. Em sentido emblemático de percurso do caminho existencial, tal como aludia esse canto referido ("Blowin' ind the wind": Soprando ao vento), tornado hino adotado pela juventude dos anos 60's, a pontos de ter merecido diversas traduções e adaptações, inclusive em cânticos litúrgicos. Na interrogação do que deve um homem andar até conseguir viver algo especial, como quanto tempo tem de passar antes de poder dignamente repousar de bem com a vida. Transportando para aqui num contexto de paz e harmonia. E aí, lá vem a resposta a flutuar no vento, sim, vindo na leveza dum sopro de vento, voando até pousar... e se poder contemplar.


Ora então, na força que pode ter a simbologia das palavras, em alimentação humanizante das relações afetivas, damos especial ênfase pessoal ao afeto sentido através duma maneira narrativa, para deixar voar sentimentos ao sabor da escrita. Que foi e é o que fizemos, desta vez, pela transmissão em forma de conto. Como passamos à prática, pela via descritiva, qual oportunidade de mais uma contribuição publicista na colaboração ao periódico mais regular de Felgueiras. 

Desse artigo, transmitido em forma de conto, deixamos aqui também mensagem, dando nota da respetiva coluna publicada na edição do jornal Semanário de Felgueiras desta sexta-feira, 26 de Outubro, à página 12..


(Clicar sobre o recorte digitalizado, para ampliar) 

Do mesmo, para mais fácil leitura, acrescentamos transcrição do texto original: 

Conto dum Destino 

Cada um de nós tem seu abrigo, onde nos resguardamos, qual recanto em nosso íntimo, como gruta de lugar de encontro e deleite. Onde e com quem expandimos o que anda cá dentro, dando largas ao que é connosco. 

Assim, no meio disso tudo, há sempre alguém que nos toca e nos faz perceber melhor a vida, do que fomos e somos. 

Ora… Estando agora na pele de avô, penso sempre no meu neto. Como parte de mim mesmo. Um neto muito desejado. Penso que há muito o ansiava, parecia que há muito o esperava. Recebido depois num aperto bem aconchegante, enleando-o nos meus braços, enquanto ele mal conseguiu mexer-se já era todo de braços estendidos ao avô. Um rosto de criança puro e lindo, coroado num bonito cabelo, como ouro sobre azul. E em seus traços um destino: quanto quero a este meu menino! 

No primeiro momento que o vi diante dos olhos, foi como um dia risonho e belo que vemos ao amanhecer, de felicidade. Virando o meu mundo. Tudo voltou a ter novidade e interesse. 

Dotado de maneiras cativantes, muito inteligente e de grande memória (então não se esquece de nada, mesmo daqui destes ares nortenhos que só sente espaçadamente!), até bem falador e então sempre com o avô na boca e demais sentidos, expressando-se com desenvoltura, é tudo o que gostaríamos de ter sido e queremos que ele seja pela vida fora, com sucesso. Revelando desde muito pequeno sua personalidade vincada, sem deixar as coisas pela metade. Quanto lembra o caso de ele, ao meu colo, estar a chamar a atenção ao gato do vizinho dum andar de cima, olhando para a varanda cimeira desde o terraço do nosso apartamento da Longra. Ele que gosta de animais e de fazer festas a cães e gatos, quando pode e eles estão pela conta. Embora a sua maior atenção, nestes tempos de criança até aos dois anos e pico, seja de querer ver as portas articuladas das garagens a subir e descer, pelo fascínio do movimento, puxando o avô pela mão sempre que pode assistir a uma dessas aberturas, “ábrir”, como proclama no seu falar. 

Pois de uma das vezes em que procurava chamar o tal gato, numa das primeiras experiências para deixar a chupeta, a avó tinha experimentado dizer que atirou a chupeta ao gatito e ele ficara com ela. Muito na sua boa disposição, o Gonçalo não acusou logo o toque e foi continuando a tentar conversar, à sua maneira, chamando o gatinho com falas mansas e sons labiais apropriados. Só que, passado algum tempo, vendo que lá de cima não vinha nada e muito menos a chupeta, não esteve com meias medidas e, em vez de sussurrar por gatinho (qual gatinho qual quê, qual carapuça?!), passou a outro tom já, para se fazer ouvir, chamando fortemente, decidido e já sem meias medidas: Ó gátooo…! (Como quem diz, olha a ver se queres…! E o certo é que, entre sorrisos graciosos, pela piada da reação, a chupeta voltou a aparecer.) Olha se não…?!

© Armando Pinto

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O grande industrial sr. Américo Martins, em momentos comemorativos da MIT / Metalúrgica da Longra


Quando pensamos na terra Mátria, como se considera o torrão natal, sendo a verdadeira Pátria a terra que nos viu nascer, crescer e multiplicar na vida, num contexto de apologia sobre temas do rincão afetivo, com propriedade se pode pensar num abrigo, por associação. Ao jeito imaginário duma caverna abençoada, de lugar de ligação e união. Qual sítio onde nos sentimos bem e em casa, como é afinal, sendo localidade onde vivemos e gostamos de estar. 

Nesse prisma, continuemos com propósitos de elevação da nossa terra, através de evocações tendentes a puxar a brasa da memória coletiva. 

Assim, porque num dos recentes posts aqui colocados lembramos a figura que foi o sr. Américo Teixeira Martins, acrescentamos desta feita mais itens à memorização de sua obra, por meio de recordações refletidas em duas publicações referentes à vida da Mit / Metalúrgica da Longra: Através de visualizações dum exemplar de celebre livro-catálogo editado em 1945, do qual respigamos uma página interior alusiva à comemoração dos 25 anos da Mit; e do livro publicado aquando da homenagem feita em 1958 ao mesmo fundador da Mit /Metalúrgica da Longra, L.da. De cuja festa juntamos imagens (ao início e final deste artigo) - Reportando, em cima, uma panorâmica do exterior, à chegada dos convidados e pessoas assistentes, mais, já no interior, algo do aspeto da sala onde decorreu o repasto; e, em baixo, fases do momento protocolar de discursos e aspetos de algumas das mesas, repletas de funcionários da empresa...





© Armando Pinto 

== Clicar sobre as imagens, para ampliar e ver melhor ==


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Nossa Pátria - Crónica no Semanário de Felgueiras


Mais um texto, em nova etapa à continuidade da colaboração no Semanário de Felgueiras, desta vez com um artigo de alcance mais dilatado à temática nacional, na relação com a Felgaridade sempre presente no idealismo dos escritos de nossa lavra. 

Assim, aqui fica recorte do artigo incluído na página 10 da edição impressa do SF desta sexta-feira, dia 19 de Outubro, sob título “Nossa Pátria”:

== Clicar sobre este recorte digitalizado, para ampliar e ler == 

© Armando Pinto

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Carvalha da Padaria da Longra


Como é do conhecimento geral, entre a população que vislumbra o que rodeia o ambiente, há imagens retidas nas memórias que são deveras características do que é identificado com o meio em que se insere uma comunidade. Tal o caso local, aqui para nós que andamos e gostamos de estar por aqui, pela zona sul do concelho de Felgueiras, de, entre diversas particularidades, haver a existência na Longra daquela árvore muito antiga conhecida por Carvalha da Padaria. Uma réstia de outros tempos, depois que foi derrubada em 1982 a árvore central da Longra, como era o célebre espécime de cedro, mais conhecido por pinheiro do Largo da Longra. 

A essa velhinha árvore se associam diversas curiosidades, na boca do povo e da tradição. Da qual nem seria necessário dar muito enfoque, por ainda ser bem de nosso tempo e andarmos sempre com ela nos olhos, passando sob suas ramagens e vendo suas landes e posteriores folhas caducas caírem. Porém a imponência e vetustez dessa árvore não deixam indiferente o olhar interessado. 

Em vista disso, como lembrança dessa árvore mais que centenária, guardamos à posteridade uma imagem das que publicamos no livro da História da região, o Memorial Histórico, que aqui anexamos.


Ora, é sabido que esse exemplar da natureza, a carvalha da Longra, representa autêntica recordação para muitas gerações, atendendo a ser uma árvore muito antiga, cuja memória se perde na penumbra dos tempos. No livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” fizemos-lhe diversas referências, chamando agora até aqui, para este efeito, a visão duma página (que se anexa)...


...Assim como no início deste artigo colocamos, como imagem de abertura (ao cimo), uma visualização interessante, reportando a captação fotográfica feita por volta do ano de 1947, já então considerada essa árvore muito velha na tradição popular, quando ainda estava de pé o barracão da antiga fábrica MIT (a que o povo depois chamava fábrica velha, quando se deu a transferência para a nova Mit / Metalúrgica da Longra).


Pois recentemente a mesma árvore mudou de visual, após ser podada, numa poda vasta levada a cabo pela primeira vez - para que possa manter-se de pé por muitos anos, sem perturbar nada nem ninguém, de modo a não representar qualquer perigo público. Porque dias antes, ao chegar os primeiros efeitos do Outono, havia caído um dos seus grossos ramos, por sinal um grande “cano”, ruidosamente tombado com aparato numa noite, sem grandes danos felizmente. Mas para evitar que eventuais outros “braços” se partissem, podendo cair sobre algo ou alguém, em boa hora foi procedido ao desbaste das respetivas ramificações pendentes sobre as vias públicas. Estando agora, então, com novo aspeto, pronta a mesma árvore para fortalecer e renovar.


Foi em Setembro – como também diz uma conhecida canção, da chegada do Outono. E a Carvalha da Padaria da Longra está como se registou em captação fotográfica atual, aqui e agora. Qual ilustração acrescida às demais sugestivas imagens fixadas. 

© Armando Pinto 

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Memorizações Felgueirenses


Na linha do trilho de preservação e transmissão que aqui se tem procurado fixar e comunicar, damos sequência à transmissão dalgumas particularidades mais, de modo a procurar elevar a valorização de factos e casos felgueirenses. 

Nesse intuito, continuamos enquanto a memória permitir, de modo a que não esqueça e ainda se passe a conhecer algo mais do que merece memorização no âmbito concelhio. 

A tal nível de possível interesse, aportamos aqui algumas imagens curiosas. Começando (na foto de cima), por uma formação do Corpo dos Bombeiros de Felgueiras, numa raridade fotográfica fixada diante da igreja do santuário de Santa Quitéria, em tempos que lá vão há muito... Em cujo conjunto reconhece o autor a figura do sr. Antoninho Gonçalves, da Longra, que foi condutor dos Bombeiros e eletricista da Câmara Municipal (do lado esquerdo da foto, na fila da frente).

Seguidamente, noutra  visualização, junta-se (em plano mais em baixo), uma foto do fundador da Mit e sucessora Metalúrgica da Longra, sr. Américo Martins.

Isto simplesmente em breves exemplos possíveis de fazer vislumbrar memórias de personagens e instituições de cariz felgueirense.


© Armando Pinto 

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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Memórias Coletivas de Rande e Região Sul de Felgueiras


A memória coletiva, na generalidade, é partilhada, transmitida e também construída pelo grupo ou sociedade em que todos nos inserimos. Distinguindo-se da memória individual, por dizer respeito a toda a comunidade ao redor.


Baseada na transmissão oral dos saberes necessários ao trabalho e à vida em grupo, mesmo novas  e velhas ocupações, a memória registada demanda meios atinentes à salvaguarda de memorizações de interesse para o conhecimento de modos de ser antepassados.

= Sr. Luís Gonçalves = 

Na atualidade, o conceito e sobretudo o funcionamento da memória ganhou importantes suportes das ciências físicas e biológicas. Os estudos envolvem necessariamente conceitos de retenção, esquecimento e seleção. Como elaboração a partir de variadíssimos estímulos, pois a memória é sempre uma construção feita no presente a partir de vivências e experiências ocorridas no passado. Relacionando-se a memória ao meio social, em que se articulam relatos individuais ou conjuntos, contribuindo para a compreensão do que engloba a memória coletiva.

= Sr. Luís de Sousa Teixeira = 

Assim, neste ponto de vista, damos agora nota, por este meio, de uns quantos quadros sociais dos que compõem a memória e vêm ao caso, por assim dizer. Desta vez colocando à vista de todos umas imagens de memórias aparentemente mais particulares, mas que contudo remetem a um conceito de grupo. Tratando-se, logo na imagem cimeira, de um grupo de pessoas duma mesma família, em pleno início do século XX, cuja recordação carrega em si uma lembrança interagindo com a sociedade, seus grupos e instituições, no contexto das relações sociais. Sendo essa família, adiante-se, oriunda duma casa de situação remediada algures no lugar do Paço (sem necessidade de se especificar mais, visto então haver lugares chamados de Paço de cima e Paço de baixo), numa prole constituída por numerosos elementos que se distribuíam por diversos lugares de residência da freguesia de Rande, noutros tempos já. Abarcando diversificados estatutos de vida comunitária, tendo ainda alguns desses elementos desempenhado papel de algum relevo local e tido sucessores mais ou menos salientes.

= Padre Luís de Sousa Rodrigues = 

Alastrando uma rememoração deste género, no contexto dos diferentes grupos com que nos relacionamos no estudo memorial, como conterrâneos, podemos também impregnar algo mais das memórias dos que nos cercam em antiga ligação à terra, de maneira que, ainda que não estejamos em presença destes, o nosso lembrar e as maneiras como percebemos e vemos o que nos cerca, se constituem a partir do que representaram, numa unidade que também é nossa. Nesse sentido de comunidade afetiva, lembramos também individualmente alguns personagens de quadros de referências. Tal qual personagens anónimas, como paradigmas visuais de antigas diversões e afazeres. Bem quanto outras pessoas conhecidas, vindo ao acaso, por exemplo, as figuras de uns senhores como Luís Gonçalves, arquiteto de várias construções conhecidas, como a Casa das Torres em Felgueiras, tal como a casa do Montebelo e o edifício da Casa do Povo, na Longra; também Luís de Sousa Teixeira, patriarca da Casa da Quinta, o qual se salientou especialmente como benfeitor e mesário da Misericórdia do Unhão e por ter mandado edificar as capelas do monte de Santana, no alto de Rande; mais o Padre Luís Rodrigues, sacerdote natural de Rande e que foi um célebre reitor da igreja da Lapa, do Porto, mas sobremaneira célebre compositor de música sacra, entre outros dotes; até ao Padre João Ferreira da Silva, saudoso Pároco de Rande e Sernande desde 1943 até 1973, quando faleceu.

= Padre João Ferreira da Silva = 

Ora, para já ficamos por aqui, desta feita, nestas rememorações que tais. Em mais um exercício atinente à elevação da memória coletiva, no intuito de contribuir para o sentimento de pertinência a um grupo de passado comum, qual garante do sentimento de identidade imortalizada numa memória compartilhada, não só no campo histórico, mas outrotanto no campo simbólico.

E por ora basta, até mais ver… 

© Armando Pinto 

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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Recortes de Imprensa - Colaboração no Semanário de Felgueiras


Tal como aqui temos vindo a dar nota de artigos entretanto publicados e no seguimento da atividade publicista do autor, colocamos agora dois recortes da colaboração ao jornal Semanário de Felgueiras, reportando à edição da presente sexta-feira. 

Assim sendo, aqui ficam duas peças jornalísticas do autor, com lugar mais recente no SF. Cujos textos se podem ver nas imagens (e ler após ampliação), em recortes visuais da própria edição desta sexta-feira dia 12 de Outubro. 

Eis aí, então: 

Primeiro uma pequena nota noticiosa, inserta na página 5 da edição de papel do referido jornal felgueirense...


...e depois um artigo, da habitual crónica desenvolvida, integrante da página 10 do mesmo SF.


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© ARMANDO PINTO


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Felgueiras nos Caminhos de Santiago - Variantes Locais do Caminho Português no Douro Litoral e Entre Douro e Minho


Nas muitas afinidades e influências mútuas do noroeste peninsular, mais propriamente da Galiza e Entre Douro e Minho, por entre velho sentimento religioso e tradições seculares comuns, há ligação refletida na devoção ao santo evangelizador da Península Ibérica e nos Caminhos de antiga peregrinação ao seu santuário de Compostela. 

Desde que, em 814, foi descoberto o local da sepultura do corpo do Apóstolo S. Tiago, conforme se diz, na Galiza, e erigido em sua honra o santuário que passou a albergar o alusivo túmulo, aquele sítio galego transformou-se numa verdadeira encruzilhada ou entroncamento de povos, entre os quais os portugueses. Como peregrinos, esses andarilhos iam de terra em terra, com passagens em sítios tradicionais propiciadores de caminhos e fontes, e breves paragens em albergarias e santuários, juntando diferentes costumes e culturas, reunindo poetas e cantadores, num cenário exuberante de movimento, cujo efeito se fez também sentir em parcelas do concelho de Felgueiras. 

Emerge, no caso comum, parentesco ganho com a interligação resultante das peregrinações enraizadas por séculos de história. Com efeito, dos fenómenos sociais acontecidos ao longo dos tempos, aquelas peregrinações em demanda de Compostela, para visitar o túmulo do Apóstolo, marcaram profundamente a história e carácter da região. E os respetivos itinerários de passagem, tornados conhecidos por Caminhos de Santiago, há séculos que transportam povos e terras, desde a Idade Média, a chegar onde perdura a memória feita gente, com história e crenças moldadas nos símbolos que estão associados à sua perceção.


= S. Tiago, Padroeiro de Rande – exemplar de estatuária sacra do século XIII, com vestes e adereços de peregrino. = 

Há uma linha familiar com que o falar nortenho do “pobo” português manteve laços à maneira galega de expressão (mantendo-se popularmente no interior minhoto-duriense o b, em vez de v, como réstia da antiga cumplicidade, enquanto o mesmo b se mantém oficialmente na língua tradicional da terra céltica galega). Na mesma ideia, por assim dizer, os Caminhos de Santiago permanecem no subconsciente, bem vincados na tradição – e que o digam os poetas luso-galaicos, os etnógrafos ibéricos, os historiadores nortenhos – a partir da resistência mútua dos povos entre o Cantábrico e o rio Douro, até às viagens através de ancestrais calçadas a lajedo, que ficaram como marcos milenares de encurtamento das distâncias e fatores de unidade. 


= Itinerários dos Caminhos de Santiago em Felgueiras - pormenor ampliado do mapa abaixo publicado.

S. Tiago, evangelizador da Ibéria, foi o primeiro Apóstolo mártir e, no decurso dos tempos, o primeiro Padroeiro do reino de Portugal. Como tal aquela ideia de peregrinação ganhou contornos especiais, afeiçoada a sua devoção com lendária ajuda espiritual na guerra cristã contra os mouros. Vindo a ressaltar influência no desenvolvimento de acessos e outras condições a povoamentos locais, ante a passagem dos peregrinos forasteiros, quando foram empedrados caminhos necessários e restauradas antigas vias romanas, criadas igrejas, hospedarias e inerentes acondicionamentos, canalizando a enorme afluência humana, através de cujas sucessões se criaram pequenos priorados na passagem e comunidades que escolheram o santo para orago (conf. anotado no “Memorial Histórico...”).

= Imagem de S. Tiago, com a palma de seu martírio, em pintura no teto da igreja paroquial de Rande. =

As terras de Felgueiras também sentiram esse surto que é tido por património histórico e humano de muitas regiões afins. Dos Caminhos Portugueses para Santiago de Compostela havia vários trajetos, entre os quais alguns confluíam nesta zona por meio de caminhos antigos, que permitiam aos peregrinos seguirem na direção da Via Láctea – com passagem ao sul, do concelho de Felgueiras, por Rande ou próximo também, rumo que seguiam os que atravessavam o Douro na região de Entre-os-Rios e vinham por Penafiel ao extremo do atual concelho de Lousada, por Cernadelo; e mais a norte em Sendim (onde no correspondente percurso, junto de antigo caminho e hoje estrada bifurcada com um arruamento, próximo ao solar de Sergude, há uma popular capelinha alusiva com imagem de S. Tiago), pois que havia outros trajetos usados na região, provindos de Riba-Tâmega; e todos eles normalmente ligando a Pombeiro, em demanda do Baixo Minho. 

Assim, não está correta a sinalização recente, ilustrada com logotipo da estrela alusiva e, colocada em finais do século XX, em placas ou painéis patentes junto a estradas nacionais, já que os verdadeiros Caminhos iam por atalhos de outrora, de que ficaram réstias, como de facto se verifica nas velhas calçadas de Caramos, Rande e via romana de Pombeiro.

= Mapa dos caminhos de Santiago que passaram pela atual área da Diocese do Porto (pois que até 1881 as paróquias de Felgueiras, entre outros casos, foram da Arquidiocese de Braga). =

A tradição dessa estrada de fé, dos roteiros percorridos pelos viajantes de bordão e vieiras, noutras eras, imprime, muito para além da penitência e fé indulgente, tal qual a orientação antiga dos caminhantes pelas estrelas da galáxia, um rasto de magia cultural, uma mão cheia de recordações existenciais de tempos e modos do imaginário coletivo. 

== Atualização de crónica publicada no Semanário de Felgueiras (em artigo inserto na edição respetiva de 23/7/1999). 

*** ***

Sobre o assunto registamos no livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras”, publicado em 1997, diverso material respeitante, ao logo de algumas folhas, desde a página 102 até à 109 desse volume. Porque nem todas as pessoas interessadas nestas matérias terão tido conhecimento ou pelo menos oportunidade de conhecer o conteúdo desse livro, colocamos aqui, para os devidos efeitos, quatro dessas páginas, como complemento ilustrativo.





Armando Pinto 

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Recordações Visuais do Original Museu Etnográfico da Associação Casa do Povo da Longra - Felgueiras


Correndo cortinas do passado, calha vez, desta feita, de aqui se recordar em imagens alguns aspetos do antigo Museu Etnográfico da Casa do Povo da Longra, que havia sido instituído definitivamente (como se pensava) como exposição museológica permanente, em Junho de 1999. Mas que posteriormente, a partir de 2007, foi reduzido. 

Essa realização surgira a partir duma primeira exposição efetuada em Abril de 1995, através da então denominada Exposição da Memória Etnográfica da Longra. Havendo tido seguimento, volvidos alguns anos, por meio de uma maior exposição ocorrida aquando da comemoração do 60º aniversário da Casa do Povo, em Abril de 1999. Continuando de imediato a instalação em espaço próprio, quão ficou organizado para permanecer assim logo no seguinte mês de Junho de 1999. Após a saída do Presidente da Associação que havia criado o mesmo museu, esse espaço, que antes ocupava três salas, foi encurtado pela nova Direção para um pequeno compartimento e corredor de acesso.


De tal antiga área museológica, que dava para juntar em pose muita gente e recebia visitas de muitas pessoas que cabiam juntas, ao mesmo tempo (como se pode ver por algumas fotografias), onde havia numeroso espólio então existente, deixamos aqui para memória perene diversas recordações visuais, contando panorâmicas possíveis e pormenores mais curiosos e interessantes, do genuíno museu de material recolhido nos primeiros anos do Rancho Folclórico Infantil e Juvenil da Casa do Povo da Longra.








© ARMANDO PINTO

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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Felgueiras no 5 de Outubro de 1910… em artigo no SF.


Em mais uma sequência de nossa colaboração publicista, damos desta vez conta do artigo que faz parte do número atual do jornal Semanário de Felgueiras, distribuído publicamente nesta quinta-feira, atendendo ao feriado de amanhã - por sinal este ano assinalado pela última vez a nível nacional, por imposição da nova vaga política reinol.


Assim, partilhamos aqui a respetiva coluna, para conhecimento de eventuais interessados sobre a crónica impressa na edição correspondente à sexta-feira, dia 5 de Outubro.

(Clicar sobre o recorte digitalizado, para ampliar) 

Do mesmo trabalho, para facilitar a leitura, juntamos o texto original: 

Felgueiras e o 5 de Outubro… 

Entrado Outubro no calendário, depara-se a chegada do tempo incerto outonal, como que saudoso de melhores dias, enquanto no meio ambiente tal nostalgia se contagia pelas troikas e baldrocas do estado do país. No qual, ainda antes do cair das folhas, este ano se comemora o feriado do 5 de Outubro, da implantação da República que a atual geração política não aprecia muito, pelos vistos. 

Ora, essa efeméride, que afinal de contas devia dizer algo aos portugueses, tem também laços afetivos a Felgueiras, como acontecimento em que esteve presente certa colaboração conterrânea à transformação acontecida em 1910. Uma data histórica bem paradigmática de profunda transformação na vida nacional, quer a nível político pela mudança do cetro monárquico para o regime constitucional republicano, bem como a nível social por via do desenvolvimento surgido, segundo se notou na evolução repentina. Aí Felgueiras também teve, enfim, ligação a esse movimento da implantação da República: No terreno por meio da ativa participação de João Sarmento Pimentel, então jovem que apesar de ser transmontano de nascimento era Felgueirense de residência, atendendo à sua estada mais regular em Felgueiras, habitante que foi na casa-mãe da sua família (solar da Torre, em Rande). E através de contribuição logística do Felgueirense Dr. António Pinto de Sampaio e Castro, político local de ideias republicanas. 

Com efeito João Pimentel, como Cadete da Escola do Exército, tomou parte ativa incorporando-se com armas na decisiva batalha da Rotunda, em Lisboa, dando o corpo ao manifesto da revolta do 5 de Outubro que implantou a Republica em Portugal. O Dr. António Sampaio Castro, personagem muito respeitado, contribuiu no movimento a modos que anonimamente, atuando na clandestinidade durante o último período da Monarquia. Sendo assim o Dr. António Castro grande ativista político e amigo de João Sarmento Pimentel, ficou no conhecimento popular que o Cadete Militar, João da Torre, levara para Lisboa artesanais bombas feitas na Longra, na Casa do Dr. Castro, na Leira, de Rande (onde residia, embora oriundo de família da Casa de Moinhos, do Unhão), pelo que se tornou lendário que algumas das primitivas cargas usadas na implantação da República foram originárias de Felgueiras. 

Ora, no longínquo 1910, por tal motivo o Dr. Luís Gonzaga Fonseca Moreira, figura de prestígio local e amigo dos dois personagens republicanos em apreço, escreveu no jornal de Felgueiras desse tempo a novidade, transmitida com grande ênfase a dar conta da participação do então Cadete João Pimentel no 5 de Outubro, conforme notícia inserta nesse Outono no periódico concelhio sob título “Um Bravo”. A vitória do 5 de Outubro foi mesmo aclamada publicamente na vila de Felgueiras, em frente ao edifício onde funcionavam na época os Paços do Concelho, largo que por esse facto ficou durante longas décadas denominado como Praça 5 de Outubro (até que estranhamente o nome foi alterado em 1993 para Praça do Foral). 

Depois sobre o Dr. António Castro, então Conservador concelhio, recaiu escolha para Administrador do Concelho após a implantação da República, sendo ao mesmo tempo Conservador do Registo Civil de Felgueiras. Desempenhava as funções de Administrador quando, anos volvidos, se deu o levantamento oposicionista da Traulitânia que impôs a Monarquia do Norte, em finais de 1918. Então manteve-se fiel à Republica e, apesar de pressionado para se demitir, resistiu e fez com que tudo se mantivesse normalizado, pelo que foi muito vitoriado aquando da derrota desse efémero regime. Mal se soube do movimento liderado por João e (seu irmão felgueirense) Francisco Sarmento Pimentel, na restauração da República no Porto, a 13 de Fevereiro de 1919, juntou-se muito povo em Felgueiras, no Largo 5 de Outubro, em frente ao “Registo”, numa manifestação popular de júbilo pelo importante protagonismo conterrâneo no derrube do regime de Couceiro e aplauso pela atitude firme do Dr. António Castro... 

Mas isso são já outras histórias, importando agora focar ter havido contribuição felgueirense na causa republicana, qual certeza que houve e há cá dentro gente digna de honrosa memoração. 

ARMANDO PINTO 

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terça-feira, 2 de outubro de 2012

Centenário do Falecimento de Guilhermina Mendonça, a “Menina de Rande” de nossa devoção popular na região…


Como com antecedência lembramos num artigo publicado no jornal Semanário de Felgueiras, relembramos que ocorreu recentemente a passagem de cem anos do falecimento da Menina Guilhermina de Rande. Facto que agora trazemos para este espaço, como sítio que de alguma forma serve para focar sentimentos que vão e estão na alma. 

A efeméride desse centenário, desde que partiu para o Pai Celeste essa Menina considerada santa popularmente, foi assinalada na proximidade através duma ação particular, em romagem efetuada pela Turma de Catequese de Rande e Sernande que este ano fez a Festa da Vida, indo em grupo, numa iniciativa dos respetivos catequistas, orar até ao jazigo-capela da Menina de Rande.


Na ocasião foram lidas passagens de seu registo biográfico, do livro “Memorial Histórico de Rande e Alfozes de Felgueiras” – onde consta entre as páginas 281 até à 289, desse volume historiador que escrevemos e foi finalmente publicado em 1997. 

Recorde-se que Maria Guilhermina de Barbosa Mendonça nasceu a 16 de Outubro de 1889, na Casa de Rande, da freguesia do mesmo nome, e morreu em 2 de Setembro de 1912, sendo sepultada em jazigo de família, no cemitério paroquial de Rande, concelho de Felgueiras. 

Em ilustração desta nota de referência, juntamos imagens insertas na referida biografia, que falam por si e escusamos de legendar por integrarem as páginas do mesmo livro da história da região.


a) Armando Pinto 

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